Assessor de Joacine queixa-se de interrupções permanentes, “cerco” e “mercantilização da informação”

Em declarações à Rádio Observador, assessor de deputada do Livre explica que o Livre não quer implementar a cultura de chamar seguranças para acompanhar Joacine, mas, se não deixarem a parlamentar trabalhar, “não há outra forma”

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Rafael Esteves Martins com Joacine Katar Moreira LUSA/MIGUEL A. LOPES

Rafael Esteves Martins já vinha fazendo referências mais ou menos claras à pressão jornalística que a deputada do Livre tem sentido no Parlamento, mas esta quarta-feira de manhã, na Rádio Observador, partiu a loiça. Em directo, o assessor de Joacine Katar Moreira queixou-se das solicitações permanentes dos jornalistas, revelou que um repórter tentou invadir o gabinete da parlamentar e ainda deixou um recado, após explicar por que razão pediu a um GNR que escoltasse Joacine: “Não é essa a cultura que queremos implementar [a dos seguranças], mas, se não nos deixarem trabalhar, não há outra forma.” No Twitter, Rafael Esteves Martins encerrou a polémica com um “larguem o osso”.

Numa entrevista rara – não é habitual os assessores darem entrevistas Rafael começa por responder a perguntas sobre o episódio que envolveu a deputada do Livre, na terça-feira ao fim do dia, e que gerou um momento televisivo viral. Nas imagens inicialmente transmitidas pela RTP, vê-se a deputada a ser acompanhada nos corredores parlamentares por um GNR sem farda, enquanto um jornalista da SIC tenta colocar-lhe questões sobre o projecto de Lei da Nacionalidade do partido, que deu entrada numa altura em que já não podia ser arrastado para a discussão sobre o assunto, marcada para o dia 11 de Dezembro.

“A senhora deputada estava a participar num documentário da Al Jazira ​a ser filmado naquele momento no salão nobre e como se trata de um museu [o Palácio de São Bento] o uso destas salas de carácter histórico necessita de vigilância. O sargento que estava não fardado, mas identificado, ao lado da sala, foi por mim avisado para avisar os senhores jornalistas para não interromperem as filmagens, dado que de um documentário se tratava”, começou por explicar o assessor. “No momento seguinte, e tendo em conta que houvera um jornalista que entrara na nossa sala de apoio, achei por bem solicitar ao guarda que estava em funções para acompanhar a senhora deputada até ao seu gabinete. Não foi para sair do Parlamento”, acrescentou Rafael Esteves Martins, estranhando que jornalistas “residentes na AR” tenham veiculado “a informação errada” ao dizerem que o guarda era um segurança. “Isto cria uma desinformação desnecessária”, queixou-se.

Foi apenas a primeira queixa. A seguir, o assessor assumiu que “não é possível fazer um trabalho claro, esclarecido e lúcido quando as pessoas estão a constantemente a interromper”. “Quando estamos a trabalhar, e em particular num projecto de lei que foi submetido, não conseguimos fazê-lo se tivermos constantemente a presença de jornalistas, de chamadas, de emails, etc.. Não conseguimos trabalhar se continuarem a pedir informações que, a nosso ver, não são do interesse público”, disse. O assessor, que é também chefe de gabinete da deputada, referiu-se então a “hábitos mediáticos”, como o de “cercar o entrevistado ou entrevistada para que este não se consiga mover”, para justificar a presença do GNR junto a Joacine.

Esperar para ver

Sobre a questão do projecto de lei, que acabou por dar entrada nos serviços ainda na terça-feira, mas já fora do prazo para ser debatido no dia 11, Rafael Esteves Martins lembrou que “os deputados têm iniciativa legislativa, independentemente dos agendamentos ou dos arrastamentos que houver”. Em última instância, “eles podem estar a submeter projectos de lei semelhantes constantemente”, afirmou. “Há mecanismos legais para o ver discutido no dia 11. Foi requerido ao senhor presidente da Assembleia da República um arrastamento e depois logo se verá. Há uma desinformação a ser veiculada que é completamente desnecessária e que não nos deixa trabalhar”, insistiu.

A invasão do gabinete da deputada, que Rafael Esteves Martins já tinha referido no Twitter, foi, apesar de tudo, o assunto principal da entrevista. “Um jornalista, durante a tarde, entrou-nos pelo gabinete adentro. Normalmente são pedidas audiências ou entrevistas através das suas assessorias ou partidos. Isto cria um ambiente desadequado de trabalho político”, referiu, para acrescentar: “Não há uma normatividade daquilo que se faz. Há culturas de trabalho e a cultura de trabalho da senhora deputada é uma cultura de descanso no sentido intelectual do termo, ou seja, sem interrupções. Lamento imenso, mas ter pessoas a bater-nos à porta como se fosse uma casa de atendimento público, que não é o caso, cria impedimentos no trabalho que são prejudiciais a uma deputada única, volto a referir.”

O momento radiofónico não terminou sem que o assessor de imprensa acusasse a comunicação social de querer ganhar dinheiro com a deputada. “Quando tenho jornalistas a interromper reuniões de trabalho, a exigir falar com a senhora deputada, eu percebo isso – na verdade, os jornais ganham imenso dinheiro e imensos cliques com a senhora deputada – mas justamente por eu saber isso é que não podemos participar desta mercantilização da informação que, de resto, não informa nada, a meu ver.”

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