Marega: uma lesão mais violenta do que qualquer rutura de ligamentos
O campeão mundial de Judo Jorge Fonseca diz que “algo tem de ser feito e já”.
Ironia. Ontem, enquanto o Marega abandonava o jogo, vítima de racismo, eu estava a jogar uril em casa da minha amiga e agente, casada com um cabo-verdiano, e mãe de dois filhos que espelham a esperança que tenho na humanidade. É nestes dois miúdos que eu quero acreditar, e acredito, mas hoje, ironia, tenho de recuar quando me pedem para partilhar a minha opinião sobre um caso de racismo no desporto. Mais um.
Hesitei em falar sobre o tema, porque acredito que falar sobre racismo é alimentar o assunto, é dar protagonismo a quem não merece, mas por estes dois miúdos, pelos meus filhos, pelos vossos filhos, quebro o silêncio.
Vergonha é a palavra que resume a noite de ontem e o que se passou naquele estádio. Há limites para tudo e Marega mostrou exatamente isso e fez história pela coragem de dizer “já chega” e tornar-se num dos primeiras atletas a abandonar um jogo e, desta vez, a causa não foi uma lesão física, foi uma lesão moral, de ética, de respeito. Uma lesão mais violenta do que qualquer rutura de ligamentos. Marega percebeu isso e percebeu que era o momento de gritar basta, mesmo sem apoio de qualquer jogador, ele abandonou o campo. Não foi sozinho, eu estava lá com ele e, acredito, que muitos portugueses que estão solidários com ele. Estou agora curioso para saber onde vão acabar estas mensagens de apoio e de solidariedade contra estes atos de racismo.
Mudar as leis? Mudar o sistema de educação, nas escolas? Identificar os adeptos e fechá-los numa esquadra durante os jogos (como acontece no Reino Unido)? Pagar multas? A solução não sei qual é, mas algo tem de ser feito e já.
O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico