Coronavírus: “quarentena obrigatória” para advogado que mostrou falhas em hospitais
Os relatos de Chen Qiushi mostravam as dificuldades das autoridades chinesas em combater o vírus. Está desaparecido desde quinta-feira. Governo acusado de o querer silenciar.
Um cidadão chinês que tem divulgado informação sobre o trabalho das autoridades chinesas em Wuhan, a cidade onde teve origem o surto do novo coronavírus (conhecido como 2019-nCoV), está desaparecido desde a noite de quinta-feira. O advogado Chen Qiushi, conhecido por fazer denúncias de questões sociais nas redes sociais, terá sido colocado em “quarentena forçada”. Pelo menos foi esta a informação que a mãe de Chen recebeu por parte das autoridades chinesas, escreve a CNN.
“A mãe perguntou de imediato para onde e quando ele tinha sido levado, mas recusaram-se a dizer”, explicou Xu Xiaodong, um amigo da família. Chen chegou a Wuhan, na província de Hubei, no dia 24 de Janeiro, um dia após as autoridades terem colocado toda a cidade sob quarentena. Através de vídeos publicados no Youtube, o homem de 34 anos mostrou as dificuldades que o Governo chinês enfrenta para controlar o vírus. Chen visitou casas funerárias, mostrou as falhas nos hospitais e a falta de medicamentos para travar a propagação do coronavírus. Os amigos temiam que a exposição destes problemas pudesse levar à detenção do advogado.
Os amigos entravam em contacto com ele frequentemente para garantir que o advogado se encontrava em segurança. Na noite de quinta-feira, Chen não atendeu qualquer chamada, com os familiares a temer o pior. Na manhã de sexta-feira, um dos amigos publicou um vídeo da mãe de Chen no Twitter. A mulher dava conta do desaparecimento do filho, pedindo auxílio a quem está na área onde ele se encontrava. “Estou aqui para implorar a todos os que estejam online, especialmente amigos em Wuhan, para ajudarem a encontrar o Quishi e descobrir o que lhe aconteceu”, apelou a mãe do advogado.
O isolamento forçado de Chen Qiushi tornou-se viral no Weibo, uma rede social chinesa semelhante ao Twitter, com muitos utilizadores a pedir ao Governo que libertem o advogado. As credenciais de acesso às suas páginas estão na posse de amigos que tomarão conta das redes sociais do advogado enquanto não for conhecido o seu paradeiro.
Chen é conhecido por denunciar questões sociais e já teve no passado problemas com as autoridades chinesas. Em Agosto, enquanto fazia reportagens sobre os confrontos entre polícia e manifestantes em Hong Kong, questionou a narrativa do Governo chinês que rotulava os manifestantes como “vândalos” e “separatistas”. Nos vídeos que fez, afirmou que a maioria das pessoas que se manifestavam o fazia de forma pacífica.
Foi obrigado a regressar a Pequim, onde foi interrogado pelas autoridades chinesas. As contas que possuía nas redes sociais foram apagadas, com o advogado a perder mais de 700 mil subscritores.
Este caso ocorre pouco tempo após a morte de Li Wenliang, um dos médicos chineses que tentou alertar a comunidade médica para a possibilidade de se estar perante um novo vírus quando apareceram os primeiros casos de pneumonia atípica em Wuhan. O oftalmologista foi acusado de ter “espalhado rumores” e investigado pelas autoridades chinesas. Morreu no sábado às 2h58.