Johnson esmaga oposição e tem caminho livre para o “Brexit”

Conservadores alcançam maioria absoluta e trabalhistas afundam-se, com a pior derrota em 84 anos. Corbyn abre caminho à sua sucessão, tal como Jo Swinson (Liberais-Democratas). SNP arrasa na Escócia.

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Boris Johnson no discurso de vitória EPA/NEIL HALL

O Partido Conservador conseguiu uma vitória histórica nas legislativas antecipadas de quinta-feira no Reino Unido e tem via aberta para avançar com o “Brexit” até ao dia 31 de Janeiro de 2020.

O partido de Boris Johnson elegeu 364 deputados, contra apenas 203 do Partido Trabalhista, alcançando uma maioria de 78 lugares na Câmara dos Comuns quando falta apurar um assento parlamentar. Face ao resultado desastroso do seu partido, Jeremy Corbyn anunciou que não concorrerá às próximas eleições, abrindo caminho para uma luta pela sua sucessão.

O primeiro-ministro foi claramente bem-sucedido na difusão da sua grande promessa de campanha: cumprir a saída do Reino Unido da União Europeia a todo o custo. A vitória dos tories – que atingem a maior maioria parlamentar desde 1987 – acontece às custas de conquistas em vários círculos eleitorais de tradição trabalhista, particularmente no Norte e Centro de Inglaterra e no País de Gales.

“A nação ofereceu-nos um mandato histórico e temos de estar à altura do desafio e das expectativas”, defendeu Johnson esta sexta-feira, no seu discurso de vitória. “As pessoas querem mudança e nós não podemos e não vamos deixá-las ficar mal.”

Os planos do Partido Conservador passam agora por avançar o mais rapidamente possível para a aprovação de todos os passos legislativos sobre o acordo renegociado com Bruxelas. A proposta de lei do “Brexit” deverá voltar à Câmara dos Comuns no dia 20 de Dezembro.

“Vitória pessoal de Boris Johnson”

“Com esta maioria o acordo de Johnson está pronto a ir ao forno e deverá ser aprovado facilmente no Parlamento”, diz ao PÚBLICO Patrick Dunleavy, professor de Ciência Política e Políticas Públicas da London School of Economics and Political Science.

Dunleavy fala numa “vitória pessoal” do primeiro-ministro e destaca a eficiência da sua mensagem eleitoral: “É uma vitória pessoal de Boris Johnson. Depois de dez anos de governos conservadores, com austeridade pelo meio, Johnson conseguiu apresentar-se como uma figura de renovação. Liderou uma campanha com uma mensagem muito clara, baseada na ideia de saída rápida e organizada do Reino Unido da UE, e o eleitorado decidiu oferecer-lhe esse mandato.”

Labour entra em “reflexão”

Jeremy Corbyn, por seu lado, assumiu o fracasso da participação do Labour – teve o pior resultado desde 1935 – lamentando a centralidade do “Brexit” na campanha, “polarizando a sociedade, dividindo o debate e ignorando os restantes temas políticos”. E deu o pontapé de saída para mais uma disputa pela liderança do partido.

“Não liderarei o partido em futuras eleições legislativas. Vou falar com o partido para garantirmos que há um processo de reflexão sobre este resultado e nas políticas que quer assumir para o futuro. E liderarei o partido enquanto esse debate tiver lugar”, afirmou Corbyn, cuja impopularidade junto de algum eleitorado mais moderado, somada a uma estratégia errática sobre o “Brexit”, acabou por não convencer os britânicos.

Patrick Dunleavy acredita que “é um bocado inevitável” que o Labour “caminhe agora para uma posição mais centrista, em comparação com a que assumiu nesta eleição”, mas lembra que a saída de Corbyn “não significa que as suas ideias desapareçam com ele”.

“Muitas pessoas, principalmente jovens, apoiaram e deram o aval às suas políticas durante os últimos três anos”, recorda o académico. “Na próxima eleição interna do Partido Trabalhista haverá, seguramente, uma disputa entre um candidato corbynista e outro do centro-esquerda, mais tradicional”.

Outra liderança atingida por esta eleição foi a dos Liberais-Democratas, que falharam a toda a linha na estratégia de defender o cancelamento total do “Brexit”.

Jo Swinson não foi sequer eleita no círculo eleitoral escocês de Dunbartonshire East e acabou por se demitir, cinco meses depois de eleita para o cargo, prometendo ser “candidata a primeira-ministra” . Os LibDems elegeram penas 12 deputados.

Na Escócia, a outra vitória da noite

Na Escócia teve lugar a outra grande vitória eleitoral da noite. O Partido Nacional Escocês (SNP) aponta aos 48 deputados e domina o mapa escocês praticamente todo. A primeira-ministra, Nicola Sturgeon, afirmou que o desempenho do SNP consubstancia “uma mensagem clara” da Escócia contra a saída da UE.

“Espero que Boris Johnson, que sofreu uma dura derrota na Escócia, respeite o meu mandato”, disse Sturgeon.

Quanto aos restantes partidos, destaca-se uma subida relevante do número de votos no Partido Verde, que mantém a sua única deputada, Caroline Lucas, e o falhanço das candidaturas do Partido do Brexit. 

Nigel Farage, ex-UKIP, ainda tentou chamar para si alguma da responsabilidade pela vitória tory, mas o seu partido não conseguiu eleger qualquer deputado para o Parlamento.

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