Salvini renuncia a imunidade para que processo contra si entre na campanha eleitoral
Líder da Liga quer por um lado a publicidade do início do julgamento, por outro, voltar a pôr migrações e refugiados na agenda. “Passou do soberanismo à vitimização”, comentou o MNE Luigi di Maio.
O líder do partido italiano Liga (extrema-direita), Matteo Salvini, antigo ministro do Interior, decidiu abdicar da sua imunidade parlamentar para ser processado pela decisão de não deixar desembarcar 131 migrantes num navio perto da costa italiana em Julho – e pediu mesmo aos deputados do seu partido que votassem a favor de o enviar a julgamento, na estratégia “mais retorcida à medida que se chega ao final” da campanha eleitoral para as regionais, como comenta o diário espanhol El País.
A razão para esta decisão pouco habitual tem a ver com a publicidade que Salvini ganhará por causa de um processo que não poderia de qualquer modo evitar (e que acarreta uma pena máxima de 15 anos de prisão), e com a tentativa de trazer de novo a migração para a campanha.
Os deputados dos partidos do Governo, Partido Democrático (PD, centro-esquerda) e Movimento 5 Estrelas (populista de esquerda), saíram da sala em protesto. Consideram que o processo só deveria iniciar-se depois das eleições de domingo para não interferir na campanha.
As eleições regionais, em especial as de domingo na região Emilia-Romagna (capital Bolonha e considerada um “bastião vermelho”, dominado pela esquerda), poderão ter efeitos no Executivo nacional. Se a Liga conseguisse uma vitória expressiva, poderia tirar legitimidade ao Governo PD-5 Estrelas. As sondagens dão resultados muito próximos na região onde entretanto nasceu o movimento das “sardinhas”, que contestam o racismo e a xenofobia e, claro, Salvini, um raro movimento a contestar não o poder, mas a oposição.
Apesar de o processo só ter luz verde para avançar em meado de Fevereiro, o mero debate gerará vantagem para Salvini, aumentando a polarização, o que o beneficia sempre, continua o diário El País.
No domingo, Salvini deu os primeiros passos desta estratégia, dizendo que um processo contra si seria um “processo contra o povo italiano”. “Votem para me julgar e vamos esclarecer as coisas”, declarou, dirigindo-se aos “caros juízes de esquerda”, a quem pediu para “apanharem traficantes de droga e criminosos em vez de atacarem pessoas por fazerem o seu trabalho”.
Num comício, quando Salvini disse que estava pronto a ser preso, alguém da multidão gritou que estava pronto a ir com ele.
“Salvini passou do soberanismo ao vitimismo”, comentou o ministro dos Negócios Estrangeiros Luigi di Maio, do PD, no domingo. Para Di Maio, “como [Salvini] não pode controlar o processo na Justiça, decidiu dar a volta e fazer-se processar”.