Costa está de “boa saúde pessoal e política” e não quer ouvir falar de sucessão no PS

O primeiro-ministro socialista fala em projectos de Governo para a próxima década e só no final da legislatura é que decide uma recandidatura à liderança do partido. Para já, empurra a discussão e garante que não está a pensar na reforma.

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António Costa empurra discussões sobre regionalização e a alta velocidade para a próxima legislatura daniel rocha

Na véspera de se assinalarem os cem primeiro dias do mandato, António Costa fez um balanço com o horizonte no final da década. A continuidade de Mário Centeno como ministro das Finanças, o adiamento da discussão sobre a regionalização por causa de Marcelo Rebelo de Sousa, a descentralização, o investimento na ferrovia e o hacker Rui Pinto foram alguns dos temas abordados na entrevista ao Jornal de Notícias publicada neste domingo. No início do seu segundo acto como primeiro-ministro, Costa admite manter-se como líder socialista depois disso. “No final desta legislatura, avaliarei se continuarei a ser a pessoa certa”, diz.

“Mário Centeno já quebrou recordes”

Sobre uma eventual saída do ministro das Finanças para um outro cargo, Costa não se estende, mas admite que Centeno já ultrapassou o período que seria expectável à frente da pasta das Finanças. “Toda a gente sabe que na vida política nada é eterno. Eu também não estarei aqui, seguramente, o resto da minha vida. É normal que as pessoas [hesita] olhem para a vida de uma forma diversa”, observa o primeiro-ministro. Logo a seguir, nota que Centeno já bateu recordes. “Desde o 25 de Abril, nunca tinha havido um ministro das Finanças a cumprir quatro anos de uma legislatura inteira, com excepção do professor Sousa Franco. Todos os outros ministros das finanças fizeram só partes da legislatura e o professor Sousa Franco não continuou na legislatura seguinte. Portanto, o dr. Mário Centeno já bateu esse recorde”, declara.

Sucessão no PS? É cedo para falar disso

E se a potencial saída de Centeno é desvalorizada, o mesmo não se aplica a uma eventual renovação no Largo do Rato. Afastando um debate sobre a sua sucessão na liderança do PS — e com recados para potenciais interessados no lugar do líder socialista —, Costa afirma que não vê “nenhuma razão para a sucessão no PS começar a ser debatida em 2022” e sublinha que está “de boa saúde pessoal e política”. Ainda assim, garante que não está preocupado e afirma que enquanto líder do PS tem procurado “criar as melhores condições para que os diferentes quadros do partido se possam afirmar”. O resto caberá a cada um, dependendo “da sua vontade, da sua capacidade de terem ou não a ‘estrelinha’.” Apesar de considerar a discussão “manifestamente prematura”, Costa antecipa que considera “improvável” manter-se na liderança do PS até 2030. Mas mesmo depois disso, o primeiro-ministro tenciona continuar na política “até aos 70 anos”, sem especificar em que outros cenários isso poderá acontecer.

Cativações ajudam a prevenir “surpresas” na economia

“Não há economia em processo de aceleração constante. A gestão que fizemos, fazemos e faremos do quadro orçamental incorpora naturalmente uma evolução dos riscos. As pessoas muitas vezes criticam a existência de cativações. As cativações são precisamente uma prevenção para o que possa acontecer ao longo do ano. Temos de ter em conta aquilo que pode correr menos bem, sobretudo numa economia cada vez mais assente em exportações. Não ignoramos os riscos que podem existir e isso só recomenda, sobretudo no primeiro ano de legislatura, que não nos metamos em aventuras e não demos passos maiores que a perna.”

Ana Gomes a Presidente? PS só fala quando houver candidatos

António Costa prefere não se pronunciar sobre candidatos às eleições presidenciais do próximo ano e diz que “em altura própria” o partido fará essa avaliação. Mas assume que “não há grande ansiedade no PS” em torno do assunto. Sobre uma eventual candidatura da ex-eurodeputada socialista Ana Gomes, Costa considera que é “uma questão ultrapassada”, por considerar que a própria descartou entrar na corrida a Belém. No entanto, destaca o “sentimento de aprovação clara do país” em relação a Marcelo Rebelo de Sousa. “Diria que há 99% de possibilidades de o actual Presidente, apresentando-se como candidato, vir a ser reeleito.” Já se Marcelo não se recandidatar a mais um mandato, aí “fica tudo em aberto”.

“A justiça dirá se Rui Pinto é um herói ou um criminoso”

Sobre o caso Luanda Leaks e o papel de Rui Pinto na divulgação dos documentos que levaram à abertura da investigaçãoo primeiro-ministro considera que a legislação já tem várias medidas que protegem o estatuto de denunciante. “A legislação já valoriza significativamente a colaboração com a justiça, mesmo por parte de quem cometeu algum crime”, diz. Costa considera ainda que “as vicissitudes judiciais que atingem a engenheira Isabel dos Santos não têm impacto na actividade económica das empresas de que é titular”. “Se as participações estão arrestadas haverá um administrador judicial que exerça os direitos próprios da titular”, diz.

Alta velocidade irá chegar a Portugal (mas vai demorar)

Apesar de afirmar que está em execução a obra ferroviária do século, Costa avisa que os resultados irão demorar e que é um trabalho que tem e terá de ter “sequências durante esta década e nas próximas”. E não esconde: a alta velocidade vai demorar a chegar. “Tenho a certeza que um dia chegará o momento de fazer de novo essa discussão”, diz Costa, atirando o tema para 2027, justificando que o quadro financeiro que está a ser negociado em Bruxelas não oferece “dotação financeira para este investimento”. “Ao longo destes sete anos temos de fazer esse debate, tomar decisões, definir um traçado para que o outro quadro comunitário possa ter essa dotação”, diz, empurrando a discussão para quando existam “condições políticas adequadas”.

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