Documentário Rios Urbanos mostra “oásis de biodiversidade” dos estuários do Tejo e do Sado

Realizador brasileiro espera que o documentário seja “o princípio do namoro entre os portugueses e a sua fauna marinha e fluvial”. A estreia está marcada para 2020, na conferência dos oceanos da ONU, em Lisboa.

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Cavalo-marinho no estuário do Tejo Ricardo Gomes
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Polvo no estuário do Tejo Ricardo Gomes
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Caboz no estuário do Sado Ricardo Gomes
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O realizador e biólogo marinho Ricardo Gomes Leandro Joras

As gravações para o documentário Rios Urbanos, realizado pelo biólogo marinho e realizador brasileiro Ricardo Gomes, estão concluídas. A equipa recolheu 30 horas de imagens que captam a biodiversidade marinha dos estuários do Tejo e do Sado e encontrou cavalos-marinhos amarelos, “polvos grandes, com dois ou três quilos” e também “muito lixo e plástico”. O documentário estreia em 2020, na conferência dos oceanos da ONU, que se realiza em Lisboa.

Ricardo Gomes espera que “este filme seja o princípio do namoro entre os portugueses e a sua fauna marinha e fluvial”. Em declarações ao PÚBLICO, o realizador esclarece que a mensagem do documentário de 26 minutos é inspirada na famosa frase do oceanógrafo francês Jacques-Yves Cousteau: “As pessoas protegem aquilo que amam.” E “o homem só ama aquilo que conhece”, completa Ricardo Gomes, que mergulhou perto de Loures, Seixal, Barreiro, Montijo, Alcochete, Almada ou Oeiras. O documentário é produzido pela Mocho Coxo e conta com o apoio institucional do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento.

Na zona do Outão, em Setúbal, Ricardo Gomes observou “um mosaico” com dezenas de espécies de corais e esponjas. “Já mergulhei na Indonésia e em vários locais do mundo e nunca vi uma profusão de vida tão intensa, colorida e diversa como vi no estuário do Sado.” O biólogo marinho encontrou também lesmas-do-mar, que produzem substâncias químicas que podem ser úteis no tratamento do cancro e de outras doenças. “Aquela é uma zona em que há muitos invertebrados marinhos e que representa um reservatório de ideias para o estudo dos compostos destas espécies”, explica ao PÚBLICO Gonçalo Calado, biólogo e professor da Universidade Lusófona, que aparece no documentário.

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Espécies de corais e de esponjas no estuário do Sado Ricardo Gomes

Na informação sobre este projecto lê-se que “é necessário encarar os nossos rios como uma extensão do oceano”. Cerca de 80% da poluição marinha tem origem em terra — incluindo oito milhões de toneladas de plástico por ano. Ricardo Gomes avisa que colocar os ecossistemas marinhos em risco “é assinar a sentença de morte da geração que está a nascer agora. “Não vou trabalhar para deixar um apartamento à minha filha. Vou trabalhar para lhe deixar um oceano saudável.”

Ricardo Gomes, que também é director da organização não-governamental Instituto Mar Urbano, filma e fotografa a biodiversidade marinha desde 1999. Em 2017 apresentou o documentário Baía Urbana, que mostra os ecossistemas da baía de Guanabara, no Rio de Janeiro. Esse documentário estreou-se na primeira conferência dos oceanos da ONU, em Nova Iorque, e foi distinguido pelo festival CineEco – Festival Internacional de Cinema Ambiental da Serra da Estrela, em Seia. “E assim conheci as pessoas que me disseram que talvez desse para fazer o mesmo trabalho no rio Tejo”, conta o biólogo.

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Água-viva no estuário do Tejo Ricardo Gomes

Levar o documentário às escolas

Os primeiros mergulhos de Ricardo Gomes no rio Tejo aconteceram em 2018 e deram origem a outro filme. Mar Urbano Lisboa estreou-se em Setembro de 2019 e foi realizado em conjunto com José Vieira Mendes. Ricardo Gomes apercebeu-se do potencial que tinha um trabalho sobre a vida marinha do rio Tejo, visto que só tinha passado “menos de uma hora no fundo do rio”. Como já tinha apresentado a Baía Urbana à ONU e ficou a saber da conferência sobre o oceano em Lisboa em 2020, Ricardo Gomes propôs-se fazer um novo documentário sobre os estuários do Tejo e do Sado.

As imagens para Rios Urbanos foram recolhidas entre Setembro e Outubro deste ano. Ricardo Gomes diz que as áreas de estuário são “ambientes riquíssimos, às vezes mais ricos do que o oceano” devido à deposição de sedimentos. “São zonas que os peixes procuram para se reproduzir e abrigar. No meio do oceano, não há esse contacto com os sedimentos e nutrientes que vêm dos rios”, sublinha.

“O documentário mostra zonas menos conhecidas que são oásis de biodiversidade e sustentam muitas actividades económicas”, refere Gonçalo Calado. O investigador trabalha na zona do estuário do Sado há 25 anos e aponta o excesso de pesticidas usados nos arrozais deste rio e as obras de acessibilidade marítima ao porto de Setúbal – que prevê a retirada de 6,5 milhões de metros cúbicos de areia do estuário do Sado – como duas das principais ameaças aos ecossistemas naquela área.

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Ricardo Gomes no estuário do Tejo Fátima Martins

Ricardo Gomes antecipa uma conversa “muito produtiva” sobre o documentário na conferência dos oceanos da ONU. “Vejo muita gente em Portugal a falar do desenvolvimento sustentável, mas permite uma cimenteira na serra da Arrábida ao mesmo tempo que quer transformar a Arrábida em monumento natural.” Depois da conferência, o realizador espera levar o documentário a “todas as escolas” portuguesas. “O filme está ser feito de uma maneira didáctica, para que todos entendam que o ar que respiramos e a água que bebemos são serviços prestados pelo oceano e pelos rios.”

Texto editado por Teresa Firmino

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