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Os super Papa-Letras no combate às fake news
O presente é mesmo futuro e a educação é uma jornada decisiva na construção desse futuro. Que os Papa-Letras de cada escola e cada projecto destes permitam ter no futuro uma sociedade mais participativa, coesa e capaz de exercer a sua cidadania.
O projecto PÚBLICO na Escola foi apresentado esta terça-feira, 5 de Novembro, e com ele o Concurso Nacional de Jornais Escolares. E se podia ser pelo saudosismo dos jornais de escola que esta notícia me despertava curiosidade, na realidade é bem mais do que isso. É pela importância que hoje deveria assumir, para qualquer cidadão, a interpretação do mundo que nos rodeia e pela capacidade que estes projectos ainda têm de ser catalisadores de mudança.
O Papa-Letras foi o meu primeiro jornal e o meu catalisador. Era uma responsabilidade enorme escrever nas páginas que todos na escola, os professores, os pais e até a comunidade local, iriam ler. Lembro-me que qualquer frase ali escrita era lida mil e quantas vezes, até eu estar super confiante que era a melhor frase.
O bichinho pela escrita e pelo jornalismo ficou desde então. Do Papa-Letras ainda hoje trago comigo a importância da notícia, da sua veracidade e do seu fim, informar. Trago o entusiasmo de ler uma boa reportagem, que envolve e faz querer saber mais sobre o assunto. Trago o espírito crítico que me faz questionar cada manchete ou tablóide e me faz seleccionar o jornalismo de confiança. Trago a avidez de querer ler e ouvir o que se passa todos os dias, no país e no mundo.
Contudo, se olharmos para o presente com Web Summit, com a (r)evolução digital que nos chega a todos os minutos, estes Papa-Letras podem ficar esquecidos. As crianças e os jovens de hoje têm um mundo de informação à disposição, nos scrolls das redes sociais ou dos vídeos de YouTube, e tanto mais que pode surgir. E tudo isto pode ser fantástico, o único “se” é mesmo o risco da desinformação, da propagação das fake news e da cada vez mais fugaz leitura dos factos.
O desafio dos media é não cair na tentação do imediatismo per se — e, principalmente, do mediatismo que pode trazer as fake news. E esse desafio é levado a outro nível se deste lado estiverem leitores críticos, que sejam capazes de fazer o contraditório, ser exigentes e distinguir jornalismo responsável de propaganda e desinformação.
O presente é mesmo futuro e a educação é uma jornada decisiva na construção desse futuro. Que os Papa-Letras de cada escola e cada projecto destes permitam ter no futuro uma sociedade mais participativa, coesa e capaz de exercer a sua cidadania.