Ausência da Polónia marca evocação do Holocausto em Israel
Jerusalém recebe o que está a ser considerado um dos maiores encontros políticos do país com mais de 40 chefes de Estado.
A cidade de Jerusalém é o palco do que as autoridades do país consideram um dos maiores encontros políticos de sempre em Israel, uma cerimónia para lembrar o Holocausto em vésperas do aniversário da libertação do campo de Auschwitz.
O encontro acontece esta quinta-feira, uns dias antes da cerimónia no memorial de Auschwitz, na Polónia, que decorre na segunda-feira, quando se assinala o 75º aniversário da libertação do campo e o Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto.
A reunião de Jerusalém foi marcada por críticas de aproveitamento político pelo que foi visto por muitos como uma cedência de Israel à Rússia e, como diz o editor do Haaretz Avi Scharf no Twitter, “à campanha do Kremlin para culpar a Polónia pelo início da II Guerra Mundial”.
O Presidente polaco, Andrzej Duda, decidiu não comparecer por não ter sido convidado a falar na cerimónia, ao contrário do Presidente russo, Vladimir Putin, e outros líderes. Os organizadores disseram que iriam discursar os líderes dos países que ajudaram a derrotar os nazis, mas o Presidente alemão também falará. Frank-Walter Steinmeier chegou na véspera e encontrou-se com o seu homólogo israelita, Reuven Rivlin, e com sobreviventes do Holocausto.
Numa reportagem da BBC, alguns sobreviventes queixaram-se do aproveitamento político estar a ensombrar o mais importante: a recordação do que se passou.
O Presidente da Rússia, Vladimir Putin, causou polémica e ira na Polónia ao afirmar, recentemente, que Varsóvia foi cúmplice no início da II Guerra, e o primeiro-ministro polaco respondeu acusando o líder russo de “tentar reabilitar” Estaline, que começou por ter um acordo de não-agressão com Hitler.
Os olhos dos israelitas estão, no entanto, em Vladimir Putin por outra razão: foi anunciada a visita do Presidente russo à mãe de uma jovem israelita detida em Moscovo, antecipando-se que aí pode anunciar um perdão ou a sua libertação.
Naama Issachar, 26 anos, está a cumprir uma pena de sete anos e meio de prisão por posse de menos de dez gramas de marijuana no aeroporto de Moscovo, onde fez escala no regresso da Índia, em Abril do ano passado. O pesado castigo levou a uma onda de solidariedade com Issachar, com vigílias pela sua libertação e o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, a prometer “intervenção pessoal” no caso.
Há meses que Netanyahu anda a tentar a libertação de Issachar. Se o anúncio se confirmar, esta será uma prenda de Vladimir Putin a Benjamin Netanyahu, que a 2 de Março disputa uma terceira campanha eleitoral no espaço de menos de um ano (as últimas duas legislativas terminaram empatadas), e cuja campanha assenta em parte no seu peso internacional (houve placards com Netanyahu apertando a mão a três líderes: Donald Trump, Narendra Modi e Vladimir Putin.
Fontes da Defesa de Israel anteciparam que o quid pro quo pedido por Putin não foi militar (a Rússia está presente na Síria onde apoiou Bashar al-Assad e está cada vez mais a tornar-se num actor incontornável no Médio Oriente em especial após o desejo declarado pelos EUA se retirar da região), diz Amos Harel no Haaretz.
Pediu, sim, apoio – provavelmente tácito – para o seu discurso na cerimónia desta quinta-feira, e a passagem para a Rússia de propriedades da Igreja Ortodoxa Russa agora nas mãos israelitas.
Na Cidade Velha de Jerusalém há propriedades de outros países, por exemplo a igreja de St. Anne, de França - onde aliás o Presidente francês, Emmanuel Macron, protagonizou um episódio de desagrado com a polícia israelita que pretendia acompanhá-lo, o que não devia fazer (as regras são semelhantes às das instalações diplomáticas). Um episódio semelhante já tinha acontecido com o Presidente Jacques Chirac em 1996 (na altura, Chirac ameaçou mesmo regressar de imediato ao seu avião, lembra o site da France 24).