Manila improvável
Os leitores Pedro Martins e Liz Resende partilham a sua experiência na capital das Filipinas.
O calendário de voos fez-nos chegar a Manila às duas da manhã. De todos os países do Sudeste asiático que tínhamos visitado até ao momento, e dos que ainda faltava percorrer, as Filipinas eram aquele em relação ao qual nos tinham avisado para termos alguma cautela. Eram demasiados conselhos para ignorarmos, o que por um lado é bom, porque nos deixa alerta, mas por outro desponta a apreensão.
Estabelecida a conexão com o wifi gratuito do aeroporto, chamamos um Uber (neste caso, tratou-se de um GRAB, uma empresa que presta o mesmo serviço). A distância até ao nosso alojamento na Cidade de Quezon, uma localidade contígua à capital, era cerca de 25 km. Chega o nosso condutor, num carro preto tunning de vidros completamente fumados e um aileron traseiro que dava nas vistas. Apesar do aspecto duvidoso, lá entrámos, com a pressa de chegar ao hotel e descansar os corpos moídos por um dia de viagem exaustivo.
Após uma breve troca de palavras, seguimos por uma auto-estrada a uma velocidade extremamente lenta dada a ausência de trânsito. O indivíduo tomava umas atitudes estranhas para quem vai ao volante, parecendo procurar algo onde aparentemente não havia nada. A dada altura, desvia-se claramente da rota e entra numa área escura como o breu onde apenas se podiam ler em grandes placas os avisos com letras garrafais: “CUIDADO – ZONA DE TRÁFICO DE DROGA!”. Uma sinalética inédita e que não agoirava nada de positivo!
A velocidade começou a diminuir e uma horda de zombies (vamos usar este nome metafórico) surgia na beira da estrada olhando misteriosamente para aquele carro preto no meio do nada. O nosso sangue gelou e os pensamentos mais terríveis assolaram as nossas cabeças! Tomava-se tão certo um trágico destino que só queríamos mitigar a situação, pois evitá-la parecia de todo impossível. E eis que, com o mesmo vagar com que penetrámos no beco mais delinquente de Manila, continuámos e fomos sair a umas poucas centenas de metros do local onde entráramos. Retomámos a estrada principal e o fôlego!
Manila é uma cidade fantástica que vibra em cada esquina! A primeira impressão que se tem quando se chega a esta capital é a de que aterramos na América Latina. Os jeitos e trejeitos deste pessoal, a expressão corporal, toda a musicalidade da linguagem, destoam da serenidade dos povos dos países vizinhos. Aqui tudo é animado! O sangue que corre nas veias é mais quente e efusivo!
Embora não seja um destino turístico de predilecção, Manila deve ser visitada pelo simples facto de ser única, original e completamente diferente das ilhas paradisíacas pelas quais o país é admirado.
Os passeios fazem-se em transportes locais: autocarro, comboio, tuk tuks e nos famosos Jeepneys (Jeeps de guerra adaptados para o transporte de passageiros e utilizados em curtas distâncias). De dia o trânsito é sempre caótico, pelo que não deve haver lugar mais apropriado para utilizar o famoso ditado: “A paciência é uma virtude”, ao que podemos acrescentar “se não podes vencê-los, junta-te a eles”. Como em qualquer destino mais improvável, a vivência dos usos e costumes locais faz parte da experiência e é o melhor que se consegue tirar de todas as viagens.
A grande maioria das atracções está localizada na zona de Intramuros, nomeadamente o Forte de Santiago, a catedral e toda a envolvente de ruas e arquitectura marcada pelo tempo e palco dos maiores acontecimentos históricos desta nação. A marginal que tem vista para a baía é também um espaço de eleição, tanto dos visitantes como dos autóctones. Aparte disso, existem algumas praças e museus que podem ser desfrutados consoante o interesse e tempo de cada um, sendo que a deambulação pelas ruas e vielas da metrópole é tão cativante como desafiadora.
No fim desta curta passagem pela capital de um país com mais de 7000 ilhas e que inicialmente se apresentou inóspita, fica uma imagem muito agradável, forte e singular!
Pedro Martins (@bandazeninguem) e Liz Resende (@liz_resende)