China admite “lacunas” na resposta ao novo coronavírus
Número de mortes em todo o mundo aumenta para 427. Casinos de Macau fechados durante duas semanas. Bélgica regista o primeiro caso de infecção: uma mulher que não apresentava sintomas. OMS diz que coronavírus ainda não é uma pandemia.
Depois de ter sido alvo de críticas de vários países, Pequim admitiu, nesta terça-feira, ter necessidade de “melhorar o sistema nacional de gestão de emergências” ao não ter sabido lidar da melhor forma com o início do surto do novo coronavírus. O número de mortos na China subiu para 425, de acordo com o último balanço divulgado pelas autoridades de saúde chinesas nesta terça-feira.
Após uma reunião do Comité Permanente do Politburo, o órgão mais poderoso da política chinesa, presidido por Xi Jinping, Pequim admitiu que eram necessárias melhorias depois das “lacunas e dificuldades expostas na resposta à epidemia”, cita a agência noticiosa estatal Xinhua. “Precisamos de melhorar o nosso sistema de gestão de emergência e melhorar as nossas capacidades de levar a cabo tarefas urgentes e perigosas.”
“É preciso aumentar a supervisão em mercados, e banir e punir os mercados de vida selvagem”, acrescenta a mesma notícia, citada pela BBC.
Já na segunda-feira, o Governo chinês tinha admitido algumas carências provocadas pelo novo surto de coronavírus (conhecido como 2019-nCoV): falta equipamento médico, máscaras cirúrgicas, fatos e óculos de protecção.
Apesar de as fábricas chinesas serem capazes de produzir 20 milhões de máscaras de protecção por dia, estão apenas a operar a 60%-70% da sua capacidade devido às férias do Ano Novo chinês — e não estão a conseguir responder à procura, especialmente depois de várias províncias terem decretado, nas últimas semanas, o uso obrigatório de máscaras.
OMS descarta pandemia. Taxa de mortalidade é de 2,1%
“Actualmente, não estamos em situação de pandemia” esclarece Sylvie Briand, directora do departamento de preparação global para os riscos infecciosos da Organização Mundial de Saúde, em declarações aos meios de comunicação presentes. O termo aplica-se a uma situação de disseminação global de uma doença, que, por enquanto, é descartada pela OMS.
O número de mortos voltou a aumentar nesta terça-feira. Das 425 mortes registadas desde o fim de Dezembro na China, 414 ocorreram na província de Hubei, onde nesta terça-feira se registou um recorde de mortes num só dia: 64.
Hong Kong registou a primeira morte por coronavírus. A vítima era um homem de 39 anos que já tinha problemas de saúde. De acordo com as autoridades do território, o homem viajou de comboio para Wuhan, centro do surto de 2019-nCoV, no dia 21 de Janeiro, e voltou para Hong Kong a 23 de Janeiro. A emissora pública de Hong Kong, RTHK, indicou que, na semana passada, o homem teve dores musculares e febre. Mais tarde, “foi transferido para uma ala de isolamento após a confirmação do coronavírus”. Contando com essa morte e com a de um cidadão das Filipinas no domingo, o número global de mortes ascende a 427.
O número de infectados também aumentou. São mais de 20 mil infectados só na China. Em termos globais, foram detectados 151 casos em 23 países e regiões — entre eles a Bélgica, o último país a registar um caso positivo de coronavírus. Trata-se de uma mulher, sem sintomas, que fez parte do grupo de nove belgas que foram repatriados, precisa o Le Soir.
O vírus já matou mais na China do que a epidemia de SARS (síndrome respiratória aguda grave). No entanto, a taxa de mortalidade é menor: no caso do novo coronavírus é de 2,1%, de acordo com a Comissão Nacional de Saúde chinesa. Em Hubei, epicentro do surto, a taxa é ligeiramente mais alta: 3,1%. Foi nesta província que se registaram cerca de 97% de todas as mortes. No caso da SARS foi de 10%.
Por comparação, a gripe sazonal tem, por norma, uma taxa de mortalidade inferior a 1% e deverá causar cerca de 400 mil mortes em todo o mundo por ano, de acordo com os dados apresentados pelo The Guardian.
Das mais de 400 mortes confirmadas por coronavírus na China, 80% das vítimas tinham mais de 60 anos e 75% tinham outras doenças que não o coronavírus. Dois terços das vítimas eram do sexo masculino, acrescenta Jiao Yahui, director adjunto da administração estatal de saúde, citado pela CNN.
