Estruturas para controlar cheias no Mondego com falta de manutenção e inacabadas, diz Ordem dos Engenheiros

Num comunicado, a Ordem dos Engenheiros diz que “há décadas” está por criar um modelo de gestão do Empreendimento de Fins Múltiplos do Baixo Mondego, tal como foi feito no Alqueva. E que faltam seis bombas “de grande potência e débito que nunca foram instaladas na totalidade”.

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LUSA/PAULO CUNHA

A análise feita pela Ordem dos Engenheiros (OE) ao que ocorreu na bacia do Rio Mondego com as tempestades dos últimos dias deixa pouca margem para dúvidas: “Recordamos que nos últimos dez anos o desinvestimento na manutenção das infraestruturas do país só podia conduzir a situações desta natureza e que a redução e desvalorização do papel dos engenheiros e da engenharia na administração só enfraquece o próprio Estado.”

“Como é sabido, o empreendimento de fins múltiplos do Baixo Mondego (EFMBM) foi criado para o controle das cheias que sempre ocorreram e afectaram Coimbra e o Vale do Mondego e para outros importantes fins, tais como a agricultura, a produção de energia, o abastecimento de água à indústria, às populações, à aquacultura e à criação de um espelho de água na frente ribeirinha de Coimbra”, relembra a OE, em comunicado.

Só que o plano não terá sido concretizado na totalidade: “Encontra-se por controlar o Rio Ceira que tem tido contribuições muito significativas, sendo que no vale do Mondego foram feitas algumas obras de regularização em outros afluentes, caso do rio Arunca, faltando ainda construir algumas delas. Neste contexto, um dos afluentes que, com a artificialização, passou a afluir ao novo leito do Rio Mondego abaixo da respectiva cota, teve de passar a ser bombado através de uma central onde estavam previstas seis bombas de grande potência e débito, que nunca foram instaladas na totalidade e onde hoje apenas uma está em funcionamento. Continuamos, pois, perante uma obra inacabada, que foi concebida para funcionar no seu todo e que urge concluir ou, no limite, revisitar a sua concepção.”

No concelho de Albergaria-a-Velha ainda continuam muitas estradas municipais cortadas Adriano Miranda/Público
Remadores movimentam barcos do Centro Náutico de Montemor-o-Velho Lusa/PAULO NOVAIS
O rio Vouga galgou as margens cortando estradas municipais e a A25 Adriano Miranda/Público
Terrenos agrícolas junto ao Rio Vouga em Cacia Adriano Miranda/Público
São vários os prejuizos nos acessos aos terrenos agrícolas Adriano Miranda/Público
A estrada que liga Cacia a Angeja continua cortada Adriano Miranda/Público
O parque de madeiras da fábrica Navigator em Cacia ficou inundado Adriano Miranda/Público
Pela manhã começaram as limpezas Adriano Miranda/Público
Adriano Miranda/Público
Adriano Miranda/Público
Foram vários os populares que esta manhã vieram ver os estragos Adriano Miranda/Público
Largo de Angeja Adriano Miranda/Público
Muitas estradas ficaram danificadas com a força da água Adriano Miranda/Público
Os terrenos agrícolas continuam submersos Adriano Miranda/Público
A subida da água em Formoselha Sérgio Azenha
Casas e estruturas agrícolas cobertas de água, em Ceira LUSA/PAULO NOVAIS
Sérgio Azenha
Sérgio Azenha
Uma viatura coberta de água devido à subida do rio Ceira, distrito de Coimbra LUSA/PAULO NOVAIS
Militares da GNR ajudam uma condutora numa viatura avariada, em Formoselha LUSA/PAULO NOVAIS
A subida do nível da água do rio Ceira, em Coimbra LUSA/PAULO NOVAIS
Madeira arrastada pela água presa numa antiga ponte LUSA/PAULO NOVAIS
O parque verde do Mondego coberto de água, em Coimbra LUSA/PAULO NOVAIS
O parque verde do Mondego coberto de água, em Coimbra LUSA/PAULO NOVAIS
Casas e estruturas agrícolas cobertas de água, em Ceira LUSA/PAULO NOVAIS
Casas e estruturas agrícolas cobertas de água, em Ceira LUSA/PAULO NOVAIS
Casas e estruturas agrícolas cobertas de água, em Ceira LUSA/PAULO NOVAIS
Casas e estruturas agrícolas cobertas de água, em Ceira LUSA/PAULO NOVAIS
Ciclistas observam uma estratada inundada Lusa/PAULO NOVAIS
Campos do Baixo Mondego inundados pela água do rio Mondego LUSA/PAULO NOVAIS
Um condutor inverte a marcha na estrada entre Tentúgal e Figueira da Foz LUSA/PAULO NOVAIS
Os bombeiros tentam perceber o nível das águas nos campos inundados em Montemor-o-Velho Lusa/PAULO NOVAIS
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No concelho de Albergaria-a-Velha ainda continuam muitas estradas municipais cortadas Adriano Miranda/Público

Mas a Ordem acha que, mais importante do que terminar esta instalação das bombas, é fundamental criar uma unidade de gestão que faça a manutenção de todo o empreendimento e fiscalize os sistemas ali colocados. “Tal como aconteceu no Alqueva, a criação de uma unidade gestora é crucial para assegurar a gestão, a conclusão, a monitorização, a manutenção e a defesa dos interesses dos diversos stakeholders, a partir obviamente da definição de um modelo de calendarização e financiamento sustentável”, sublinha a OE.

O comunicado fala mesmo de “incúria do Estado": “Apontar o dedo à falta de manutenção é apontar o dedo à incúria do Estado que não canaliza os impostos dos contribuintes nacionais para apoio aos beneficiários locais, o que não deixa de ser uma boa questão.”

A Ordem dá depois uma explicação para o que aconteceu com o leito do Mondego nestes últimos dias: “Tanto quanto nos foi explicado, foram respeitadas as normas de exploração da Barragem da Aguieira e demais represas a cargo da EDP, em articulação com a APA [Agência Portuguesa do Ambiente], mas os caudais afluentes ao Açude Ponte excederam a sua capacidade, aos quais foram acrescidas as afluências de jusante com origem nos afluentes do Vale do Mondego.” O sistema de diques não foi, portanto suficiente para conter os caudais e evitar as inundações. “A falsa sensação de que o sistema de diques que materializou a artificialização do leito natural do Mondego pode garantir ilimitadamente a segurança das povoações e bens ribeirinhos tem sido ciclicamente posta em causa, por razões sobejamente conhecidas e que interessam resolver”, refere o comunicado.

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