Lina e Räul “Refree” visitam Amália mas não levam guitarras

A fadista começa por estes dias a mostrar em palco o seu encontro com o músico catalão. O disco a dois chega em Janeiro, mas Lisboa, Caldas da Rainha, Coimbra e Braga podem antecipar a partir desta sexta-feira que novos caminhos oferecem aos fados de Amália.

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Há quase 13 anos no elenco profissional no Clube de Fado, Lina tinha o fado dentro de si desde a infância. Lembra-se de o fado lhe ser passado pela avó mas sobretudo pelo pai, e não pode deixar de evocar a primeira vez que cantou Novo fado da Severa (Rua do Capelão), em cima do tractor do pai, numa paisagem rural pouco condizente com a rua da Mouraria onde morreu Maria Severa e nasceu Fernando Maurício — e que dá nome ao fado popularizado por Amália Rodrigues. Agora, que decidiu avançar finalmente para o seu disco de estreia, foi precisamente ao reportório de Amália que se agarrou. Porque sempre foi Amália a sua “maior influência” e por estar habituada a dar voz a estes temas, todas as noites, no Clube de Fado.

Só que era claro para Lina que, chegado o momento de se mostrar ao mundo em disco pela primeira vez, teria de descobrir uma abordagem diferente para o seu fado, que não assentasse em interpretações puristas do género nem a repetir tudo aquilo que tantos outros intérpretes já fizeram. E foi então que lhe sugeriram encontrar-se com Raül “Refree”, músico catalão profundamente ligado ao início dos percursos discográficos e de palco de Sílvia Pérez Cruz e Rosalía, por exemplo. Foi no Clube de Fado que Raül a escutou pela primeira vez e foi por ali que os dois combinaram alguns dias em estúdio para perceberem “se haveria ou não empatia, se haveria uma intuição musical” que os unisse e permitisse trilhar um caminho a dois. É o resultado desse caminho que apresentam agora em palco, numa curta digressão de quatro concertos — sexta-feira no Teatro São Luiz (Lisboa), sábado no Centro Cultural das Caldas da Rainha, domingo no Convento de São Francisco (Coimbra) e a 27 deste mês no Theatro Circo (Braga), no âmbito do Misty Fest.

O álbum chegará apenas a 17 de Janeiro, pela editora alemã Glitterbeat Records, e recria temas clássicos de Amália como Foi Deus, Avé Maria fadista, Gaivota ou Medo a partir de uma instrumentação particular. Refree, que ao lado de Rosalía aplicara também a sua escola de um rock desalinhado ao flamenco, fugindo a abordagens clássicas, deixou agora a guitarra encostada ao suporte e preferiu dialogar com a voz de Lina com recurso a teclados e piano, inventando novos ambientes para cada um dos fados.

Para Lina, que sabia “querer fazer algo diferente, mas não sabia exactamente o quê”, foi um encontro que a ajudou a perceber a que soa a sua voz fora das casas de fado e longe dos mandamentos tradicionais do género. Essa descoberta, garante, está longe de poder dá-la por terminada, uma vez que cada concerto é guiado por um sentido permanente de improvisação entre os dois, procurando ocupar novos lugares dentro de fados de fácil reconhecimento popular. E é em palco, agora, que vamos começar a perceber que lugares são estes.

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