Exercício físico não reduz risco de obesidade em crianças com variante genética
Cristina Padez, coordenadora do estudo da Universidade de Coimbra, avisa, ainda assim, que a actividade física continua a ser importante para a saúde das crianças.
Já se sabia que uma variante genética estava associada à obesidade na população em geral. Agora uma equipa da Universidade de Coimbra foi ver se a actividade física contrariava essa susceptibilidade nas crianças. A investigação publicada esta segunda-feira na revista American Journal of Human Biology concluiu que a actividade física não reduziu o risco de obesidade em crianças entre os três e 11 anos que têm essa variante genética.
“Surpreendentemente, verificámos que a prática de actividade física não atenua a influência do gene FTO no ganho de peso corporal em crianças, ao contrário do que se verifica em adultos, como demonstrámos num estudo anterior com jovens adultos portugueses”, afirma Licínio Manco, especialista em genética e primeiro autor do artigo, citado em comunicado da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC).
A investigação da equipa do Centro de Investigação em Antropologia e Saúde da FCTUC está inserida no projecto “Desigualdades na obesidade infantil: o impacto da crise económica em Portugal de 2009 a 2015”. É coordenado por Cristina Padez, que alerta: “A actividade física continua a ser importante para a saúde das crianças. Elas devem continuar a praticar exercício físico”.
O gene FTO (Fat mass and obesity-associated gene), situado no cromossoma 16, está associado ao excesso de peso desde 2007, como mostram um artigo publicado na revista Nature e outro na revista Science. Vários estudos, na última década, sobre a variante agora em foco na investigação da FCTUC já tinham demonstrado maiores níveis de associação entre essa variante do gene FTO (designada por rs9939609) e índices de massa corporal elevados em crianças, lembra o artigo da equipa portuguesa.
Esta variante genética consiste num chamado “polimorfismo de um único nucleótido” (SNP, na sigla em inglês), em que ocorre a troca de uma só “letra” (nucleótido) na molécula de ADN (composta pelas “letras” A-T e G-C).
Meninas e meninos
Agora a equipa de Cristina Padez confirmou, por um lado, que existe uma relação forte entre a variante genética em análise e o risco de obesidade abdominal em meninas, mas não em meninos. Por outro, verificou que nas crianças com essa variante o exercício físico não lhes atenua o risco de obesidade, ao contrário do que indicaram outros estudos.
“A obesidade abdominal é mais perigosa do que a obesidade geral”, explica ao PÚBLICO Cristina Padez, daí a relevância destes resultados.
A amostra era constituída por 440 crianças portuguesas – 213 meninas e 227 meninos – com idades entre os três e os 11 anos, de várias escolas públicas da região Centro do país. A actividade física foi medida com acelerómetros, colocados à cintura das crianças durante sete dias para verificar o tempo de actividade física.
Licínio Manco entende que estes resultados devem ser consolidados com amostras maiores e estudos longitudinais. “Existem alguns trabalhos que sugerem que a prática de actividade física pode atenuar a influência de alelos de risco na obesidade em crianças”, ressalva.
Texto editado por Teresa Firmino