Arouca e o esplendor da natureza
A leitora Maria Clara Costa partilha as suas descobertas pela natureza de Arouca, entre passadiços, pedras parideiras e uma história milenar.
O Mosteiro de Santa Maria, sua Igreja e o Museu de Arte Sacra, bem no centro da cidade, o Arouca Geopark, o Museu das Trilobites e os Passadiços do Paiva reúnem, em conjunto, e aliando a história à pródiga natureza, todas as condições para aqui se desfrutar de dias maravilhosos.
Começámos por visitar o Mosteiro, que data dos séculos XVII e XVIII, e uma boa parte do Museu, considerado um dos mais ricos da Península Ibérica. Depois de apreciarmos inúmeras obras de arte, a sala capitular, com lambril de azulejos setecentistas, o claustro, o cadeiral do coro monástico, pinturas e esculturas, seguimos, após o almoço, para a Cascata da Frecha da Mizarela, onde, galgando o rochedo granítico que lhe serve de leito, o rio Caima projecta-se numa queda com mais de 60 metros. É a maior cascata que existe em Portugal e uma das mais altas da Europa, se subtrairmos a Escandinávia e os Alpes
De seguida, dirigimo-nos a Castanheira, onde se encontra um dos geossítios mais emblemáticos do Arouca Geopark, fenómeno único no mundo. Os habitantes chamam a esta rocha “Pedra Parideira”, geologicamente designada por “granito nodular da Castanheira”. Na Casa das Pedras Parideiras (Centro de Interpretação) que contribui para a conservação e valorização deste geossítio de relevância internacional, assistimos a um elucidativo documentário 3D designado: “Pedras Parideiras: um tesouro geológico”. In loco, com alguma surpresa, pudemos observar o seu afloramento rochoso.
Antes de terminar o dia, eis o Centro de Interpretação e Investigação Geológica de Canelas, o Museu das Trilobites Gigantes (Crustáceo fóssil, marinho, característico da era primária, cujo corpo está tipicamente diferenciado em cefalotórax, abdome e pigídio, e dividido longitudinalmente em 3 lobos (ráquis e 2 pleuras). Este Museu, onde em Portugal se encontra exposta a mais importante colecção do género, bem como toda a sua envolvência, foi para mim uma grande e agradável surpresa.
No dia seguinte, esperava-nos a desejada aventura. Os Passadiços do Paiva, construídos ao longo da margem esquerda do Rio Paiva, com cerca de nove quilómetros de extensão, onde, em deleite, mergulhamos num autêntico santuário natural.
Em plena primavera, as margens são verdejantes, luminosas e, salpicadas que são por giestas de fresco e reluzente dourado, toda a paisagem nos parece generosamente bordada a oiro.
É difícil descrever o que os olhos vêem e o que a alma sente ao longo desta caminhada, ora num silêncio absoluto, ora ao som das águas que correm no rio, ou das que se precipitam da Cascata das Aguieiras.
Durante o percurso, vamo-nos cruzando com outros caminhantes que nos saúdam com ar feliz e sorridente. Um deles, jovem conhecedor da região, fala-nos do seu deslumbramento por tartarugas e sobre o habitat que para elas construiu na sua residência. Também nos esclareceu alguns aspectos relacionados com a fauna que paira naquela zona: cabras, que pousam para a foto, pássaros, lagartixas e o que não vemos, mas que, bem perto de nós, o restolhar revela a sua presença.
E é esta deliciosa harmonia entre fauna, flora, e a primavera com cheiro a rio, que nos projecta uma colorida tela, que ficará para sempre gravada na nossa memória.
Maria Clara Costa