Nas juventudes partidárias, a política faz-se à moda antiga
Estarão os partidos a adaptar-se às formas alternativas que as gerações mais jovens encontram para fazer política? Os líderes das juventudes partidárias responderam num debate onde não faltou a velha política.
Na véspera das eleições europeias de Maio, apenas 3% dos portugueses entre os 15 e os 24 anos consideravam “extremamente provável” votar. A falta de representação expressada por estes eleitores, o “discurso engravatado” que apontam aos mais velhos e sobretudo as formas de participação cívica das gerações mais novas — que dão preferência a manifestações ou petições públicas —, são um desafio para os representantes partidários que querem conquistar o interesse dos jovens com novas estratégias. Mas estarão, de facto, os partidos a mudar o seu discurso para as gerações mais jovens? O tema juntou cinco dos seis dirigentes das juventudes partidárias dos partidos com assento parlamentar num debate promovido pela Antena 1 e Antena 3, que é transmitido este domingo, nas duas rádios, a partir das 12h15. A maioria dos líderes rejeitou generalizações, mas a presidente da Juventude Comunista atirou que “os partidos são todos iguais” ainda que depois tenha ressalvado que o seu partido “não é igual aos outros”. Em véspera de legislativas, a juventude não se discute sem campanha.
Da esquerda à direita, do Bloco de Esquerda ao CDS, a única ausência foi a do PAN. A justificação? O partido apresentou como representante dos jovens um membro com 34 anos, e os critérios do encontro estipulavam que os representantes dos jovens não ultrapassassem os 30 anos (a idade limite para ser candidato à liderança de uma juventude partidária).
O debate aconteceu na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa (Nova FCSH), num auditório lotado com alunos do primeiro ano dos cursos de Ciências da Comunicação (CC) e Ciência Política e Relações Internacionais (CPRI). Entre os presentes, contaram-se cerca de 40 alunos que nestas legislativas se estreiam como eleitores. Destes, apenas dez se diriam mais esclarecidos no final do debate. Do auditório chegaram algumas críticas: a falta de coerência e o discurso anti-adversário político — já presente nas juventudes partidárias — afastam os mais novos.
Margarida Balseiro Lopes, líder da Juventude Social Democrata e cabeça de lista do PSD por Leiria nestas legislativas, foi uma das vozes mais críticas do debate em relação à forma como se comunica e faz política actualmente: “Os partidos têm de perceber que mudou tudo no mundo: a forma como comunicamos, a forma como nos relacionamos e os nossos interesses. E os partidos continuam a comunicar como se estivéssemos em 1976.”
Campanhas de esclarecimento
“Aqueles comícios onde estão os cabeças de lista que falam e depois se vão embora deixam pouco. Estamos [o PSD] nesta campanha a apostar em campanhas de esclarecimento”, exemplifica. “Eu percebo que se façam arruadas – porque compreendo que se precise que se chegue a casa através das televisões. É muito importante estar nas redes sociais, mas continua a ser necessário o contacto pessoal. Mas isso não se faz numa arruada, onde estou dois segundos com uma pessoa e lhe dou um lápis. É indo bater como se faz com grande sucesso no Reino Unido” ainda que isso possa trazer recepções menos calorosas.
Maria Begonha, líder da Juventude Socialista (JS), rejeita que os jovens não queiram saber de política. “Achamos é que a política tem de dar respostas aos desafios dos jovens e às suas prioridades: habitação, educação e emprego.” Logo depois, a líder dos jovens socialistas, cuja candidatura dividiu a JS, aproveitou para olhar para a última legislatura. “Os níveis de confiança nas instituições aumentaram muitíssimo. Nos últimos quatro anos conseguiram dar-se passos para credibilizar as instituições”. “Uma coisa é dizer que existe uma falta de confiança e na qual temos de continuar a trabalhar. Outra coisa é dizer que temos uma geração atípica e que não luta por aquilo que quer.” Begonha admitiu que existe um “problema de representação” e por isso defendeu a existência de juventudes partidárias, discordando da perspectiva de Isabel Pires, deputada e representação do Bloco de Esquerda, o único partido com assento parlamentar sem uma ‘jota’ autónoma formalizada.
