Sánchez Cameron
Na sua miopia política, o chefe do Governo espanhol como o antigo premier do 10 de Downing Street tiveram vistas curtas.
O antigo primeiro-ministro britânico lançou o referendo à permanência do Reino Unido na União Europeia com o intuito de se manter no poder e tranquilizar os tories eurocépticos. O resultado foi o que se viu, o “Brexit”. O chefe do Governo espanhol, Pedro Sánchez, convocou eleições para 10 de Novembro e o score foi a negação dos seus propósitos.
Contas feitas ao escrutínio, os socialistas perderam três deputados, a Unidas Podemos de Pablo Iglesias ficou com menos sete e a estreante Mais País dos dissidentes de Iglesias somou três parlamentares. A soma da esquerda possível na aritmética de Sánchez foi, assim, de 158 parlamentares, bem longe dos 176 da maioria absoluta.
À direita, o PP conseguiu eleger mais 22 deputados, o Cidadãos desfez-se, perdendo 47, e a extrema-direita do Vox mais do que duplicou os seus eleitos. O resultado deste bloco soma 150 deputados, não garantindo também governabilidade.
Para tal, é indispensável adicionar nacionalistas, independentistas, regionalistas e anti-sistema, um processo tão laborioso como politicamente errático, donde impossível. Como se afigura difícil um acordo entre Sánchez e o líder do PP, Pablo Casado, até porque o socialista prometeu aos poucos fiéis à porta da sua sede que irá constituir um governo progressista. Seja lá o que isso for, e com quem for, esta promessa não esconde a herança.
A táctica de Pedro Sánchez falhou. Se o Cidadãos passou à história e está na irrelevância política, o número de eleitos de Casado subiu, estando agora policiados pelo Vox, sem margem de manobra. O independentismo resistiu, o nacionalismo também e ressuscitou mesmo o Bloco Nacionalista Galego.
As margens afirmaram-se, de Teruel à CUP, que incendeia Barcelona, a centralidade e a referência constitucionalista está num imbróglio de contradições. Inoperante.
Mas há mais. Na noite eleitoral, os técnicos de sondagens que monitorizaram diariamente o eleitorado revelaram quão errada foi a táctica de Sánchez. Em três momentos – na reacção da Catalunha à sentença dos acusados do referendo ilegal de 1 de Outubro de 2017, à exumação dos restos de Franco do Vale dos Caídos e na sequência do debate entre os cinco líderes – os socialistas perderam gás e o Vox afirmou-se.
A data da sentença do Supremo era previsível, o dia e a hora da retirada do ditador do mausoléu, ainda que adiado pelos recursos judiciais da família, foi decidido pelo Governo, e o bom desempenho do líder do Vox no debate a cinco era expectável quando o tema era a situação na Catalunha.
Na sua miopia política Sánchez, como Cameron, teve vistas curtas.