Quando os jogos de tabuleiro geram emprego num mundo híbrido
Os jogos de tabuleiro são produtos de autor, editados em quantidades crescentes, mas ainda assim limitadas, que dependem totalmente da originalidade e coerência. Surgem novas oportunidades de emprego para criativos e designers, ilustradores e para a indústria da transformação do papel, plástico e madeira.
Os jogos de mesa geram interesse e movimentam cada vez mais dinheiro, mas não estou a falar de apostas, casinos ou jogo ilícito. Refiro-me ao prazer da socialização e às oportunidades de trabalho, negócio e associativismo numa renovada indústria criativa.
Os jogos de tabuleiro, de hobby ou ditos modernos, estão a crescer vertiginosamente em volume de negócios. As vendas ultrapassam crescimentos além das duas dezenas e começam a ver-se novos jogos nas grandes superfícies comerciais, ganhando espaço de prateleira perante os títulos cuja única inovação consiste em tentar apanhar cocós.
Como seria de esperar, este crescimento no consumo tem de ser alimentado. As empresas que produzem e editam estes jogos tendem a prosperar, embora seja uma actividade sujeita a muitos riscos, especialmente quando se desconhecem os padrões de consumo de uma actividade especializada e as tendências de inovação. Na prática, este interesse pelos jogos de tabuleiro está a gerar oportunidades de negócio, investimento e emprego. Estamos a falar de produtos que necessitam de obedecer a elevados padrões de qualidade e podem ser exportados, em que o seu valor está muito para além da sua própria materialidade. São produtos de autor, editados em quantidades crescentes, mas ainda assim limitadas, que dependem totalmente da originalidade e coerência. Para isso é necessário inovar nos sistemas e mecânicas de jogo, nos temas e na qualidade gráfica e design de produto. Surgem então novas oportunidades de emprego para criativos e designers, ilustradores e para a indústria da transformação do papel, plástico e madeira. Esta indústria necessita de mão-de-obra especializada, quer na concepção e desenvolvimento de produto, quer na produção industrial, como também no marketing, promoção e distribuição. Para além de tudo isto, estes jogos podem ser ferramentas de apoio a outros projectos comerciais, de lazer, entretenimento, educação e desenvolvimento cultural, tal como proporcionar novas formas de associativismo.
Depois do sucesso da Invictacon decorrida em Gondomar, da Augustacon que aconteceu em Braga, e ainda antes da Leiriacon na Praia da Vieira – a maior convenção de jogos de tabuleiro de Portugal, com forte pendor internacional e que atrai fãs de todos o país e de sítios tão distantes como a Austrália —, este ano haverá uma novidade no panorama nacional. De 31 de Janeiro a 2 de Fevereiro vai decorrer a primeira edição da Vianacon. Durante três dias vão existir múltiplos momentos dedicados aos jogos de tabuleiro modernos em Viana do Castelo. Esta convenção distingue-se das demais pelo especial enfoque dado ao design de produto da indústria dos jogos de tabuleiro modernos, particularmente à dimensão gráfica e do próprio processo criativo em si. Vão decorrer workshops, exposições e formações para além dos normais espaços onde se pode jogar livremente. A Vianacon promete centrar-se nos jogos de tabuleiro como produto criativo e oportunidade de emprego para os jovens, quer seja na produção quer na utilização dos jogos para múltiplos objectivos ditos sérios.
Para quem não sabe, isto dos jogos de tabuleiro modernos é uma actividade em expansão, um reflexo da pós-digitalização e da consciência que nem tudo o que é bom tem de ser totalmente digital. No entanto, sem as ferramentas digitais dificilmente não se poderia ter atingido a escala e crescimento registado neste hobby e indústria. Não seria tão fácil criar jogos e agregar as comunidades que os fazem prosperar. Acaba por ser um fenómeno híbrido. Trata-se de uma tendência que usa o melhor dos dois mundos, do digital e do analógico, para criar momentos inesquecíveis onde nos sentimos mais humanos através da socialização, olhos nos olhos, à mesa com os jogos, mas sem com isso a deixarmos de partilhar com os outros online.