Violência aumenta nos protestos em Hong Kong

Membros do governo justificam a proibição do uso de máscaras e tentam passar a mensagem de que a praça financeira está estável, apesar de se estimar que tenham saído para Singapura quatro mil milhões em depósitos.

Fotogaleria
Montras de bancos chineses foram partidas SUSANA VERA/Reuters
Fotogaleria
Os manifestanets desafiaram a ordem a proibir as máscaras MIGUEL CANDELA/EPA
Fotogaleria
A polícia disparou gás pimenta e lacrimogéneo contra os manifestantes JORGE SILVA/Reuters
Carro
Fotogaleria
A violência voltou a aumentar nos confrontos entre manifestantes e polícia MIGUEL CANDELA/EPA
Fotogaleria
Algumas ruas foram barricadas MIGUEL CANDELA/EPA

Violentos confrontos eclodiram este domingo nas ruas de Hong Kong, quando dezenas de milhares de pessoas marcharam no centro da cidade desafiando a ordem de proibição do uso de máscaras para esconder o rosto.

À polícia disparou gás lacrimogéneo e usou bastões contra os manifestantes em várias zonas da cidade, os manifestantes atiraram pedras e bombas de petróleo à polícia, com a violência a eclodir ao cair da noite.

Depois de horas de marcha, debaixo de chuva, em Hong Kong e junto ao porto de Kowloon, numa série de manifestações pacíficas, a polícia começou a pedir às pessoas que recolhessem a casa, e a tentar dispersar a multidão argumentando que se tratavam de protestos ilegais e que os manifestantes estavam a bloquear estradas.

“Os membros do público são aconselhados a ficar nas suas casas e a manter as janelas fechadas”, disse em comunicado a polícia que se preparou para dois grandes protestos neste domingo e que receava uma repetição da noite de sexta-feira, quando a violência obrigou ao encerramento do principal centro financeiro da Ásia no sábado.

Horas depois de a chefe do governo da região chinesa de administração especial, Carrie Lam, ter invocado poderes de emergência que não eram usados há 50 anos, desde o período colonial britânico, para proibir o uso de máscaras, manifestantes de cara coberta incendiaram estações de metro, partiram vidros de bancos chineses e entraram em confronto com a polícia.

“A lei anti-máscaras alimenta a nossa fúria e mais gente veio para a rua”, disse Lee, uma estudante universitária se manifestou este domingo usando uma máscara azul. “Não temos medo e vamos continuar a nossa luta. Pus uma máscara para dizer ao governo que não tenho medo da tirania”.

Quatro meses de protestos mergulharam a região chinesa numa profunda crise política que constitui o maior desafio para o governo central em Pequim desde que Xi Jinping chegou ao poder, há seis anos.

O que começou como um protesto contra a proposta de lei da extradição transformou-se num movimento pela democracia contra o que é visto como o aumento da influência de Pequim na cidade, com vista ao controlo de todas as actividades, como acontece no resto do território chinês. Os manifestantes dizem que o princípio “um país, dois sistemas”, inscrito no acordo que passou Hong Kong da administração britânica para a chinesa, em 1997, não é cumprido e exigem liberdade de manifestação e eleições democráticas.  

O governo de Pequim diz que as acusações são infundadas e acusa governos estrangeiros de estarem a alimentar o protesto e os sentimentos anti-China no território, nomeadamente os Estados Unidos e o Reino Unido. 

Mas marchas deste domingo, ouviram-se palavras de ordem como “Revolta-te, Hong Kong” e “Luta pela liberdade”. Os protestos foram vigiados pela polícia, que filmou e fotografou os acontecimentos do dia em que algumas ruas pareciam campos de flores, devido aos chapéus de chuva coloridos. O chapéu-de-chuva é o símbolo de um protesto pró-democracia anterior, mas desta vez serviu também para abrigar os manifestantes da chuva que não parou de cair. E máscaras foram distribuídas aos participantes. 

À medida que o dia avançava, grupos de manifestantes começaram a atacar estações de metro e bancos chineses, como na sexta-feira o que levou à medida inédita de encerrar a rede de metropolitano.

Um balcão do China Construction Bank foi vandalizada este domingo e na fachada foi escrita a frase “Fora China”. Na estação de metro de Wan Chai, que está fechada devido à destruição de sexta-feira, foi colocado um pano a dizer “Entrada para o INFERNO”.

Os manifestantes arrancaram pedras da calçada, que usaram como munições contra os polícias que responderam também com gás pimenta.

O primeiro-secretário do governo de Hong Kong, Matthew Cheung, escreveu no seu blogue que se vive uma “situação precária” que pôs em causa a segurança pública e, por isso, foi houve outra opção a não ser proibir as máscaras. Pediu à população para se opôr à violência antes das eleições para eleger as lideranças distritais (Hong Kong está dividida em vários distritos) marcadas para 24 de Novembro.

Os quatro meses de protestos deixaram esta praça financeira asiática à beira primeira recessão numa década. Só entre Junho e o final de Agosto Hong Kong pode ter perdido quatro mil milhões de dólares em depósitos para a rival Singapura, estimou esta semana o grupo financeiro  Goldman Sachs.

O secretário financeiro do governo de Hong Kong, Paul Chan escreveu no seu blogue que apesar dos obstáculos, o sistema bancário e o mercado financeiro estão a funcionar bem. “Hong Kong não vai implementar controlo sobre as trocas de divisas. O dólar de Hong Kong pode ser trocado livremente e o capital pode entrar e sair livremente. Esta é uma garantia solene da Lei Básica”, escreveu, para acalmar os ânimos.