Boris Johnson apela aos deputados que aprovem nova lei do “Brexit”
O primeiro-ministro britânico apelou ao voto na nova versão da lei do “Brexit” para finalmente se seguir em frente. Jeremy Corbyn, líder trabalhista, acusou o Governo de querer negociar um acordo comercial “terrível” com os Estados Unidos.
O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, quer unir o país e, para isso, argumenta, os deputados devem aprovar esta sexta-feira a nova versão da lei do ‘Brexit’. Os rótulos remainer e leave pertencem ao passado e é agora tempo de seguir em frente, disse esta sexta-feira no debate que antecede a votação da lei do “Brexit”, a que fez alterações.
Mas as críticas trabalhistas não se fizeram esperar e o maior partido da oposição acusou os conservadores de prepararem um “péssimo” acordo de comércio com os Estados Unidos depois do Reino Unido sair da União Europeia.
“É agora tempo de agir em conjunto como uma nação revigorada, como um reino unido, com renovada confiança no nosso destino nacional e determinados a aproveitar as oportunidades que se nos apresentam”, disse Johnson. O primeiro-ministro quer que a lei seja hoje aprovada para a Câmara dos Lordes se poder pronunciar a 13 de Janeiro, duas semanas antes do prazo de saída da União Europeia, a 31 de Janeiro.
A sua aprovação é garantida uma vez que os conservadores detêm uma maioria de 80 deputados na Câmara dos Comuns, mas nem por isso deixou o primeiro-ministro de apelar ao voto e de dizer que o tempo é de seguir em frente, de ultrapassar o impasse que nos últimos três anos marcou a política britânica.
Concluído o divórcio com o bloco europeu, Johnson vai empenhar-se em negociar uma nova relação comercial com a União Europeia até ao final de 2020. O prazo é muito curto e o primeiro-ministro rejeita a extensão do período de transição, quando o Reino Unido se mantém no Mercado Único e é obrigado a respeitar as suas regras sem ter uma palavra a dizer sobre elas.
“Vamos ser capazes de seguir em frente, em conjunto. A lei garante que o período de implementação [do “Brexit"] tem de terminar a 31 de Janeiro sem possibilidade de extensão [do período de transição]. Abre caminho para um novo acordo sobre a nossa futura relação com os vizinhos europeus”, disse.
Posição alinhada com o do líder trabalhista, Jeremy Corbyn, que no debate disse ter chegado o tempo de “respeitar a decisão” de 2016 e de “seguir em frente”, apesar de o partido - que sofreu a sua maior derrota eleitoral desde 1935 - que sofreu ser contra o acordo que Johnson negociou com Bruxelas.
O Labour foi às eleições com uma posição de “neutralidade” sobre o “Brexit”, prometendo negociar um novo acordo com Bruxelas e, depois, submetê-lo a referendo, sem dizer de avanço a qual posição apelaria ao voto, se a favor ou contra. Posição diferente da qual disputou as legislativas de 2017, em que prometeu respeitar a vontade democrática dos britânicos, e que lhe custou históricos bastiões trabalhistas para os conservadores.
Derrotado nas urnas, houve quem, no círculo próximo de Corbyn, defendesse que os trabalhistas deveriam agora apoiar o acordo dos conservadores para se seguir em frente. Mas isso, responderam os críticos, seria a morte do partido por o eleitorado não perceber a mudança radical poucos dias depois das eleições. “[Este acordo] vai afastar-se dos princípios essenciais nos quais acreditamos, os de um país que olha por todos e protege as comunidades deixadas para trás pelos excessos do capitalismo desenfreado”, disse Corbyn na Câmara dos Comuns.
É tempo de seguir em frente, diz o líder trabalhista, mas não com o acordo “terrível” que Johnson negociou com Bruxelas. “Avisámos antes das eleições que o acordo do ‘Brexit’ do primeiro-ministo era péssimo para o nosso país e continuamos a acreditar hoje que é um mau acordo. Não vai proteger ou fortalecer os nossos direitos ou apoiar a nossa indústria e relações comerciais vitais, ou proteger a natureza num momento de crise climática”, disse Corbyn esta sexta-feira em Westminster. Mas pouco mais podem os trabalhistas fazer além de criticar.
Arma de arremesso
O líder trabalhista não tem dúvidas que o acordo do “Brexit” de Johnson será usado como “arma de arremesso” para o Reino Unido “caminhar na direcção de mais desregulamentação e de um acordo tóxico com Donald Trump”, um em que o Serviço Nacional de Saúde (NHS) “será vendido” em benefício das grandes empresas norte-americanas, acusou.
Uma das prioridades do Governo britânico, delineadas esta quinta-feira no discurso da rainha Isabel II, é precisamente a revisão da política externa e de defesa, para “repensar o lugar da nossa nação no mundo” e “promover e expandir a influência” do Reino Unido.
Downing Street não desmentiu estar a negociar acordos com os Estados Unidos, mas limita-se a dizer que depois de 31 de Janeiro o Reino Unido “estará livre para se sentar à mesa com outro países” e “começar conversações sobre o género de acordos que as negociações comerciais podem produzir”. “Há grandes oportunidades para o Reino Unido. Temos feito trabalho preparatório sobre os acordos de comércio”, disse o Governo britânico questionado pelo Guardian.
Contudo, não quis revelar se já tinha levado a cabo uma análise preliminar das oportunidades comerciais, diz o jornal britânico.
Na campanha eleitoral, Corbyn denunciou, com documentos oficiais em mão, que representantes britânicos e norte-americanos já tinham participado em seis rondas de negociação sobre um futuro acordo comercial, garantindo ainda que a privatização do Serviço Nacional de Saúde estava em cima da mesa.
Sem negar que as rondas tivessem decorrido, Johnson recusou que o NHS estivesse a ser abordado em negociações e prometeu que o iria fortalecer se ganhasse as eleições. E na quinta-feira prometeu consagrar na lei o orçamento multi-anual do NHS.
O Presidente norte-americano, Donald Trump, foi o líder mundial a congratular publicamente de forma mais efusiva a vitória eleitoral de Johnson e frisou que Washington e Londres podem firmar um acordo comercial, depois de concluído o divórcio com o bloco europeu. “Este acordo tem o potencial para ser bem maior e lucrativo que qualquer outro acordo com a UE. Boris, celebra!”, reagiu Trump no Twitter.