Por seu lado, a deputada bloquista acredita que representação dos jovens “pode ser garantida sem juventudes partidárias”. “Temos estruturas dentro do próprio partido que debatem questões mais relacionados com o ensino superior”, exemplificou. “A não-existência de uma ‘jota’ no Bloco de Esquerda coloca-nos todos a discutir em pé de igualdade, quer tenhamos 20 ou 60 anos.”
Jovens afastados
outro lado da mesa, Margarida Balseiro Lopes, líder da JSD, responde que o afastamento dos jovens da política “não é uma questão de opinião”. “Está provado em vários estudos. Os jovens estão afastados. O que importa discutir é o porquê. O que mais me custa é a generalização política. Nós não somos todos iguais. Mas o mau exemplo prejudica incomparavelmente mais do que dez casos de bons exemplos que vos possa dar. Isto descredibiliza a política.”
Por outro lado, aponta, “os partidos discutem coisas que não interessam às pessoas. Sem prejuízo da reforma do sistema eleitoral ser uma questão muito interessante, tenho dúvidas que seja isso que move as pessoas. O que é que interessa alguém que não tenha 600 euros para pagar um quarto, ou que não tenha vaga numa residência ou que não tenha um salário que lhe permite sair e casas dos pais, falar de ciclos uninominais?”.
“Os jovens muitas vezes associam a política aos partidos – e o problema começa logo aí”, analisa, lembrando que as gerações mais novas se apaixonem menos por ideias partidárias, mas mais por causas. E dá exemplos. “Os jovens apaixonam-se por causas. Um dos mais recentes exemplos em Leiria foi um grupo de jovens que se juntou após os incêndios. Ou que foi ajudar refugiados para outro país.”
A questão da participação alternativa dos jovens fez convergir alguns representantes. “Os jovens querem participar. Mas não querem participar como se participava há 20 anos. E isso não tem de ser necessariamente feito para os jovens, mas com os jovens”, apontou Isabel Pires, lembrando o movimento contra a crise climática e a greve feminista.
Interesses segmentados
Do lado da Juventude Popular, a opinião é a mesma, ainda que os dois representantes discordem da forma. “Hoje em dia os jovens segmentam mais os seus interesses, como o ambiente ou o artigo 13.º. Haverá abordagens de rua, mas procuramos sempre que a metodologia seja de 2019”, acrescentou Francisco Camacho, da Juventude Popular de Lisboa (CDS). Numa referência ao Bloco de Esquerda, que esta semana pintou um mural na parede do Instituto Superior Técnico, Francisco Camacho afirmou que não veremos a JP a “pintar murais de edifícios públicos, não estamos em 1976, há alternativas”.
Já Mónica Camacho, da Juventude Comunista (JCP), atribuiu as culpas do desinteresse juvenil às políticas do PSD, CDS e PS. “O PS vem agora cinicamente dizer que os jovens não querem participar e acham os partidos todos iguais. Pois são, todos iguais”, afirmou, apontando para o resto da mesa e causando ruído na sala. “Os partidos são todos iguais. O meu não é igual aos outros”, declarou.
“Há a imagem do PCP que é um partido velho, mas foi o primeiro partido a ter um site”, afirmou a comunista. “Estamos nas redes sociais onde partilhamos informação sobre onde estamos a pintar murais, faixas ou em campanhas de acção. Mas não vai ser no Instagram que alguém me vai dizer que a mãe tem dois empregos para conseguir pagar a propina. Temos uma campanha de massas e orgulhamos-mos disso”, vincou.
“As juventudes partidárias têm o papel de actualizar o discurso dos partidos”, defendeu Maria Begonha. “Mas as estratégias tradicionais vão continuar a existir. O contacto em campanha é importante, mas há uma pressão para manter os métodos de campanha tradicionais.”
Em jeito de conclusão, o painel concordou que a pluralidade trazida por novos partidos mostra que a política se torna mais complexa, mas que mais do que criticar importa apresentar alternativas. No entanto, tal não parece ter sido conseguido neste debate. Em cada 40 alunos, apenas 10 se disseram mais esclarecidos e preparados para votar.