Grupo de extrema-direita queria repetir ataques da Nova Zelândia na Alemanha

A polícia alemã deteve 12 homens na sexta-feira, com ligações à extrema-direita, que planeavam ataques em grande escala a mesquitas na Alemanha.

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Manifestação do movimento de extrema-direita e anti-islâmico PEGIDA, em Dresden FILIP SINGER/LUSA

Membros de um grupo com ligações à extrema-direita alemã, que foram detidos na semana passada, vinham a planear vários ataques em massa a mesquitas na Alemanha, segundo revelaram investigações das autoridades germânicas.

Na sexta-feira passada, a polícia deteve 12 homens durante rusgas no país, no âmbito de uma larga investigação de contraterrorismo. Posteriormente, levaram a cabo investigações que revelaram que os suspeitos, com ligações à extrema-direita, planeavam ataques em grande escala a mesquitas na Alemanha. Já durante o fim-de-semana, a imprensa local divulgou que o grupo pretendia realizar vários ataques, em simultâneo, contra muçulmanos durante momentos de oração — à semelhança dos ataques a duas mesquitas, em Março do ano passado, em Christchurch (Nova Zelândia), que provocaram a morte a 51 pessoas.

No sábado, um juiz federal decretou que os homens permanecessem detidos, enquanto as autoridades prosseguem com as investigações. Os procuradores alemães revelaram, por sua vez, citados pelo New York Times, que os suspeitos pretendiam levar a cabo atentados “contra políticos, requerentes de asilo e muçulmanos”, de forma a provocar uma espécie de guerra civil”.

“É chocante o que foi aqui revelado, de que há células aqui que aparentam ter-se radicalizado em tão pouco tempo”, afirmou esta segunda-feira o porta-voz do ministério do Interior alemão, Björn Grünewälder, numa conferência de imprensa em Berlim.

“É a função do Estado e, claro, deste Governo, proteger o livre exercício da religião neste país” independentemente de que “religião possa ser”, referiu, por sua vez, o porta-voz da chanceler Angela Merkel, Steffen Seibert, citado pelo Guardian.

“Qualquer pessoa que pratique a sua religião na Alemanha, dentro da nossa ordem legal, deve poder fazê-lo sem estar em perigo ou sob ameaça”, acrescentou Seibert.

“The Hard Core”

Segundo a imprensa local, o grupo planeava usar armas semiautomáticas nos ataques, pelo que as autoridades germânicas lançaram operações de buscas para confirmar se os suspeitos tinham na sua posse armas ou outros suprimentos que pudessem ser usados durante os ataques.

O alegado líder do grupo, de 53 anos, estava já no radar das autoridades há vários meses e foi detido na sexta-feira, acusado de criar e apoiar uma “organização terrorista de extrema-direita”, segundo o New York Times. Além disso, a polícia teria vindo também a acompanhar os encontros e reuniões do suspeito e a monitorizar as suas conversas e participações em fóruns online.

No entanto, terá sido durante uma reunião com os seus cúmplices, na semana passada, que o líder do grupo revelou detalhes sobre os planos. Tais informações terão sido depois transmitidas às autoridades por uma pessoa que se infiltrou no grupo.

De acordo com o semanário Welt am Sonntag, o grupo auto-intitulava-se de “The Hard Core” (“O núcleo duro”, numa tradução livre) e tinha ligações a um grupo supremacista branco chamado ​Soldiers of Odin, fundado na Finlândia em 2015.

24.100 “extremistas de direita” na Alemanha

Ao longo dos últimos meses, as autoridades alemãs têm vindo a investigar os grupos organizados de apoio à extrema-direita, principalmente após o assassinato, em Junho, do político democrata-cristão Walter Lübcke e o atentado anti-semita, em Outubro, junto a uma sinagoga na cidade de Halle, no Leste do país, que provocou a morte a duas pessoas.

Os serviços de informações alemães estimam, citados pela Al Jazira, que existem cerca de 24.100 “extremistas de direita” no país, metade dos quais potencialmente violentos. Segundo dados do Governo alemão, divulgados pela mesma emissora televisiva, nos primeiros meses de 2019 registaram-se quase nove mil ataques perpetrados por grupos e indivíduos de extrema-direita — o que representa um aumento de quase mil ataques comparativamente ao mesmo período do ano anterior.

Ao mesmo tempo, o avanço da extrema-direita na Alemanha tem sido motivo de preocupação, principalmente depois de a CDU e os liberais do FDP se terem aliado ao partido de direita radical Alternativa para a Alemanha (AfD​) para eleger o chefe de governo da Turíngia, no Leste da Alemanha — uma jogada que Merkel classificou de “imperdoável”.

No mês passado, a polícia alemã anunciou também a realização de buscas, em Berlim e em mais três estados, a suspeitos de planear um ataque terrorista. Os suspeitos, de origem tchetchena e com ligações a movimentos islamistas, teriam como um dos seus possíveis alvos uma sinagoga em Berlim e centros comerciais.

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