“Os eleitores espanhóis já perceberam que são precisos acordos, os líderes políticos nem por isso”

José Pablo Ferrándiz, do centro de sondagens Metroscopia, dá crédito às projecções que dão um aumento na votação do Vox nas eleições e fala numa estratégia “falhada” do Cidadãos.

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Os cinco líderes dos principais partidos, reunidos na segunda-feira para um debate televisivo EPA/Juan Carlos Hidalgo

Sociólogo e investigador do centro de sondagens Metroscopia, José Pablo Ferrándiz acredita que o eleitorado já se adaptou ao fim do bipartidarismo e à política de blocos em Espanha, ao contrário das lideranças partidárias. Em conversa telefónica com o PÚBLICO, Ferrándiz admite aumento da abstenção nas eleições deste domingo e o crescimento da extrema-direita.

O novo bloqueio previsto pelas sondagens é um efeito da nova etapa pentapartidarista da democracia espanhola?
Quando Podemos e Cidadãos apareceram, nas eleições de 2015, todos os politólogos e sociólogos avisaram logo que o multipartidarismo vinha para ficar e que o período do bipartidarismo era para esquecer. Sem possibilidade de haver maiorias absolutas, o caminho passa agora por fazer acordos e criar coligações para se poder governar. Os eleitores já perceberam isso, os líderes políticos nem por isso. Evoluímos de um bipartidarismo para um “bibloquismo”. Temos dois blocos que, por culpa dos vários líderes partidários, são incapazes de fazer compromissos.

A grande diferença, em comparação com as últimas eleições, em Abril, é o previsível descalabro do Cidadãos. Como se explica?
O Cidadãos apareceu com dois grandes projectos: viabilizar maiorias a partir do centro e ser instrumento de renovação política. Só que essa renovação acabou por ser feita recorrendo a pactos com o Vox, de extrema-direita, concretamente na Andaluzia e em Madrid. O partido acabou por se afastar do centro porque acreditou que podia ser a principal força política à direita. Mesmo que por poucos votos, falhou esse objectivo nas últimas eleições. Mas manteve a ambição e deixou o centro desocupado, para PSOE e PP aproveitarem agora. Foi uma estratégia falhada, mais ainda porque foi acompanhada pela perda de influência na Catalunha, o seu grande tema durante muito tempo. 

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José Pablo Ferrándiz, sociólogo da Metroscopia DR

Para onde irão os seus eleitores?
A maior parte, mais moderada, deve migrar para o Partido Popular. Um outro grupo há-de ir para o Vox, por causa da frustração com a questão catalã. Outros irão para a abstenção e haverá uma fuga mínima para o PSOE. Prevêem-se perdas de votos em várias frentes. É o partido mais poroso de todos. Noutras eleições isso permitiu-lhe crescer para o centro-esquerda e para o centro-direita, mas desta vez o efeito será o contrário.

Nas últimas eleições o Vox elegeu menos deputados do que se previa. E desta vez?
Na verdade, antes das últimas eleições não houve nenhuma sondagem a dar tantos votos e deputados ao Vox como as que há agora. Nenhum instituto minimamente sério fê-lo. Na altura cheguei a comentar com jornalistas que conheço: “Isso é o problema criado por vocês, falam nesses números, mas nunca os comprovaram.” A grande maioria dos estudos que, supostamente, davam 50 ou 60 deputados ao Vox, vieram das redes sociais, do WhatsApp, mas as fontes não foram sequer consultadas. Isso criou um equívoco.

Mas agora a estimativa dos 50 deputados é realista?
Sem dúvida, principalmente se tivermos em consideração as circunscrições eleitorais mais pequenas. Em Abril houve muitas disputas entre Vox e Cidadãos nesses círculos, decididas por poucos votos. A queda de um pode implicar a possível subida do outro. É até possível que o Vox venha a ultrapassar os 50 deputados previstos nas sondagens.

A estreia do Mais País pode baralhar o voto à esquerda?
Penso que não. Talvez nem eleja os cinco deputados que se prevêem, em parte devido à decisão apressada de [Íñigo] Errejón de querer participar já nestas eleições. O Mais País não deverá sequer roubar muitos votos ou deputados à coligação de esquerda, representada pelo Unidas Podemos.

O cansaço eleitoral pode fazer aumentar a abstenção?
A última eleição teve uma participação de 75,7%, que é elevada. O debate televisivo de segunda-feira reactivou um pouco o entusiasmo, mas, ainda assim, prevê-se uma participação inferior a 70%, mesmo que maior que a da repetição eleitoral de 2016 [66,5%]. O sentimento geral é de cansaço, há muita gente farta de política. Muitos dos que disseram, nos inquéritos, que vão votar, podem chegar a domingo e mudar de ideias.

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