FMI diz que “ainda é possível um amplo crescimento”, apesar das guerras comerciais e do “Brexit”
A tensão comercial entre os EUA e a China foi um dos principais temas de discussão na reunião de Outono do FMI. A incerteza do “Brexit” também preocupa.
A reunião de Outono do Fundo Monetário Internacional terminou este sábado com um apelo ao crescimento global e ao termo dos conflitos comerciais que põem em causa esse crescimento, assim como a incerteza em torno do “Brexit”.
Os membros do Fundo Monetário Internacional (FMI), durante a assembleia geral de Outono, que encerrou este sábado, em Washington, Estados Unidos, debateram como aumentar a “pressão do grupo” sobre os países em confronto comercial, de modo a que melhorem e respeitem as regras globais do comércio, disse a directora-geral da instituição, Kristalina Georgieva, na conferência de imprensa de encerramento dos trabalhos.
A tensão comercial entre os Estados Unidos e a China foi um dos principais temas de discussão na assembleia do FMI, assegurou Georgieva, que não quer, no entanto, limitar as fragilidades no crescimento do comércio às “guerras de tarifas” entre Pequim e Washington.
“Todos sabemos muito bem que a economia actual é muito mais uma economia de serviços, de trocas electrónicas, áreas que os acordos comerciais [ainda] têm dificuldade em abranger”, afirmou.
Sobre o “Brexit”, Georgieva limitou-se a dizer, de acordo com as agências internacionais de notícias, que “encontrar uma solução poderia ajudar a reduzir as incertezas” que pesam na economia mundial.
“Há uma cadeia de custos e consequências, que vai das tensões comerciais à incerteza, daí à desaceleração do investimento, daí à desaceleração do crescimento, daí à potencial erosão do emprego e, a partir daí, à erosão da confiança do consumidor”, afirmou.
O comité de desenvolvimento do FMI recordou, por seu lado, que o crescimento está a diminuir, assim como o investimento e a actividade industrial, recordou ainda a instabilidade das trocas comerciais e alertou para as alterações climáticas, que estão “aumentar a vulnerabilidade dos países mais pobres”.
A boa notícia é…
“A boa notícia”, afirmou o presidente do Banco Mundial, David Malpass, “é que ainda é possível um amplo crescimento”.
“A cooperação multilateral é necessária para reduzir os conflitos comerciais”, disse Mario Draghi, no termo da sua derradeira reunião como presidente do Banco Central Europeu (BCE), recordando as novas tarifas norte-americanas, recém-aplicadas sobre produtos europeus, que vão de aviões da Airbus, a vinho, queijo e azeite.
Com um crescimento global esperado de 3%, o valor mais baixo desde a crise financeira de 2008, “não há espaço para erros políticos”, afirmou a economista-chefe do FMI, Gita Gopinath, quando foram reveladas as previsões do FMI, no início da semana.
Preocupações com criptomoedas
Além do comércio, os Estados-membros expressaram igualmente preocupação com o impacto potencial da criptomoeda do Facebook, esperada para 2020.
O G7, grupo dos sete países mais industrializados (Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Reino Unido, Itália e Japão), concordou na quinta-feira com a necessidade de estabelecimento de um quadro jurídico, como pré-requisito para o lançamento de moedas digitais.
Os riscos foram também assinalados pelos ministros das Finanças do G20, que querem uma avaliação de riscos, antes do lançamento.
A presidência japonesa do G20 também pediu ao FMI que examine as implicações macroeconómicas para os países membros.
Kristalina Georgieva assegurou hoje que o FMI está a ter “uma abordagem muito equilibrada” sobre o assunto, examinando benefícios (permitir que o maior número possível de pessoas aceda a serviços de pagamento) e riscos (ameaça à soberania).
“Pode haver abusos para fins ilegais e, no pior dos casos, para o financiamento do terrorismo”, reconheceu Georgieva, sobre as criptomoedas. Sublinhou, porém, a sua inevitabilidade. “Continuaremos a trabalhar com toda a consciência [dos riscos]”, acrescentou.
França, Itália e Alemanha disseram na sexta-feira que a moeda anunciada pelo Facebook não seria bem-vinda à Europa, e que tomariam medidas para impedir a sua entrada.
Quanto à reforma interna do sistema de quotas na organização, com implicações ao nível de votos, o Comité Monetário e Financeiro, principal órgão executivo do FMI, confirmou o prolongamento do processo de 2020 até o final de 2023. A decisão foi interpretada como uma tentativa de evitar um conflito com os Estados Unidos.
Washington teme uma reforma que dê maior peso à China e a outros mercados emergentes, na tomada de decisões dentro do FMI.