António Costa: “Brexit” sem acordo é “altamente perturbador” e tem “consequências imprevisíveis”
António Costa diz que Boris Johnson lhe telefonou há duas semanas, “garantindo que, em qualquer caso, todos os direitos da comunidade portuguesa residente no Reino Unido estão assegurados e serão respeitados”.
O cenário de um “Brexit" sem acordo é visto pelo primeiro-ministro como de “consequências imprevisíveis” e “altamente perturbador”, mas apesar de tudo considera que Portugal está agora mais bem preparado para essa circunstância.
“A solução de um “Brexit" desordenado é um cenário mau para toda a gente (...) de consequências que serão seguramente imprevisíveis na sua totalidade, quer para o Reino Unido, quer para o conjunto da economia europeia, quer para o funcionamento do dia-a-dia da Europa”, diz António Costa, numa entrevista à Lusa na residência oficial, rodeado dos quadros da nova colecção de arte contemporânea que será aberta ao público no próximo dia 5.
Para o primeiro-ministro e líder do PS, o cenário será tão perturbador, que considera ser “um dever de todos contribuírem para evitar esse cenário até ao último minuto. Até agora sempre tem sido possível, espero que continue a ser possível evitar esse cenário, que seria extremamente negativo”.
“Até ao último minuto é sempre possível”, diz António Costa, que recorda que essa possibilidade depende em grande medida do Reino Unido. “Hipótese, creio, menos plausível é a União Europeia alterar a sua posição ou da Irlanda prescindir da existência do “backstop” (fronteira temporária com a Irlanda do Norte). Parece menos plausível e também menos razoável, visto que seria injusto ser a Irlanda a pagar as consequências de uma decisão unilateral do Reino Unido que nós todos respeitamos”.
O primeiro-ministro revela que o seu homólogo britânico, Boris Johnson lhe telefonou há duas semanas, “garantindo que, em qualquer caso, todos os direitos da comunidade portuguesa residente no Reino Unido estão assegurados e serão respeitados”.
Quanto a Portugal, estima que as medidas que foram organizadas no âmbito do plano de contingência em Maio, quando houve o risco de um “Brexit" sem acordo, prepararam o país.
“Nós temos preparados os cenários para a reposição das fronteiras e do controlo fronteiriço para a entrada dos britânicos em solo português”, destacou António Costa, concretizando os investimentos feitos designadamente nos dois aeroportos mais utilizados, Madeira e Faro, e as medidas adoptadas para o reforço dos controles fitossanitários e os controlos alfandegários.
Para o primeiro-ministro, não se pode, apesar disso, “diminuir a dimensão do risco e da penosidade que um “Brexit" desordenado vai necessariamente trazer em todos esses movimentos circulatórios”.
Ainda relativamente à Europa, António Costa manifesta-se muito elogiosamente em relação a Elisa Ferreira, apontada como a nova comissária europeia, e que “fará seguramente um grande lugar, que honrará Portugal”.
O primeiro-ministro reconhece no entanto como inviável a possibilidade de lhe ser atribuída uma vice-presidência: “o número de vice-presidências distribuídas pelas diferentes famílias políticas estão mais ou menos todas preenchidas, pelo menos no que diz respeito à família política socialista”.
Questionado sobre eventuais nomes ou perfis tanto para o cargo de vice-governador como de governador do Banco de Portugal, António Costa recusou-se a responder, considerando que essa é uma tarefa para o novo governo.