YouTube aperta regras para crianças. Saiba o que muda
Alterações que já tinham sido anunciadas entram em funcionamento nos próximos dias. A desactivação e restrição dos comentários, likes e publicidade vai afectar youtubers que fazem vídeos para crianças.
As mudanças que o YouTube tinha prometido implementar este ano no que toca aos conteúdos apropriados para menores entraram esta segunda-feira em vigor em todo o mundo, mas só as devemos começar a ver em acção nos próximos dias. Os criadores devem ser claros sobre o tipo de audiência a que estão a dirigir os seus vídeos, mas há mais medidas.
Em Setembro de 2018, o YouTube lançou em Portugal a YouTube Kids, uma versão da sua plataforma dedicada às crianças. Em Julho de 2019, o site principal deixou de ser acessível a menores de 13 anos — as crianças abaixo desta idade eram direccionadas para conteúdos apropriados para a sua idade na segunda plataforma. No caso de o utilizador ter menos de 18 anos, passou a ser “necessária a autorização de um dos pais ou do tutor legal”.
Este foi o primeiro passo para uma separação definitiva entre os conteúdos que são apropriados para os menores de 13 anos e para a restante população. Pouco depois, em Setembro de 2019, o YouTube anunciou nova série de alterações para “proteger melhor as crianças e a sua privacidade”.
Nessa altura foi anunciado que todos os criadores de conteúdos deveriam, até 6 de Janeiro, designar os seus vídeos como sendo direccionados (ou não) para crianças. Os dados de qualquer pessoa que assistisse a um vídeo designado para essa faixa etária seriam, doravante, tratados como informações de um menor, independentemente da idade do utilizador. O prazo para a implementação destas mudanças terminava esta segunda-feira, mas, como assinala fonte do YouTube ao PÚBLICO, as alterações só “serão levadas a cabo nos próximos dias” — em Portugal e no resto do mundo.
Uma das grandes transformações acontecerá no campo das interacções com os youtubers. A nova política de tratamento de dados significa que, nos vídeos criados para crianças, o YouTube vai limitar a recolha e o uso de dados e, como resultado, vai necessitar de “restringir ou desactivar alguns recursos”. Entre estes estão funcionalidades como os anúncios personalizados, comentários, chats em directo, botões de “gosto” e “não gosto”, notificações que alertam o utilizador para novos vídeos, as histórias, ou o acto de salvar um conteúdo numa lista de reprodução, entre outros. A remoção de comentários em vídeos para menores, por exemplo, acontecerá na plataforma normal porque o YouTube Kids nunca permitiu comentários.
Estas medidas foram também introduzidas para resolver as preocupações levantadas pela Comissão Federal do Comércio dos EUA (FTC, na sigla original). Em Setembro de 2019, o Google aceitou pagar 170 milhões de dólares (154 milhões de euros) para encerrar as investigações abertas por aquela entidade e pelo estado de Nova Iorque sobre a recolha de dados pessoais de menores. Em causa estava a forma como a plataforma recolhia informação de crianças para lhes mostrar anúncios personalizados, sem nunca avisar os encarregados de educação — esta era uma violação directa da lei de protecção da privacidade das crianças online nos EUA, conhecida pela sigla COPPA, que dita que as empresas online não podem armazenar e utilizar dados de menores de 13 anos sem autorização.
Mas o que é que é designado como conteúdo para crianças? Um vídeo é designado para aquele tipo de audiência dependendo do seu assunto principal: se enfatiza personagens infantis, brinquedos ou jogos, e se inclui tutoriais, vídeos educativos ou canções.
Nos EUA e no Reino Unido, vários pais têm alertado para problemas no tipo de conteúdo que chega à aplicação com o filtro automático — paródias que usam desenhos animados infantis como o Ruca e a Peppa Pigs — em cenas violentas e sexuais. Mesmo que o YouTube Kids só promova na página inicial conteúdo verificado, as crianças podiam chegar a outros vídeos quando a função de pesquisa estava activada.
Alterações podem prejudicar criadores
Tal como admite o YouTube, estas mudanças “terão um impacto significativo” nos criadores de conteúdo. Desactivando as principais ferramentas de interacção com o público (como os comentários e gostos) e a própria publicidade, a empresa diminui a possibilidade de os youtubers rentabilizarem os seus canais.
Questionada pelo PÚBLICO sobre esta possibilidade, a empresa garante que continua a “acreditar no valor dos criadores de conteúdos para família” e que está a “analisar formas adicionais de entender e apoiar este ecossistema”. “Vamos trabalhar em estreita colaboração com os mesmos durante este período de transição para os ajudar a entender as mudanças que devem esperar na forma como o conteúdo é exibido e monetizado”, lê-se na resposta enviada por escrito ao PÚBLICO.
Já desde 2015 que o YouTube tem tentado dirigir menores de 13 anos para o YouTube Kids, que começou por ser uma aplicação móvel específica dedicada a crianças e que pode ser controlada pelos encarregados de educação.
Além de resolver a questão da COPPA, a aplicação também reduz possíveis problemas com bullying ao impedir o acesso a comentários, e permite aos pais personalizar o conteúdo que os mais novos vêem (por exemplo, limitar o YouTube Kids a vídeos com conteúdo educativo) bem como o tempo que passam na aplicação.