Ibiza e Maiorca proíbem o “turismo de bebedeiras e excessos”

Governo das Baleares proíbe tudo o que pode em zonas de risco e declara guerra a este “nicho” de turismo: fim a “bares abertos,” happy hours, rali tascas turísticos. E o balconing dá direito a expulsão. Há multas de mil a… 600 mil euros.

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À noite em Magaluf, Maiorca REUTERS/Enrique Calvo
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À noite em Magaluf, Maiorca REUTERS/Enrique Calvo

Os epicentros do que o Governo das Baleares chama “turismo de excessos” vão mudar radicalmente: há novas e apertadas regras para zonas da Praia de Palma, S'Arenal e Magaluf em Maiorca; e para o chamado West End de Ibiza (San Antoni de Portmany). O regulamento agora aprovado é uma longa lista de normas e punições que visa trazer “civismo” a pontos destas ilhas espanholas que muitas vezes parecem zonas de guerra (turística).

Estas áreas, célebres precisamente por este “tipo” de turismo e por serem também “mecas” das viagens de despedidas de solteiros e finalistas de toda a Europa, Portugal incluído, passam a estar sob uma semi “lei seca” e sob uma chuva de proibições. É “o primeiro regulamento para travar os excessos derivados do abuso de álcool em zonas turísticas”, disse Iago Negueruela, responsável regional de Economia e Turismo, citado pela RTVE, destacando a norma como “pioneira na Europa”.

Na verdade, algumas propostas similares já tinham avançado em vários destinos cansados dos efeitos do “turismo de bebedeiras”, incluindo em Espanha, casos de Lloret del Mar, na Catalunha, e mesmo na própria Magaluf, mas este novo regulamento promete ser mais global e incisivo.

Segundo uma nota divulgada pelo Governo das Baleares, ficam proibidos os “bares abertos”, “happy hours” ("e similares"), pub crawls (os “rali tascas” para turistas, alguns deles com bebedeira garantida), a venda de bebidas alcoólicas nas lojas das 21h30 às 7h, promoções que envolvam álcool ou a publicidade ao seu consumo em estabelecimentos turísticos.

E proibidos ficam também a “exibição de bebidas alcoólicas” e os autodispensadores, sendo obrigatório vender álcool a preço unitário (é dizer: nada de vendas “a metro” ou por grosso ao consumidor, nem sequer promoções compra-uma-bebe-outra e afins). 

E mais: expulsão dos turistas que pratiquem o perigoso balconing (salto entre varandas e destas para piscinas, prática que com frequência causa feridos e mesmo mortos), ou actividades perigosas similares.

Nem se fica por aqui: não haverá novas licenças para “barcos de festas" (que passam a vida a dar voltas às ilhas num mar de álcool) e os que existem terão actividade limitada. E nenhum dos que existe poderá recolher clientes nas zonas-chave do regulamento. 

O documento também inclui medidas para acabar com o “uso das mulheres como reclame” para atrair clientes a bares e comercializar álcool nos locais, nomeadamente vestidas em roupa interior, avança o Diario de Mallorca.

O regulamento inclui tantas proibições e é tão detalhado que ninguém duvida de que se destina a uma aplicação concreta, não sendo apenas para “inglês ver”. Bom exemplo é esta regra: em hotéis em que o turista tenha comprado um “pack” com comidas e bebidas - não faltam “todos incluídos” com bar aberto -, o cliente não poderá consumir mais de três bebidas por comida e por pessoa, seja almoço, seja jantar; nem sequer se podem transferir estes limites de consumo, o legislador chega ao pormenor de especificar de que quem não bebeu os seus três ao almoço não pode beber seis ao jantar...

Para uma lista com tantas proibições há também, noticia o La Vanguardia, uma lista de multas à medida, sempre a subir até valores quase proibitivos: conforme a infracção, de leve a muito grave, assim a multa, de mil a... 600 mil euros – vender bebidas alcoólicas fora do horário, promover bares abertos, pub crawls ou venda de álcool a menores ou grávidas estão entre as ilegalidades com direito a algumas das multas mais duras.

As zonas em causa são particularmente dominadas por jovens turistas britânicos e alemães: particularmente para os primeiros, tornou-se um destino barato de festa & álcool, a exemplo do que acontece noutras regiões do Sul da Europa (Portugal incluído). “O jornal Sun promovia no Verão um circuito de vinte e quatro horas seguidas de bebedeira náutica pelo litoral maiorquino sob o lema ‘vocês vão beber tanto que até se arrastarão pelo chão'”, assinala o Diário de Mallorca num artigo de opinião (assinado pelo jornalista Matias Vallés). É tal contingente britânico que desde há alguns anos a polícia britânica envia agentes para auxiliar a polícia espanhola a controlar as ruas do turismo etílico.

As medidas, válidas por cinco anos e que entram em vigor após a publicação oficial do decreto (o que aconteceu a 23 de Janeiro, incluindo a delimitação das zonas e ruas), pretendem, segundo o Governo local, fomentar o civismo, adoptar medidas de protecção do destino, evitar problemas originados pelo consumo excessivo de álcool e, em termos globais, forçar uma mudança real no modelo turísticos destes destinos.  

Talvez por isso mesmo esta nova “lei seca” tenha sido anunciada a poucos dias do início da Fitur, a feira internacional de turismo de Madrid, uma das maiores da Europa e que começa dia 22. Está visto que as Baleares, com as “estrelas” Ibiza e Maiorca à cabeça, querem apresentar-se já muito mais sóbrias ao mundo.

Actualização: acrescentada a zona de S'Arenal em Maiorca, entretanto confimada após pubicação oficial do decreto.

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