O que vai acontecer a Hong Kong é angustiante. Sem piedade, Pequim esmagará todos os movimentos pró-democráticos. Sem ceder a pressões internacionais, irá purgar toda a região: foi assim no Tibete, está a ser assim em Xinjiang e em Hong Kong não será diferente. Os opositores do regime serão obliterados: foi assim com o Nobel da Paz Liu Xiaobo, Ai Weiwei quase foi pelo mesmo caminho e o jovem activista Joshua Wong corre os mesmos riscos. A liberdade de expressão será suprimida, os programas orwellianos de vigilância massiva importados da China continental, a internet censurada.
Nas últimas semanas, apesar dos riscos, os estudantes universitários intensificaram os protestos. Insubmissos, todos os dias arriscam a vida para defender um futuro livre de opressão. A polícia responde com detenções indiscriminadas, gás lacrimogéneo e balas de borracha. O espectro de Tiananmen paira no ar.
Apesar da corajosa resistência contra um regime que despreza os direitos humanos e que é incapaz de tolerar vozes dissidentes, Hong Kong irá sucumbir. O futuro destes jovens será arruinado. É agoniante não saber como reagir a esta calamidade.
Na verdade, há pelo menos uma reacção que se impõe: e se para dignificar os estudantes universitários que se opõem a regimes autoritários pelo mundo fora não se praticassem actividades que promovem a autoridade totalitária e antidemocrática, a hierarquia arbitrária, a obediência cega, a punição física e a violência psicológica nas universidades portuguesas? Sim, estou a falar da praxe, mas não dos que a comandam.
Os meninos e meninas de 18 aninhos que chegam todos os anos à universidade não são estúpidos. Talvez se tenham candidatado à universidade pelas razões erradas, mas foi-lhes concedido o privilégio de ingressar no templo da racionalidade. Será que quando os guardiões do conhecimento os vêem cair nas garras de outros meninos e meninas, um pouco mais velhos e vestidos de negro, não percebem que os ECTS, as frequências e as aulas de introdução à estatística ou ao empreendedorismo deveriam passar para segundo plano?
Tal como aos meninos e meninas de Hong Kong, não falta inteligência e afectuosidade aos nossos meninos e meninas recém-chegados ao ensino superior. Têm todos a capacidade para filosofar e reflectir sobre as implicações de andar o ano inteiro a brincar aos pequenos ditadores. Não os passem para o segundo ano sem que eles as compreendam.
Vamos lá senhores catedráticos. Ajudem-nos, por Hong Kong.