Portugal triplicou num ano valor pago em comissões de vendas de jogadores
Intermediários embolsaram mais de metade do montante que os clubes nacionais gastaram em reforços desde o mês de Janeiro. No total, foram 41,6 milhões de euros respeitantes a 41 transferências em 2019.
Portugal triplicou, de acordo com o relatório dos primeiros 11 meses de 2019 disponibilizado pela FIFA sobre intermediação em transferências internacionais, o valor pago em comissões referentes a vendas de jogadores, destacando-se como o país que mais gastou para “exportar” durante este período. No total, atingiu os 46,1 milhões de dólares (cerca de 41,6 milhões de euros) em 41 operações, contra os 15,4 milhões de dólares (13,9 ME) de 2018, em 34 vendas registadas no Transfer Matching Sytem (plataforma digital que verifica os dados das transferências internacionais desde Janeiro de 2013).
Em termos absolutos, englobando a intermediação nas 144 transferências realizadas neste modelo, Portugal surge no quarto lugar (com 70,5 ME despendidos) de um ranking encabeçado por Itália (117,7 milhões), Inglaterra (que perdeu a liderança, com 93,5, baixando uma posição face ao ano anterior) e Alemanha (76,3). Curiosamente, os clubes portugueses pagaram em comissões mais de metade do valor gasto em reforços (cerca de 164 milhões de euros).
Desta forma, Portugal contribuiu ainda para os números esmagadores da UEFA, responsável por 80% dos gastos globais em comissões pagas aos intermediários, somando apenas os seis principais membros daquele organismo, com Espanha e França a surgirem logo depois de Portugal.
A suportar os números dos clubes portugueses neste período estão negócios como as vendas do ex-benfiquista João Félix, por 120 milhões de euros (recorde de 2019), e do antigo central do FC Porto Éder Militão, respectivamente para Atlético e Real Madrid, bem como as aquisições de Raúl de Tomás (20 ME) e Carlos Vinícius (17), pelo Benfica, ou de Nakajima (12 ME, por 50% do passe) e Uribe (10), pelo FC Porto, para mencionar apenas os mais significativos.
Neste particular, o das compras, é de referir uma ligeira variação de 3,5 milhões de euros, com os emblemas lusos, apesar de pagarem mais em comissões do que em 2018, a diluírem esse valor em mais 28 transferências, passando de 75 para 103 em 2019. Até final de Novembro, e no outro prato da balança, assumiram 28,9 ME referentes a valores pagos a intermediários enquanto clubes compradores.
Numa visão geral, sem contabilizar o último mês do ano, 2019 rendeu um total de 590,1 milhões de euros em comissões, o que traduz um aumento de 19,2% relativamente ao ano anterior, mantendo-se a tendência que onera em cerca de dois terços da verba total os clubes compradores, quando comparado com os “exportadores”, como é o caso de Portugal, que surge igualmente nos lugares cimeiros em matéria de intermediação na qualidade de vendedor.
Ainda assim, os números representam apenas a ponta de um icebergue que revela a cada vez mais apurada capacidade dos clubes para procurarem reforços a “custo zero” ou em final de contrato. Esta realidade esmaga a margem de intermediação do lado das vendas, com apenas 395 em 17.896 transferências internacionais a envolverem pelo menos um “empresário” vinculado aos clubes que vêem sair “activos” sem qualquer compensação. Simplesmente porque dois terços das transferências internacionais são precisamente de futebolistas sem vínculo, deixando, na prática, de existir a figura de clube de origem.
Na qualidade de “investidor”, Portugal surge agora no penúltimo lugar do top 10 dos países que recorrem a intermediários para contratar, com pouco mais de uma centena de operações dependentes de um ou mais “agentes” (15,9% do total). Isto quando há um ano não figurava sequer entre os mais “influentes” nesta categoria. Em contraciclo, apesar de continuar a dominar neste parâmetro, a Itália segue na frente do pelotão, com 40,5% (para 150 transferências), seguida da Inglaterra (36,4% — 252), País de Gales (29,1% — 34) e Japão (24,8% — 38). Há, porém, diferenças entre as transacções milionárias e as mais modestas (até 1 milhão de euros), em que a percentagem da comissão varia de forma inversamente proporcional.