Ordem dos Médicos recebe mensagens de indignação por causa da Ecosado

Pediram aconselhamento à Ordem dos Médicos no sentido de indicar onde deviam fazer ecografias e se deviam repetir as ecografias já realizadas na Ecosado.

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PEDRO FAZERES

Cerca de 20 pais expressaram indignação em mensagens dirigidas à Ordem dos Médicos por causa do caso do bebé com malformações em Setúbal, tendo um pai feito um pedido de ajuda concreto devido a uma gravidez seguida na Ecosado.

O bastonário da Ordem dos Médicos (OM) disse à Lusa que as mensagens demonstram indignação e foram dirigidas principalmente pelos pais. “Também há casos de grávidas, mas foram basicamente os maridos que tomaram a dianteira. Ficaram preocupados, e bem”, disse o bastonário dos Médicos.

Segundo Miguel Guimarães, uma das mensagens era de um pai a manifestar preocupação com ecografias realizadas naquela clínica em Setúbal, onde o médico Artur Carvalho realizou ecografias à mãe do bebé que nasceu com malformações graves. “Uma das questões que se colocou era a dizer que estava a fazer as ecografias na Ecosado e que agora não sabia como havia de fazer”, disse Miguel Guimarães, porque tinha dúvidas se o médico tinha feito correctamente o exame.

Perante esta preocupação, o pai pediu aconselhamento à OM no sentido de indicar, por um lado, onde se devia fazer a ecografia e, por outro, se devia repetir as ecografias já realizadas, disse Miguel Guimarães.

“Grávidas podem ficar tranquilas”

A agência Lusa contactou especialistas no sentido de perceber o impacto que de casos como o do bebé que nasceu sem parte rosto pode ter em grávidas e se tem havido manifestações de preocupação por parte de famílias. “Em Portugal, a distribuição dos nossos recursos humanos e a sua qualificação é muito elevada e não podemos confundir um caso que ocorre marginal numa pequena situação com todo o universo da vigilância da gravidez em Portugal, que tem dos melhores indicadores quer obstétricos quer neonatais da OCDE”, disse o presidente do Conselho Regional do Sul da OM, Alexandre Valentim Lourenço.

Também médico obstetra no Hospital Santa Maria, Alexandre Valentim Lourenço afirmou que não tem havido “um afluxo anormal de grávidas ou de pais a pedirem informação suplementar, embora haja alguma preocupação”. “Muitas destas pessoas que estão a seguir uma gravidez têm uma boa relação com o seu médico assistente, o qual lhes dá muito tempo de atenção e têm resolvido com o seu médico assistente as dúvidas que, entretanto, possam ter surgido”, sublinhou.

O presidente da Sociedade Portuguesa de Obstetrícia, Luís Graça, afirmou, por seu turno, que as “grávidas podem ficar tranquilas”, mas disse compreender uma eventual preocupação. “Eu entendo que as grávidas, que mesmo sem haver este tipo de acontecimentos têm sempre alguma ansiedade relativamente ao seu bebé, agora fiquem bastante mais preocupadas”, afirmou o especialista, que exerce há mais de 40 anos.

No entanto, deve dar-se “uma palavra de tranquilidade, porque a maior parte dos locais onde se faz ecografia obstétrica é de qualidade média ou superior”. “A maior parte dos médicos que fazem ecografia obstétrica são pessoas com qualidade ou pelo menos são pessoas que têm a consciência das suas limitações e, portanto, se tiverem alguma dúvida mandam a outro lado”, salientou. Portanto, vincou Luís Graça, “as grávidas não têm que ficar completamente desaustinadas com o que sucedeu. Agora que é compreensível estarem preocupadas, sim”.

Alexandre Valentim Lourenço acrescentou que a OM pode assegurar que Portugal tem especialistas na área de obstetrícia de “elevada qualidade e que a vigilância da gravidez em Portugal é, por exemplo, de melhor qualidade do que no Reino Unido”, onde a maior parte das grávidas não têm acesso aos mesmos métodos complementares nem às ecografias que existem em Portugal.

Para o responsável, “é importante” preservar o que foi construído ao longo de 20 anos na área materno-infantil e “evitar que haja desregulação, falta de controlo e que se retorne a um passado, já um pouco antigo, de uma situação em que os indicadores e a assistência não eram tão bons”.

A linha SNS24, centro de contacto do Serviço Nacional de Saúde, não registou um acréscimo de contactos por parte de grávidas. “Não se registaram alterações no SNS 24, quer através do canal telefónico, quer digital, no que diz respeito à procura de temas como Gravidez/Gravidez e puerpério, saúde da mulher, guia da grávida ou interrupção Voluntária da Gravidez”, disseram os Serviços Partilhados do Ministério da Saúde.

Notícia actualizada às 19h30 com o número actualizado de queixas.