Candidatos à liderança do CDS unidos na viragem à direita
Filipe Lobo d’Ávila é o mais crítico da estratégia seguida por Assunção Cristas.
João Almeida, Filipe Lobo d’Ávila e Francisco Rodrigues dos Santos, candidatos à liderança do CDS, defendem que o partido deve assumir-se como de “direita” embora se dividam na análise à situação que levou à derrota eleitoral das legislativas de Outubro. As moções de estratégia global ao 28º congresso do CDS foram divulgadas esta sexta-feira, no último dia do prazo de entrega.
Na sua moção Juntos pelo Futuro, Filipe Lobo d’Ávila, ex-deputado e assumido crítico de Assunção Cristas, é o único que condena claramente a estratégia da actual direcção. E fá-lo de forma contundente. “Foi o caminho de toda uma direcção que, legitimamente entusiasmada com o resultado eleitoral obtido em Lisboa, esqueceu o essencial, que, quando se dá primazia ao pragmatismo sem ideologia e sem identidade, nada somos (…) Esqueceu que Lisboa não é o país e que um partido não se faz apenas no Largo do Caldas e, sobretudo, não pareceu perceber as alterações profundas ocorridas em 2015”, lê-se no texto em que aponta o dedo aos que estiveram “tacticamente em silêncio” nos últimos anos e que esse silêncio é agora “ruidoso”. A crítica pode ser entendida como sendo dirigida a João Almeida (que era porta-voz da actual direcção) e até a Francisco Rodrigues dos Santos, líder da Juventude Popular (JP), que nunca assumiu críticas públicas a Cristas.
Filipe Lobo d’Ávila defende que o CDS deve “ajudar a construir uma solução de centro-direita para Portugal, alternativa ao socialismo que nos vai desgovernando”, num desejo que é partilhado pelos outros dois candidatos. Aliás, a assunção do CDS como um partido de direita é partilhada não só por estes três candidatos mas também por Abel Matos Santos, que promete levar a sua moção a votos no congresso a 25 e 26 de Janeiro.
Os candidatos defendem também que o CDS deve afirmar-se pelas suas ideias e mensagens claras, mas que deve contribuir para uma alternativa à direita. Mas só João Almeida vai mais longe e se refere à necessidade de “entendimentos pluripartidários” e à criação de uma plataforma comum entre os partidos não socialistas. Por outro lado, Lobo d’Ávila assume explicitamente que o CDS deve ser “oposição ao PS mas não ao país”, o que abre a porta a acordos com o Governo de António Costa.
No posicionamento do partido, tanto Lobo d’Ávila como João Almeida defendem que o CDS deve manter presente a sua matriz democrata-cristã, mas que tem de continuar a conviver com conservadores e liberais. João Almeida defende mesmo que os militantes “não vêem qualquer antinomia em que um partido de matriz democrata-cristã assuma uma atitude liberalizante quanto à economia; um pensamento social robusto centrado nos mais necessitados; a defesa da autoridade do Estado, das suas funções soberanas, dos seus interesses estratégicos permanentes e do seu carácter subsidiário e regulador”.
Já Francisco Rodrigues dos Santos prefere sublinhar que o CDS deve estar assente na “ideologia política democrata-cristã e conservadora de direita”. Na sua moção, intitulada Voltar a acreditar – o manifesto de uma nova direita, na qual trata os militantes por tu, o líder da JP sublinha a família bem como a dignidade humana (a vida desde a concepção até à morte) como “valores fundamentais”, embora não explicite a sua posição sobre o aborto e a eutanásia.
Relativamente às presidenciais, só Lobo d'Ávila e João Almeida se referem à intervenção do partido, que não deve dar já como certo um apoio a uma eventual candidatura de Marcelo Rebelo de Sousa, contrariando (e até com uma crítica implícita) a posição favorável manifestada por Assunção Cristas no início deste ano.
A nível interno, as três moções afirmam a necessidade de reconstruir e de reorganizar o partido. Tanto o líder da JP como Lobo d’Ávila propõem a criação do cargo de director financeiro. Só Rodrigues dos Santos avança com a necessidade de um rebranding da imagem e um “marketing arrojado” e Lobo d’Ávila quer que o partido volte à denominação de CDS, apenas (sem a sigla PP, de Partido Popular). Relativamente à forma de eleição dos líderes, o ex-deputado propõe o regresso das eleições directas e o fim do congresso electivo em vigor.