1 – É provável que a abstenção ronde os 50%. Como se esperava, os sucessivos apelos à participação eleitoral e o tom moralizador do Presidente não deram em nada. Já nas europeias, Marcelo tinha ensaiado a estratégia do puxão de orelhas. No sábado, reincidiu quando disse que não votar implica “perder autoridade para lamentar, para contestar, para recusar, o que, ao fim e ao cabo, seja resultado da apatia, do desinteresse ou do comodismo, dos que optem por não optar”. A mim parece-me que a inércia com que os políticos reagem aos sucessivos aumentos da abstenção lhes retira qualquer autoridade para lamentar e contestar. São eles que optam por não optar. No menu das coisas simples: voto por procuração, multiplicar as secções de voto para as tornar mais acessíveis e evitar as filas, alargar horários de abertura. O voto antecipado ainda está incipiente: obrigar as pessoas a deslocar-se às capitais de distrito pode desencorajar muita gente. Para além destas coisas simples – de tão simples, não percebemos como continuam na gaveta – há toda um mundo de possibilidades para mostrar aos cidadãos que vale a pena votar porque os votos contam. Por exemplo, listas abertas que permitem aos cidadãos influenciar a ordem dos nomes nas listas. Ou um círculo nacional que permita dar voz aos partidos que obtêm votos insuficientes em cada círculo eleitoral distrital, mas ainda assim têm uma expressão nacional considerável, como defendeu Nuno Garoupa numa série de artigos no PÚBLICO.
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