Não é novidade nenhuma que tudo o que é de mais é erro. Vi a minha geração crescer ao mesmo tempo de algumas das redes sociais mais conhecidas. Tinha tudo para dar certo, não fosse o uso excessivo e desmedido das mesmas. Preocupa-me saber que não se distingue a realidade da ficção. Preocupa-me saber que não se medem consumos e reacções — e como, consequência disso, temos uma geração triste, cansada e doente.
Segundo uma investigação da britânica Royal Society for Public Health, o Instagram é o maior vilão da saúde mental dos jovens. A rede social está relacionada com problemas de sono, FoMO (“Fear of Missing Out” — “medo de ficar de fora”, numa tradução livre para português), bullying, ansiedade, depressão, solidão e imagem corporal. Por falar em imagem, o que também não é novidade nenhuma -— ou pelo menos não devia ser — é que a maioria das imagens e publicidades que consumimos nas redes sociais não correspondem à realidade.
É urgente fazer uma triagem do que é importante e verdadeiro entre o que é acessório e não nos faz falta: dietas aleatórias prescritas por quem nada sabe sobre nutrição, conselhos de beleza infalíveis que só resultam com uma pessoa, vidas hiper mega interessantes com pequenos-almoços à beira mar que só nos fazem acreditar no quão desinteressante é a nossa vida. Sem esquecer os 1001 frasquinhos de suplementação que resultam num corpo perfeito. Vamos vivendo nesse mundinho viciado, desprovido de conteúdo rico, e caímos num processo contínuo de desilusão porque nem estes milagres resultam, nem conseguimos mudar a nossa vida para melhor.
O problema é reforçado pelos algoritmos, que vão apresentando continuamente o mesmo tipo de conteúdos. Não que o problema esteja só do lado “de lá”. E não se prende só a esta série de temas corriqueiros. O que também acaba por nos influenciar negativamente é a facilidade de conversação e de resposta nestas plataformas. Seja nos comentários, nas partilhas, nas mensagens privadas. Não há regras base de convivência no digital. A troca de insultos é mais fácil, os utilizadores não medem reacções. É tudo fácil. Todos têm, geralmente, uma opinião negativa a partilhar.
Ora, se somos confrontados com palavras ácidas, de ódio, de revolta e estupidez — diariamente — é muito provável que isso nos afecte, mesmo que inconscientemente. Nem tudo é mau nas redes sociais e no seu propósito, mas se fazemos um mau uso das mesmas temos que fazer reset e perceber até que ponto isto nos está a afectar irrepreensivelmente. De nada vale abordar certas questões se também não pensarmos em potenciais soluções.
Então, como podemos usar as redes sociais de forma mais saudável? Estabelecer um horário fixo para visitar os perfis nas redes sociais — de forma a não dedicarmos demasiado tempo às mesmas. Gerir e adaptar o feed às nossas preferências, o que implica gerir a publicidade com que somos impactados. Façam estas perguntas: esta informação acrescenta-me? Influencia-me de forma positiva? Se a resposta for não, é só bloquear. Pensar antes de expor: uma boa forma de evitar conflitos desnecessários e que em nada nos engrandecem é simplesmente não intervir. Saber escolher as nossas lutas. Nas redes sociais, a realidade pode ser editada, por isso não devemos dar demasiada importância a realidades fictícias.
O Instituto Universitário de Ciências Psicológicas, Sociais e da Vida (ISPA) fez um estudo que concluiu que o uso excessivo das redes sociais e da Internet “contribui para o sentimento de solidão”. Mas o sentimento de solidão pode passar despercebido: os utilizadores podem sentir que precisam de mais contactos online, mas, na verdade, isto só se torna num “ciclo vicioso de dependência das tecnologias de comunicação”.
É nisto que nos estamos a tornar? Uma sociedade só? Escondida? E sem perspectiva de mudança? Há problemas que exigem reacções, e não, não estou a referir-me aos likes. Muito menos quando falamos na saúde mental das gerações vindouras.