O renascimento de um quadro de Botticelli deve-se a um programa de televisão
Museu Nacional de Gales trabalhou juntamente com programa da BBC 4 Lost Masterpieces.
Uma pintura que estava identificada como uma cópia de Botticelli foi agora resgatada como uma obra do mestre do Renascimento italiano.
O quadro, que representa a Virgem e o Menino, faz parte da colecção do Museu Nacional de Gales e é surpreendente a semelhança do rosto da Madonna com a deusa do amor que vemos surgir das águas na obra O Nascimento de Vénus, pertencente à Galeria dos Uffizi, em Florença, e uma das obras mais famosas de Sandro Botticelli (1455-1510).
A identificação foi feita pelo programa Lost Masterpieces, transmitido esta semana pela BBC 4, que trabalhou com especialistas do museu, defendendo que esta é uma obra original do artista florentino. “Quando vi pela primeira vez a pintura nas reservas do museu, fiquei surpreendido com a extraordinária beleza do rosto da Virgem”, disse Bendor Grosvenor, historiador de arte e apresentador do programa. “Apesar de os vários repintes que a obra sofreu, partes dela lembravam-me a pintura mais famosa de Botticelli, O Nascimento de Vénus. Actualmente, estou convencido que Botticelli teve um papel importante na sua produção”, acrescentou Grosvenor, citado pela BBC Online.
A pintura encontra-se no museu de Cardiff desde 1952, tendo sido doada, antes da sua morte, por Gwendoline Davies, uma mecenas das artes do País de Gales, que acreditava tratar-se de um Botticelli saído do atelier do artista florentino. Davies e a sua irmã, igualmente uma coleccionadora, compraram a pintura em 1920 ao marchand inglês Hugh Blaker, que por sua vez a tinha adquirido à Christie's. Comprada num leilão por 105 libras (123 euros) em 1915, estava atribuída à Escola de Botticelli.
A fortuna do quadro no museu nunca foi a melhor e a obra acabou guardada nas reservas durante décadas. Mas, depois da visita às reservas de Bendor Grosvenor, cujo programa vasculha as colecções públicas britânicas à procura de obras mal identificadas, a pintura foi submetida a um estudo por uma equipa do museu liderada pelo conservador Simon Gillespie, revelando as suas qualidades depois de uma intervenção de conservação e restauro. Fotografias de infravermelhos mostraram um desenho subjacente típico de Botticelli, como as mudanças introduzidas na área das mãos, e um esboço de um rosto masculino que a equipa de especialistas também acredita ter saído da mão do mestre italiano, diz o jornal WalesOnline.
“Os resultados são impressionantes e demonstram o papel fundamental que a conservação tem para entendermos o nosso património”, defendeu Adam Webster, conservador chefe do museu, citado pela imprensa britânica.
Simon Gillespie descobriu também que a arquitectura renascentista que enquadra a Virgem e Jesus — que tem na mão uma romã, símbolo da ressurreição — é um acrescento posterior. O arco de desenho clássico terá sido pintado no século XX, provavelmente para esconder que o quadro tinha origem numa pintura de maiores dimensões.
Segundo a BBC, o museu decidiu conservar o acrescento, considerando que já faz parte da história da pintura. A pintura já está exposta em permanência nas galerias do museu.