Oliver Letwin, o rebelde com causa que estragou o dia a Boris Johnson
Letwin foi um dos 21 conservadores expulsos do partido em Setembro por não apoiarem a promessa de Johnson de deixar a UE em 31 de Outubro com ou sem um acordo.
Receando que o Reino Unido deixasse a União Europeia sem um acordo, um deputado britânico planeou neste sábado uma estratégia para negar ao primeiro-ministro Boris Johnson o seu dia de glória no “Brexit”.
Oliver Letwin, de 63 anos, é um antigo ministro com a reputação de ser, ainda que não oficialmente, o homem que resolvia problemas no Governo de David Cameron, recorrendo à sua personalidade afável e ao conhecimento das regras para evitar desavenças no Parlamento. O “Brexit” deu-lhe fama de rebelde com causa: impedir um “Brexit” sem acordo.
A primeira sessão do parlamento de Westminster a um sábado em 37 anos devia ter votado o acordo de saída de Johnson sobre o divórcio com a UE, dando-lhe uma vitória onde a sua antecessora, Theresa May, falhou.
Porém, em vez disso, Letwin, expulso por Johnson do grupo parlamentar do Partido Conservador (como todos os conservadores que apoiaram a lei Benn, que obriga o Governo a pedir um adiamento até às 23h deste sábado para evitar uma saída sem acordo), aprisionou o primeiro-ministro numa armadilha legislativa.
Numa jogada que mostra o nível de desconfiança que existe nas trincheiras dos dois lados do “Brexit”, Letwin apresentou uma emenda de 26 palavras para retirar a Johnson a possibilidade de uma saída sem acordo, provocando o adiamento da votação do acordo negociado pelo primeiro-ministro em Bruxelas.
Letwin conseguiu 322 votos para a sua emenda, Johnson apenas 306.
O resultado virou de pernas para o ar o final que Johnson desejava para o “Brexit”, expondo o primeiro-ministro à humilhante obrigação de pedir à UE um novo adiamento da saída, até Janeiro de 2020.
“Não estou assustado ou consternado com este resultado em particular”, disse o primeiro-ministro. “Não vou negociar um adiamento com a UE, e a lei também não me obriga a fazê-lo.”
Um conservador pró-Brexit expressou sua frustração com o arquitecto da derrota: “Letwin é um pária”.
Depois de Johnson ter deixado o seu lugar na Câmara dos Comuns, a sua equipa anunciou planos para agendar a votação do acordo de saída na segunda-feira – o que pôs Letwin em alerta por outro possível conflito.
“Ao decidir hoje aprovar a emenda, a Câmara decidiu não permitir a saída até serem implementados todos os passos legislativos necessários”.
"Nação em risco"
Letwin foi um dos 21 conservadores expulsos do partido em Setembro por não apoiarem a promessa de Johnson de deixar a UE em 31 de Outubro com ou sem um acordo, e concentrou sua perspicácia parlamentar na prevenção de um “Brexit” sem acordo.
O deputado agora independente criticou Johnson por ter posto os legisladores perante este tipo de escolha: “sair com ou sem acordo”.
“Apesar de apoiar o acordo do primeiro-ministro, creio que não é responsável pôr a nação em risco fazendo ameaças”, disse Letwin no parlamento neste sábado, durante as três horas do debate.
A sua proposta visou fechar a brecha que podia levar os que defendem a linha dura do “Brexit” a votar no acordo já neste sábado, vetando depois a legislação necessária para o implementar, deixando o Reino Unido na rota de uma saída sem acordo no final do mês.
A emenda de Letwin diz que a aprovação do acordo no parlamento, necessária para ratificá-lo, deve ser retida até o Governo aprovar a legislação necessária para implementar o acordo de saída. E foi aprovada porque uniu deputados com motivações muito diferentes, dos que se opõem ao “Brexit” aos que desejam um segundo referendo, passando pelos que apoiam a saída mas apenas com acordo.
Embora a motivação da emenda fosse o medo da traição ao “Brexit”, a proposta despertou o mesmo sentimento entre os partidários do “Brexit” – que viram nela um plano para afundar a saída da UE num atoleiro legislativo.
“É uma emenda destruidora, que se esconde atrás da ideia de se opor ao ‘Brexit’ sem acordo na esperança de dar ao remainers do Parlamento a oportunidade de forçar um segundo referendo”, disse o conservador brexiteear Andrew Bridgen.
Por William James, Elizabeth Piper, Guy Faulconbridge, Janet Lawrence e Frances Kerry