“Era tão bonito. Tinha o areal atrás e íamos brincar para as dunas. E o mar estava muito longe”
Na semana que antecede a Cimeira das Nações Unidas dedicada às alterações climáticas, o PÚBLICO vai publicar diariamente um conjunto de trabalhos dedicados ao tema. Esta é a primeira de três reportagens que mostram o que já está a mudar em Portugal e como nos estamos a preparar para as mudanças anunciadas. Em Ovar, o areal recuou, ano após ano, até ser necessário demolir casas e construir estruturas defensivas. O processo de adaptação à nova realidade ainda está em curso.
Maria Joaquina Oliveira tem 77 anos, Sónia Costa, 41, mas ambas, sem se ouvirem uma à outra, acabam a citar a mesma frase: “Ele ainda tem de ir a Santa Maria da Feira buscar as conchinhas.” Ele é o mar, que se ouve mas não se vê da casa de Sónia Costa, no Conjunto Habitacional da Praia de Esmoriz, em Ovar, para onde se mudou há quase quatro anos. Antes morava numa das casas abarracadas construídas na primeira linha de costa, ali mesmo colada ao mar, com a areia a servir de cenário e de chão. Depois, ela e os vizinhos foram informados que viver ali já não era seguro, que o mar, que década após década se fora aproximando, podia agora reclamar o espaço a que chamavam casa. Ela já o sabia, sentia-o a cada Inverno. Saiu. Saíram 30 famílias. O ditado antigo que ela e a outra moradora da zona citam revela que há muito se esperava a subida das águas e que ela não deverá ficar por aqui.
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