Quem tem boca vai a Roma. Ouviste, Alexa?
Indústria das viagens investe forte em tecnologia de voz para facilitar pesquisas, compras e estadias. O futuro será a viajar até que a voz nos doa.
Assistentes virtuais como Alexa e Google Home vão passar a ajudar-nos a comprar bilhetes de avião, reservar estadias, escolher destinos. Quem tem boca vai a Roma, diz o ditado. E a indústria do turismo aposta na tecnologia para que a voz humana é uma poderosa ferramenta de viagem.
Há novidades e exemplos para todos os gostos. A agência de marketing Simpleview, com sede no Arizona (EUA) e Londres (Reino Unido), por exemplo, vai lançar até ao final deste ano de 2019 uma aplicação que nos permitirá procurar destinos e informação relevante sobre viagens através de dispositivos activados por voz. Em vez de perguntarmos ao agente de viagens, passaremos a falar com assistentes virtuais como Alexa (Amazon), Google Home ou Cortana (Microsoft).
Falar ao coração
O nascimento destes assistentes, e de aplicações como a Siri (Apple), transformou o uso da voz num dos “temas quentes” do universo tecnológico. Mas até agora a indústria do turismo tem estado mais entretida com outros temas, como reconhece um dos altos responsáveis do grupo Expedia, principal concorrente do Booking e que detém alguns dos sites de viagens mais populares do mundo.
Em síntese: quem prepara uma viagem prefere uma imagem. Uma fotografia ou um vídeo transportam mais informação do que apenas a voz, escreve Arthur Chapin, num texto que publicou no fim de Setembro. Aplica-se outro ditado: uma imagem vale mil palavras. Fala mais alto ao nosso coração.
Porém, a popularidade mundial dos podcasts já demonstrou como o som e a voz têm lugar na mesa repleta de textos, fotografias e vídeos da World Wide Web. A entrada da voz no mundo das viagens tem sido de mansinho. Ainda assim, isso vai mudar. O futuro, promete a indústria, será a viajar até que a voz nos doa.
A aplicação da Simpleview, cuja versão beta será lançada nas próximas semanas, promete dar mais palco à voz. Richard Veal, responsável pelo braço europeu da Simpleview, frisou esta semana que os assistentes de voz “ainda não trabalham para o turismo e muitas vezes são incapazes de responder a perguntas sobre viagens”.
“Há anos que temos estado a fazer interfaces gráficos e visuais, mas fazer isto com voz é totalmente diferente. O desafio é perceber como é que vamos navegar pela informação através do som, da voz, de uma conversa, como desenterrar e apresentar o que é relevante”, destaca, em declarações desta semana ao site PhocusWire.
Esta agência está a reunir informação sobre destinos numa base de dados que, aliás, já está a alimentar cerca de 120 entidades e empresas de gestão turística no Reino Unido. Não vale a pena despedir já todos os funcionários nem desligar todos os bots, porque o caminho está praticamente no início, diz Richard Veal. “Há muitas formas de dizer: ‘O que se passa em Liverpool este fim-de-semana?’ e a inteligência artificial tem de ter a certeza sobre qual o sentido e quem fala.”
Siri, apaga a luz
Mais adiantadas estão outras aplicações de voz neste mundo das viagens. Há hotéis, por exemplo, que usam colunas inteligentes nos quartos para ajudar hóspedes a controlar a estadia ou responder a perguntas dos clientes. Instruções simples como fechar ou abrir cortinas, controlar a luminosidade ou a temperatura estão hoje a ser executadas a partir do processamento de voz.
Seja para descobrir a hora do nosso voo, encontrar a nossa bagagem, verificar a meteorologia, reservar estacionamento ou até abrir a porta do nosso quarto de hotel, a própria Siri, da Apple, tem a capacidade de se transformar num apoio ao viajante. A questão é que a Siri é, nestas situações, uma intermediária entre o utilizador e uma aplicação de uma empresa terceira.
Menos frequente é o caso do operador turístico que incorpora directamente a tecnologia de voz nos seus sistemas. A transportadora easyJet quer dar um exemplo e em breve vai introduzir uma funcionalidade desenvolvida pela Travelport para permitir pesquisas por voz. Anunciada em Setembro, está prestes a estrear-se, com tecnologia Google Cloud.
Tipicamente, diz a empresa, escolher e comprar um voo requer 12 cliques na app. Com a nova funcionalidade, a pesquisa tornar-se-á mais simples e mais inclusiva, sobretudo para quem tenha problemas de visão. Mas a compra continuará a ter de ser feita de forma manual, por agora.
O lançamento será apenas em inglês, nas próximas semanas, e só para ambiente iOS. A easyJet promete adicionar o Android e mais idiomas no início de 2020.