Em média, um doente precisa de nove dias para recuperar totalmente. Em Hubei, como há mais casos e menos meios para os tratar, o tempo de recuperação é superior: 20 dias.De acordo com os dados da Universidade de Johns Hopkins, nos EUA, que tem estado a actualizar os números relativos a este vírus, 684 pessoas recuperaram depois de terem sido diagnosticadas com o novo coronavírus. A Comissão Nacional de Saúde Chinesa afirma que é possível recuperar de sintomas menos graves em apenas uma semana
Os casos mais graves surgiram em doentes mais velhos. Os registos mostram que a doente mais nova tem apenas um mês de vida e está em condição estável. Há outras crianças infectadas com o novo coronavírus, a maioria em situação estável, escreve o SCMP. Apesar disso, os responsáveis de saúde aconselharam mulheres grávidas e crianças a adoptarem medidas de protecção mais intensas.
Embarcação retida em porto japonês por suspeitas de infecção
Nesta terça-feira, as autoridades japonesas estão a testar os mais de 3700 passageiros e tripulantes do cruzeiro Diamond Princess, que estão impedidos de deixar a embarcação há um dia.
O navio está a servir de local de quarentena no porto de Yokohama, a cerca de uma hora de Tóquio. O alerta foi dado depois de um passageiro que viajou na embarcação em Janeiro ter tido um resultado positivo a um teste ao coronavírus.
De acordo com a Reuters, os passageiros estão a aguardar nos quartos e, de acordo com as imagens nas redes sociais, não há muitos que tentem sair. Todos vão ser submetidos a um teste médico e quem tiver febre ou estiver a sentir-se mal será testado. Só depois disso é que as autoridades vão decidir quem vão deixar sair da embarcação.
Como é que a comunidade internacional está a reagir ao vírus?
Vários países estão a fechar fronteiras ou a proibir a chegada de viajantes que tenham estado na China. É o caso de Taiwan, que vai começar a proibir a chegada de estrangeiros que pisaram território chinês nos últimos 14 dias a partir desta sexta-feira. Esta proibição não se aplica a cidadãos que vivam em Hong Kong ou Macau, disse o ministro dos Negócios Estrangeiros de Taiwan, nesta terça-feira, citado pelo South China Morning Post.
Hong Kong declarou o encerramento das fronteiras na última segunda-feira e Macau pode seguir-lhe os passos. O chefe do executivo de Macau admitiu que o território está a ponderar fechar as fronteiras com a China, mas para já apenas está decidido o encerramento temporário dos casinos, durante duas semanas, na sequência de mais dois casos confirmados do novo coronavírus, um deles uma funcionária de um casino. Macau regista agora dez casos confirmados.
Ho Iat Seng referiu ainda que o encerramento das fronteiras é uma decisão difícil porque tem de avaliar o impacto no fornecimento de alimentos ao território e na rotina diária de muitos residentes de Macau e de muitos trabalhadores do território que vivem na China. O responsável apelou ainda à população para que não saia de casa e “reduza ao máximo as actividades comerciais”, escreve a agência Lusa.
O Consulado-Geral de Portugal em Macau e Hong Kong aconselhou a comunidade portuguesa a seguir as orientações das autoridades do território, no âmbito das medidas de prevenção face ao novo coronavírus chinês.
Os ministros da Saúde dos países do G7 (composto pelos EUA, Alemanha, Japão, Reino Unido, Canadá, França e Itália) tiveram uma reunião por telefone na segunda-feira e decidiram que vão coordenar, em conjunto, as regulações a serem aplicadas aos viajantes, investigação e cooperação com a Organização Mundial da Saúde (OMS). Os EUA já tinham fechado as suas fronteiras a viajantes que tivessem estado na China e ordenado ao corpo diplomático que saísse do país. Pequim acusou Washington de promover e fomentar o pânico ao tomar essa decisão, que vai contra as recomendações da OMS.
Várias nações, como Portugal, retiraram os nacionais das áreas afectadas na China, colocando-os de quarentena à chegada. As autoridades da Malásia e da Tailândia retiraram nesta terça-feira dezenas de cidadãos da cidade chinesa de Wuhan, centro do surto do novo coronavírus, actualmente sob quarentena.
O que se sabe sobre o vírus?
O vírus é uma forma de coronavírus que ainda não tinha sido observada em humanos. Os sintomas mais comuns incluem febre, tosse e dificuldades respiratórias. Em casos mais graves, a infecção pode causar pneumonia, síndrome respiratória aguda grave, falha renal ou até morte, de acordo com a OMS.
De acordo com um estudo publicado na revista científica The Lancet, que analisa pelo menos 99 casos do novo coronavírus tratados no hospital de Jinyintan, em Wuhan, entre 1 e 20 de Janeiro, pelo menos 46 pessoas tinham estado no mercado de peixe de Wuhan. A média da idade dos infectados é 55,5 anos e a maioria eram do sexo masculino. Os sintomas mais comuns são febre e tosse. Pelo menos 11 dos infectados nesse hospital morreram devido à falência de órgãos. Os investigadores concluíram que a infecção afecta mais “homens mais velhos” com outros problemas médicos anteriores.