Râguebi na linha da frente da luta contra o match-fixing
Não tendo ainda qualquer episódio de combinação de resultados, o râguebi é claramente uma das modalidades que leva mais a sério a ameaça de combinação de resultados.
O Campeonato do Mundo de râguebi, o maior evento desportivo de 2019, disputa-se pela primeira vez na sua história em solo asiático. Um desafio enorme atendendo ao histórico fora do continente europeu, mas que a capacidade organizativa do Japão está a superar com distinção.
O râguebi orgulha-se, por vezes em excesso, dos seus valores e nomeadamente das suas diferenças com o seu rival de campo, o futebol. Mas é na verdade desportiva que râguebi pode continuar a orgulhar-se de estar na linha da frente. O TMO, o videoárbitro do râguebi, estreou-se em 2001 e continua a ser inspirador nomeadamente para o futebol.
Em matéria de integridade e, nomeadamente, em matéria de match-fixing, a federação internacional (World Rugby) e a sua equipa de integrity continuam a realizar um notável trabalho, sem tréguas, e igualmente inspirador.
Os números são claros e por muito que constituam uma enorme alavanca financeira para o desporto mundial, são também uma enorme ameaça. Estima-se que o mercado regulado de apostas no desporto a nível mundial represente anualmente 1,69 mil milhões de euros e a velha máxima “onde há jogo, há crime” obriga a um trabalho redobrado de pedagogia e prevenção.
Todas as selecções foram visitadas, já em território nipónico, e sensibilizadas para as consequências de eventuais apostas dos seus membros.
O râguebi não tendo ainda qualquer episódio de combinação de resultados, é claramente uma das modalidades que leva mais a sério esta ameaça. E o sinal foi dado de forma inequívoca. O treinador-adjunto da selecção galesa, Rob Howley, já em Kytakyushu, uma semana antes da estreia do País de Gales no Mundial foi afastado da competição por alegada infracção do artigo 6.º do regulamento da World Rugby.
Esta decisão, se por um lado demonstra a extraordinária e rápida reacção da World Rugby, mas por outro revela que há ainda um largo caminho a trilhar. Estamos perante uma das melhores selecções do mundo, altamente profissional, e, pelos vistos, a tentação ou desconhecimento podem ter destruído uma carreira imaculada.
E é esta a mensagem que o râguebi quis deixar. Ninguém é impune e todos podem ser vítimas.
As apostas vieram para ficar e o desporto profissional já percebeu a sua importância, atente-se à discussão nos EUA sobre a entrada das apostas na NCAA.
É certo que os regulamentos ainda não são uniformes sobre quem pode ou quem não deve. Acredito que os ventos do Oriente nos dizem que todos os intervenientes no desporto deviam estar impedidos de apostar, sob pena de qualquer dia de estarem a apostar sobre a sobrevivência da sua modalidade.
Rafael Lucas Pereira, Sports Integrity Agent