O plástico e um mundo às avessas: dois livros portugueses distinguidos na Feira do Livro de Bolonha

Um fala sobre os plásticos, outro é uma história surreal virada de pernas para o ar. As obras da bióloga Ana Pêgo e do ilustrador Gonçalo Viana recebem menções do júri na Feira do Livro Infantil e Juvenil de Bolonha, Itália.

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Os livros ilustrados portugueses Plasticus Maritimus e Troca-Tintas foram distinguidos pela Feira do Livro Infantil e Juvenil de Bolonha, em Itália. O anúncio antecipa-se à 57.ª edição da feira, que se realiza de 30 de Março a 2 de Abril, no centro de exposições BolognaFiere. 

Plasticus Maritimus, uma espécie invasora, da bióloga Ana Pêgo e da escritora Isabel Minhós Martins, ilustrado por Bernardo P. Carvalho, recebeu uma menção na categoria de melhor livro de não-ficção para a infância e juventude. Já Troca-Tintas, de Gonçalo Viana, obteve uma menção do júri na categoria de Opera Prima.

Anualmente, a Feira do Livro Infantil e Juvenil de Bolonha distingue os melhores livros editados em todo o mundo, em diferentes categorias, como ficção, não-ficção e, pela primeira vez este ano, banda-desenhada. Nesta edição, o júri analisou mais de 1800 livros de 41 países.

Sobre Plasticus Maritimus, uma espécie invasora, o júri destaca a variedade de técnicas e “o formato único” do guia de campo sobre activismo e criatividade. Na obra, a autoras deixam ainda conselhos práticos para uma “saída de campo”, para recolha de lixo, e enumeram tipos de “plasticus maritimus” comuns e raros que se encontram nas praias, como beatas de cigarro, palhinhas, cotonetes, pequenos brinquedos, moedas e lancetas de diabéticos. Editado pela Planeta Tangerina, é um livro informativo sobre a poluição marinha e um guia de exploração, para os leitores que queiram identificar, recolher, coleccionar e ajudar a eliminar o plástico marinho. Inspirada na nomenclatura científica que identifica as espécies na natureza, a bióloga Ana Pêgo criou em 2015 um bilhete de identidade para designar a presença de plástico nos oceanos, espécie invasora que denominou como Plasticus Maritimus. A partir daí, desenvolveu um projecto de consciencialização para o problema, com a realização de oficinas para crianças, exposições com o plástico recolhido em praias e partilha de informações com outros activistas.

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<i>Plasticus Maritimus</i>

Para Isabel Minhós Martins e Bernardo P. Carvalho, este é um novo reconhecimento por parte da feira, uma vez que, em 2019, o livro Atlas das viagens e dos exploradores, assinado por ambos, foi eleito o melhor na categoria de não-ficção.

Troca-Tintas, distinguido no prémio para primeiras obras, é elogiado pelo júri pelo estilo “fresco, distinto e ousado, conseguido de forma impressiva para uma estreia”. Com selo da Orfeu Negro, é um livro para a infância sobre a percepção da realidade, quando se mudam as cores habituais das paisagens e dos objectos. A narrativa segue dois amigos num mundo às avessas, em que as árvores têm a copa branca e as nuvens são verdes, numa paisagem desarrumada que baralha as pessoas. É a estreia de Gonçalo Viana como autor em nome próprio — assinado a ilustração e o texto —, depois de ter ilustrado Os livros do rei e Parece um pássaro, ambos de David Machado, O toiro azul, de Manuela Costa Ribeiro, e Esqueci-me como se chama, de Daniil Harms.

Formado em Arquitectura, Gonçalo Viana dedica-se em exclusivo à ilustração, tanto para a imprensa portuguesa e estrangeira como para álbum ilustrado. Em 2008, recebeu o Grande Prémio Stuart de Desenho de Imprensa. Troca-Tintas já serviu de inspiração para o espectáculo A Árvore Branca, criado e interpretado por Raimundo Cosme para crianças pré-leitoras, em cena até domingo no teatro Lu.Ca, em Lisboa, seguindo depois em itinerância por outras cidades.

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<i>Troca-Tintas</i>

A Planeta Tangerina, fundada também pelos autores Madalena Matoso, Bernardo P. Carvalho e Yara Kono — todos eles Prémio Nacional de Ilustração —, foi já eleita em Bolonha a melhor editora da Europa de literatura para a infância e juventude, distinção anunciada em 2013.