Uma queda deixou-o numa cadeira de rodas. Com um exoesqueleto, tudo pode mudar

Tiago Sousa é preparador físico de vários atletas, entre os quais a ginasta Beatriz Martins, e está a candidatar-se ao programa Cyberdyne para fazer testes com o exoesqueleto HAL. Objectivo é “conseguir fazer o programa e viver sozinho”.

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LUSA/Mário Cruz

O preparador físico da ginasta Beatriz Martins está a caminho dos Estados Unidos para fazer testes com o exoesqueleto HAL e tentar qualificar-se para o programa Cyberdyne, que o poderá tirar da cadeira de rodas e permitir andar.

Tiago Sousa era atleta de alta competição de tumbling, no Lisboa Ginásio Clube (LGC), quando, em 12 de Janeiro de 2005, com 21 anos, sofreu um acidente num treino e contraiu uma lesão grave que o remeteu para uma cadeira de rodas. “Estava a fazer um treino e [num mortal] parei no ar, caí com a testa e o corpo foi todo para a frente, fazendo a luxação das [vértebras cervicais] C5 e C6. Percebi que era muito grave, porque chegavam pessoas ao pé de mim e eu gritava porque não me conseguia levantar. Quando cheguei ao hospital, percebi que era algo realmente grave, porque não mexia nada do pescoço para baixo”, começa por recordar, em entrevista à agência Lusa.

Mário Cruz/Lusa
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O acidente conduziu-o a um longo processo de tratamentos, fisioterapia e, ao fim de dois anos, abriu-lhe um novo rumo, quando saiu do Centro de Medicina e Reabilitação de Alcoitão e assistiu a um treino de tumbling, altura em que percebeu que era ali que queria estar. De outra forma, por outro meio.

O ex-aluno do curso Técnico-Profissional de Desporto tirou uma especialização como instrutor de fitness, fez um curso de microexpressões e linguagem corporal e tornou-se preparador físico de vários atletas, colaborando ainda na preparação de atletas do projecto olímpico de trampolins e da selecção nacional.

Hoje, com 35 anos, o desafio de Tiago Sousa é outro. Conquistou alguma actividade motora nos membros inferiores e consequentemente o acesso aos testes com o exoesqueleto HAL (Hybrid Assistive Limb), que vão decorrer em Jacksonville, nos EUA. “É um grande objectivo ter conseguido ir para o Cyberdyne HAL. De 14 a 24 de Fevereiro, vou fazer os testes para ver se consigo ficar os três meses. Em 2016, tentei entrar, só que ainda não tinha os pré-requisitos de actividade muscular para ingressar nesse programa. De há dois, três anos para cá comecei a treinar e a ser o bio-atleta de alta competição para conseguir alcançar este grande objectivo que é ingressar neste programa”, explica.

Caso seja bem-sucedido nos testes, Tiago Sousa, que, entretanto, já recuperou grande parte da mobilidade dos membros superiores, usará diariamente, durante 45 minutos a uma hora, o exoesqueleto HAL. “A diferença entre este exoesqueleto e os outros é que, para este exoesqueleto HAL funcionar, tem de haver actividade muscular, nem que seja o mínimo. Porquê? Que vai fazer este exoesqueleto? Vai potenciar essa mensagem. Ou seja, se eu quiser pôr o exoesqueleto a trabalhar, e não tiver nenhuma actividade muscular, ele não vai mexer”, esclarece.

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A expectativa de Tiago Sousa não é, contudo, “sair de lá a andar”, mas dar um passo rumo à sua total recuperação. “A minha ambição é a de sempre, a de criar metas para alcançar o grande objectivo. Não estar tão focado nesse objectivo de sair da cadeira de rodas e andar, que vai ser o objectivo para o resto da minha vida ou até acontecer, mas ficar mais focado no processo e em todas as conquistas que vou conseguindo dia a dia”, frisa.

Mas para conseguir realizar o programa, o preparador físico desenvolveu uma campanha de angariação de fundos para tentar reunir 10 mil euros para os testes e 30 mil euros para os três meses da Cyberdyne HAL. Mediante este desafio, Beatriz Martins não hesitou em juntar-se à causa de “um profissional incrível”, fazendo um apelo nas redes sociais e disponibilizando-se para as iniciativas que estão a ser desenvolvidas, como aulas de fitness, zumba ou workshops.

“Tocou-me um bocadinho mais no coração, é meu amigo, é meu treinador e, por ser uma pessoa tão próxima, sei o quanto ele quer isto, o quanto trabalhou para isto e acho que é altura de se focar um bocadinho mais nele próprio”, defende a ginasta, assegurando que “nunca foi muito estranho” o seu preparador “estar numa cadeira de rodas e nunca houve um dia em que achasse que as limitações do Tiago estavam a limitar” o seu treino.

Em vésperas da partida, Tiago Sousa mostra-se extremamente confiante naquela que chama a qualificação para os seus Jogos Olímpicos. “Sinto-me tão forte fisicamente e mentalmente que, mesmo que não alcance [a qualificação], sei que vai aparecer alguma coisa e eu hei-de conseguir alcançar. Mas o objectivo é ir lá e, com toda a minha força, e de todas as pessoas que estão à minha volta, conseguir fazer o programa e viver sozinho”, conclui Tiago Sousa.