Açores são o primeiro arquipélago do mundo com certificado de destino turístico sustentável
Graças aos Açores, Portugal entra para a lista de oito países com regiões certificadas pelo Global Sustainable Tourism Council. Entre a sustentabilidade e os recordes turísticos, o Governo açoriano defende que “o turismo só é bom para os Açores se for bom para os açorianos”.
Os Açores receberam esta quinta-feira o certificado de destino turístico sustentável, entregue pelo Global Sustainable Tourism Council (GSTC), sendo a primeira região do país e o único arquipélago do mundo a consegui-lo.
O certificado foi entregue no início do congresso anual da GSCT, que este ano leva 250 participantes de 42 países à ilha Terceira. A felicidade pela distinção era visível no rosto da secretária regional da Energia e Ambiente Turismo do Governo dos Açores, Marta Guerreiro, que recebeu o certificado das mãos de Luigi Cabrini, presidente do conselho de administração da GSTC, entidade formada em 2007 através de uma coligação entre 32 parceiros, que incluem a Rainforest Alliance, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), a Fundação das Nações Unidas e a Organização Mundial de Turismo (OMT). No fundo, a GSTC procura estabelecer padrões globais de turismo sustentável.
Os Açores começaram o processo de certificação em 2017, através da criação de uma “entidade coordenadora da sustentabilidade do destino turístico” para alcançar o feito. “Foram dois anos de muito trabalho, em tempo recorde, também porque já tínhamos muito trabalho de casa feito”, destacou Marta Guerreiro aos jornalistas.
O selo é da GSTC, mas o trabalho de auditoria foi feito pela Eartcheck, a entidade certificadora, que visitou três ilhas do arquipélago, um de cada grupo: São Miguel (grupo oriental), Terceira (grupo central) e Flores (ocidental). Avaliaram um conjunto de parâmetros, como a conservação da energia, da água, a emissão de gases com efeito de estufa, a qualidade do ar, a poluição ruidosa e luminosa, a gestão dos ecossistemas, os transportes e a gestão cultural e social.
Entre essas áreas todas, a governante explica que o processo de certificação teve duas grandes fases: uma primeira que analisou “um batalhão de indicadores”, como investimento em políticas ambientais, políticas de preservação, taxa de criminalidade e taxa de segurança, por exemplo; uma segunda fase, onde foram visitadas várias empresas e entidades, de modo a auditar comportamentos. “Tudo isso foi escrutinado e foi isso que nos permitiu chegar aqui e ter esta certificação”, afirma a secretária regional.
Luigi Cabrini apontou os Açores como um exemplo da “boa forma de fazer turismo”: “Os Açores são um exemplo da parte boa do turismo. Um arquipélago onde até a promoção e o destino é feito tendo em conta o real valor da ilha, a cultura, o ambiente, as tradições, até a maneira de preparar queijos”, afirmou, considerando a certificação dos Açores como “um óptimo resultado”.
O certificado que os Açores recebem é de grau Silver (prata), o que significa que ainda existe um patamar “ouro” a atingir. Guerreiro diz que a região “tem condições para ambicionar mais”, que é como quem diz, procurará atingir o mais elevado grau da certificação. “Este é o primeiro (grau) que é possível alcançar quando se faz a certificação, mas, com a permanência na certificação, temos condições para ambicionar mais, não é um dado adquirido, exige trabalho”.
Tanto não é um dado adquirido que apenas é válido durante um ano. Por isso, Cabrini frisa que a certificação “é um processo em curso” e um “desafio para melhorar”. “Não podemos de todo pensar em perder essa certificação”, alerta Guerreiro.
Turismo nos Açores bate recordes
Sobretudo desde da chegada das low-cost, em 2015, o turismo dos Açores explodiu. E continua a explodir. Por exemplo, em Setembro deste ano, as dormidas em hotéis, alojamentos locais e espaços de turismo rural chegaram às 326 mil, um acréscimo homólogo de 11,9%. Números que fizeram alguns sectores da sociedade açoriana reclamar dores de crescimento.
Os estudantes já se queixaram da falta de alojamento (culpando a propagação de alojamentos locais) e alguns ambientalistas alertam para a necessidade de limitar os acessos a alguns pontos turísticos. Mais do que “limitar”, Marta Guerreiro frisa à Fugas que importa “gerir”, ou seja, apostar “segmentos turísticos respeitadores” do património. “Quando se duplica os principais indicadores turísticos”, diz, “é natural” que se “sinta mais em algumas localizações” e que as “pessoas questionem”.
Luigi Cabrini prevê que o número de turistas nos Açores continue a aumentar – e diz que “há espaço para isso”: “É preciso é ter uma estratégia sempre em mente para evitar o que aconteceu em outros destinos, onde a qualidade do turismo se deteriorou e os residentes sentiram mais impactos negativos do que benefícios”.
Cenário que a secretária regional quer afastar: “O turismo só é bom para os Açores se for bom para os açorianos.”