Infectados com coronavírus transmitem a doença antes de terem sintomas
Ministro da Saúde chinês revela que a “propagação do surto está a aumentar” porque este se transmite no período de incubação, que dura até 14 dias.
A Comissão Nacional de Saúde da China anunciou este domingo que o novo coronavírus é contagioso mesmo durante o período de incubação, que pode durar até 14 dias. É uma das características que torna difícil a contenção do vírus que já matou 56 pessoas na China e infectou mais de 2000 em todo o mundo (1975 delas em território chinês).
“A rapidez de propagação do surto está a aumentar. Temo que isto continue assim durante algum tempo e que o número de casos de pessoas infectadas ainda aumente”, admitiu o ministro da Comissão Nacional de Saúde, numa conferência de imprensa sobre o surto este domingo. Segundo Ma Xiaowei, os portadores da doença sem sintomas durante o período de incubação estão a fazer com que os casos se multipliquem mais rapidamente.
“O período de incubação ronda os dez dias. O menor período detectado foi de um dia e o maior de 14 dias”, explicou o ministro, adiantando que se sabe ainda muito pouco sobre o funcionamento do vírus e não se conhecem os riscos de eventuais mutações.
Os sintomas associados à infecção causada pelo novo coronavírus são mais intensos do que uma gripe e incluem febre, dor, mal-estar geral e dificuldades respiratórias. Embora não exista cura ou vacina, cuidados médicos podem ajudar o sistema imunitário dos doentes a lutar contra o vírus. De acordo com dados partilhados pela televisão estatal chinesa CGTN, há 49 casos de doentes curados, na China, até agora.
Apesar das semelhanças com a SARS, outro tipo de coronavírus que apareceu na China e matou mais de 900 pessoas entre 2002 e 2003, os dois coronavírus diferem no facto de a SARS só ser contagiosa depois da incubação e porque, aparentemente, este novo coronavírus tem uma taxa de mortalidade mais baixa.
Corrida à vacina
Cientistas em todo o mundo estão a trabalhar na criação de uma vacina que possa proteger deste surto, originado na cidade chinesa de Wuhan.
A CEPI, uma coligação mundial sem fins lucrativos dedicada a desenvolver vacinas para combater novas epidemias, está a financiar três programas distintos para desenvolver vacinas contra o novo coronavírus nCoV-2019. As farmacêuticas Moderna e Inovio Pharmaceuticals, nos EUA, e a Faculdade de Química e Biociência Molecular da Universidade de Queensland, na Austrália, vão receber até 11 milhões de dólares (9,9 milhões de euros) para criar vacinas. O novo coronavírus representa o primeiro caso de uma epidemia à escala global desde que a CEPI foi criada em Davos, em 2017.
Os investigadores estão a estudar o código genético do vírus que foi disponibilizado pelas autoridades chinesas pouco depois de se ter confirmado o surto do novo coronavírus ainda em Dezembro. As primeiras versões das vacinas para o vírus poderão estar prontas para testes em humanos dentro de alguns meses, embora a aprovação para uso generalizado demore mais tempo. Além de tentar criar uma vacina, o trabalho dos cientistas passa por testar se os medicamentos antivirais já existentes podem tratar este coronavírus.
De acordo com informação publicada no China Daily, jornal oficial do Partido Comunista Chinês, a equipa do Centro de Prevenção e Controlo de doenças do país conseguiu “isolar com sucesso a primeira estirpe do vírus”.
A notícia chega numa altura em que as autoridades chinesas alertam que o país está no ponto “mais crítico” no que toca à prevenção e controlo do vírus. Pelo menos 13 cidades chinesas foram colocadas em quarentena. Também foram suspensos serviços de autocarro em várias províncias como Pequim, Tianjin, e Xian, enquanto Xangai anunciou a suspensão da linha de comboio que liga o centro da cidade ao bairro de Anting, na fronteira com a província de Jiangsu.
Para já, França é o único país na União Europeia com casos confirmados. O Centro Europeu de Controlo das Doenças (ECDC, na sigla em inglês) considera baixa a possibilidade de transmissão secundária no espaço da União Europeia, “desde que sejam cumpridas as práticas de prevenção e controlo de infecção relacionadas com um eventual caso importado”. O primeiro caso suspeito em Portugal deu negativo.
Hong Kong e Macau apertam o controlo
Hong Kong vai proibir a partir da meia-noite deste domingo a entrada a qualquer residente de Hubei, província cuja capital é o epicentro do surto do novo coronavírus, anunciou o Governo citado pelo South China Morning Post. Neste grupo não se incluem, no entanto, os cidadãos residentes de Hong Kong que estejam a tentar regressar a casa.
Esta é mais uma medida anunciada para tentar conter a disseminação do coronavírus, depois de várias vozes pedirem que as autoridades encerrassem a fronteira com o continente quando mais três casos de infecção com a doença foram confirmados, elevando o número total de casos detectados para oito.
Também Macau está a intensificar ainda mais as suas medidas contra o surto, anunciando que cerca de 1100 visitantes de Hubei que estão actualmente na cidade terão de regressar ao continente ou serão colocados em quarentena.