Marcelo recordou a Costa o que Governo deixou por fazer. E não foi pouco

O Presidente da República elogiou o excutivo que cessou funções na tomada de posse do XXII Governo neste sábado. Mas não deixou de lembrar o que muito ficou por fazer e apontou-lhe as dificuldades que vai encontrar.

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Marcelo na tomada de posse do Governo

Foi um dos discursos mais duros que Marcelo Rebelo de Sousa fez sobre o Governo. Na tomada de posse do novo executivo, este sábado de manhã, no Palácio da Ajuda, em Lisboa, o Presidente da República começou por dizer que o Governo ultrapassou as expectativas, mas, logo de seguida listou o que ficou por fazer.

Marcelo Rebelo de Sousa começou pelos elogios ao Governo que cessou funções, dizendo mesmo que teve resultados que “claramente superaram as expectativas então existentes” e “muitas das fortíssimas objecções internas e externas na altura formuladas”, mas logo de seguida acrescentou que os méritos não foram apenas do Governo.

“É certo que beneficiando de uma conjuntura internacional muito favorável e do contributo herdado em matéria de défice e de início do crescimento do Governo que o antecedera”, lembrando, assim, a governação de Pedro Passos Coelho.

Marcelo recordou ainda que a solução governativa encontrada por António Costa “logrou resistir aos sucessivos embates que a testaram”, apontando as “tragédias dos fogos florestais” e as “vicissitudes, algumas delas de peso, que ocorreram em domínios específicos da defesa ou segurança”.

O Presidente da República não deixou, porém, de acentuar que o Governo “deixou por resolver, ou resolver cabalmente, questões essenciais para o nosso futuro colectivo”. E lembrou quais: “Mais amplos entendimentos de regime, mesmo quanto ao sistema político vigente, ao combate à corrupção, à transparência e ao escrutínio colectivo. A durabilidade do crescimento e o equilíbrio das contas externas, o significativo avanço na produtividade e na competitividade e a maior equidade salarial.”

Marcelo não se ficou por aqui e lembrou ainda os problemas no “acesso em quantidade e qualidade a infra-estruturas e sistemas sociais, adicionais passos para a justiça atempada e, por isso, também mais justa, atenção redobrada aos estatutos das forças armadas e das forças de segurança, a superação de certas discriminações, que subsistem entre pessoas, funções e territórios” e a “equidade no tratamento de situações idênticas de servidores da causa pública”.

Logo de seguida, Marcelo Rebelo de Sousa apontou a António Costa as dificuldades que o futuro Governo vai encontrar. “Não terá uma tarefa fácil”, disse.

Dirigindo-se directamente ao primeiro-ministro, Marcelo afirmou que António Costa “sabe que não há recursos para tantas e tamanhas expectativas e exigências” dos portugueses e que os próximos tempos serão difíceis.

“E que o segredo da legitimidade do exercício deste Governo residirá na escolha, na hierarquização, na concentração e na clareza das respostas que entender ser possível dar”, acrescentou.

“Sabe que, mais do que nunca, será necessário agir com humildade no servir, com isenção e perseverança, com sobreposição do interesse nacional a interesses de pessoas e de grupos. Com proximidade aos portugueses, que impeça a sensação de afastamento entre os que governam e os que são a razão de ser desse governo”, continuou Marcelo. Rebelo de Sousa.

Disse ainda que o primeiro-ministro sabe “que preferiu uma fórmula governativa parcialmente, mas só muito parcialmente, nova para um quadro parlamentar em apreciável parte também novo” e que “concebeu uma orgânica e formou uma equipa à sua medida e com o seu traço especifico”.

“Sabe que muitos dos nossos concidadãos pensam que a este Governo se não aplica a situação da parábola das Bodas de Caná, na qual o segundo vinho era melhor do que o primeiro. E não obstante, há que admiti-lo, a história registe exemplos de tal feito”, acrescentou fazendo António Costa sorria.

Marcelo disse ainda ao primeiro-ministro que o Presidente da República “não muda de postura com resultados de eleições autárquicas, europeias ou parlamentares”. “O Presidente da República está onde sempre entendeu estar. Representante uninominal de todos os portugueses, institucionalmente solidário e cooperante com os demais órgãos do poder político. A garantir a estabilidade, salvaguardando em permanência a sua indeclinável missão de fusível de segurança do sistema de governo constitucional”, concluiu.

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