Antiga Estrela Polar e a sua companheira eclipsam-se de forma regular
Um grupo de astrónomos descobriu que Thuban — estrela que desempenhava o papel de estrela polar quando as pirâmides do Egipto estavam a ser construídas — e a sua companheira “mais fraca” têm entre si eclipses curtos de seis horas.
Um grupo de astrónomos descobriu que a Alpha Draconis (ou Thuban), uma estrela muito documentada e estudada ao longo dos anos — e visível a olho nu — e sua estrela companheira eclipsam-se de forma regular. Já se sabia que este era um sistema binário, ou seja, um sistema composto por dois corpos celestes que orbitam em torno de um centro de massa comum, mas os eclipses mútuos foram uma surpresa para os astrónomos. Estes sistemas estão ligados entre si de forma gravitacional e à vista desarmada, ou com uma pequena ampliação, aparentam ser apenas um.
“Os eclipses são breves e duram apenas seis horas, daí que as observações terrestres possam não os ter captado. E como a estrela é tão brilhante rapidamente saturaria os detectores do Kepler da NASA, algo que também ocultaria os eclipses”, explicou Angela Kochoska, investigadora da Universidade Villanova, no estado norte-americano da Pensilvânia. A descoberta foi apresentada esta segunda-feira na 235ª reunião da Sociedade Astronómica Americana em Honolulu, no Havai. “A primeira pergunta que me vem à mente é: ‘Como é que nós não detectamos isto?’”, referiu a investigadora citada pela NASA.
A equipa conseguiu fazer esta descoberta graças a informações captadas pelo satélite da NASA TESS - Satélite para Levantamento de Exoplanetas em Trânsito (em inglês Transiting Exoplanet Survey Satellite), que substituiu o telescópio Kepler em 2018.
O sistema está entre os binários eclipsantes mais brilhantes descobertos até agora — as duas estrelas são amplamente separadas ou desanexadas e só interagem gravitacionalmente. Tais sistemas são importantes porque permitem medir as massas e os tamanhos de ambas as estrelas com uma precisão incomparável.
Rainha no antigo Egipto
Thuban está situada a cerca de 270 anos-luz da Terra, na constelação Dragão (ou Draco). É apenas a quarta estrela mais brilhante da sua constelação e a sua fama surge do papel que desempenhou há cerca de 4700 anos, quando as pirâmides mais antigas do Egipto estavam a ser construídas.
Naquela época, a Thuban era a estrela do norte (ou estrela polar), o astro mais próximo do pólo Norte do eixo de rotação da Terra, o ponto em torno do qual todas as outras estrelas parecem girar no seu movimento nocturno. Hoje, este papel é desempenhado pela Polaris, a estrela mais brilhante da constelação Ursa Menor. A mudança ocorreu porque o eixo de rotação da Terra realiza uma oscilação cíclica de 26 mil anos, acto que altera lentamente a posição do céu no pólo rotacional.
A Estrela Polar é, de facto, um sistema triplo de estrelas, que não pode ser observado com pequenos telescópios. A primeira companheira da estrela polar, a Polaris B, é conhecida desde 1780, mas a Polaris Ab só foi observada pela primeira vez em 2006.
Duas estrelas maiores que o Sol
Os astrónomos já sabiam de estudos anteriores que as duas estrelas orbitam a cada 51,4 dias a uma distância média de 61 milhões de quilómetros, pouco mais do que a distância entre Mercúrio e o Sol. O actual modelo preliminar mostra o sistema a cerca de três graus acima do plano orbital das estrelas, o que significa que nenhuma delas cobre completamente a outra durante os eclipses. A estrela principal é 4,3 vezes maior do que o Sol e tem uma temperatura de superfície em torno dos 9700ºC , tornando-a 70% mais quente que o Sol. A sua companheira, que é cinco vezes mais “fraca”, tem cerca de metade do tamanho da primária e é “apenas” 40% mais quente que o sol.
O satélite TESS monitoriza desde 2018 grandes áreas do céu, os chamados sectores, durante 27 dias — antes de passar para o seguinte. Esta análise permite-lhe rastrear alterações no brilho estelar. Enquanto o grande objectivo do mais novo caçador de planetas da NASA é procurar sistemas semelhantes ao da Terra noutros sistemas solares, os dados do TESS também podem ser usados para estudar muitos outros fenómenos.
A NASA está já a planear observações complementares para antecipar futuros eclipses. “Descobrir eclipses numa estrela conhecida, brilhante e historicamente importante destaca como o TESS afecta a comunidade astronómica. Neste caso, os dados ininterruptos e de alta precisão podem ser usados para ajudar a restringir parâmetros estelares fundamentais num nível que nunca alcançámos antes”, disse Padi Boyd, cientista do projecto TESS no Centro Espacial Goddard Space da agência espacial norte-americana em Greenbelt, Maryland.