“O Bloco foi sempre a força da estabilidade ao longo deste tempo”, diz Catarina Martins
Catarina Martins insiste na legislação laboral como bandeira do programa eleitoral do Bloco de Esquerda e vinca que nos últimos quatro anos foram os bloquistas que mantiveram a estabilidade da governação.
Sobre os quatro anos da “geringonça” da esquerda e do papel do Bloco de Esquerda, Catarina Martins destacou a “clareza e a transparência” como “amigas da democracia” e vincou, em diferentes momentos, que o Bloco foi “o partido da estabilidade” da última legislatura. E diz mais. Catarina Martins diz que “o Bloco de Esquerda quer contas certas e não acha bem que o país tenha um défice que não se justifica”. Em entrevista à TVI, a líder bloquista respondeu às declarações recentes de António Costa — que afasta o Bloco de Esquerda de um cenário de estabilidade para o país — e sublinhou a intervenção dos bloquistas na governação do país, acusando o PS de ter sido responsável pelo trabalho que ficou por fazer.
Catarina Martins atirou para os socialistas os “avanços e recuos” das medidas discutidas e até a inteira responsabilidade de “uma crise artificial para chantagear a direita”, aquando da votação do diploma acerca do tempo congelado nas carreiras dos professores. “Durante quatro anos negociámos orçamentos de Estado e o PS disse publicamente que achou essas negociações boas”, recordou. “Com a força que tínhamos, influenciámos aquilo que podíamos. “[O resultado desta legislatura] Tinha de ser diferente? Tinha”, admite a coordenadora. Por isso, é peremptória na solução e apresenta uma meta eleitoral: “O Bloco de Esquerda precisa de mais 10%” dos votos nestas eleições legislativas [em 2015, o BE teve 10,22% dos votos].
“De acordo com o que foi escrito em 2015, este foi o caminho possível”, afirmou. A líder dos bloquistas apontou as “duas alturas mais complicadas” nos quatro anos de “geringonça” e deixou claro quem foi o partido responsável por essa instabilidade. O primeiro momento disse respeito a “expressamente uma linha vermelha”, quando o PS “tentou quebrar o acordo, descendo a contribuição das empresas para a Segurança Social”, afirmou Catarina Martins. “Tivemos cabeça fria, negociámos, e acabámos por achar uma medida bem melhor, mantendo o acordo”. A segunda, continuou a coordenadora, “foi uma chantagem que o PS decidiu fazer com a direita, criando uma crise artificial”, quando António Costa ameaçou demitir-se se a contagem integral do tempo de serviço dos professores fosse aprovada.
“Todos os acordos e as negociações que fizemos levámos até ao fim, de uma forma muito segura e muito clara, e se houve partido que teve ziguezagues e recuos volta e meia foi o PS, não foi o Bloco de Esquerda”, insistiu.
Evitando responder às perguntas sobre um novo acordo, Catarina Martins admitiu algumas condições para uma nova “geringonça": “um governo que seja capaz de uma legislação laboral que acabe com o abuso do trabalho temporário, que garanta salários dignos, que respeite quem trabalhou toda uma vida, que seja capaz de um SNS eficaz, de fazer o investimento que tem faltado ao país, é seguramente um governo também Bloco de Esquerda”.
Do programa eleitoral do Bloco de Esquerda, apresentado no último sábado, Catarina Martins destaca um investimento na legislação laboral, no aperto fiscal aos gigantes digitais, nomeadamente a Google e o Facebook, que, aponta a bloquista, “pagam menos impostos pela riqueza que geram neste país do que a mercearia do bairro” e na criação os impostos sobre as grandes fortunas com “um valor patrimonial superior a meio milhão de euros”.
Questionada sobre a continuidade de Portugal na moeda única (euro), Catarina Martins fugiu de uma resposta fechada e preferiu defender uma “discussão do euro”, afirmando que os desequilíbrios da União Europeia, nomeadamente com o crescimento do populismo e movimento xenófobos, se encontram directamente relacionados com as condições económicas dos países.
Sobre a estratégia alternativa defendida para a consolidação orçamental, que acredita estar a ser mal feita, Catarina Martins prefere apostar no crescimento económico do país como forma de conseguir as "contas certas".
Confrontada sobre a responsabilidade do Bloco de Esquerda no actual estado do Serviço Nacional de Saúde devido à falta de investimento, Catarina Martins respondeu que “se o Governo executasse o Orçamento aprovado, o Serviço Nacional de Saúde estaria muito melhor”, num recado para o ministro das Finanças, Mário Centeno.
“No afã de fazer números sucessivos de recordes de défice, o Governo tem vindo a adiar despesas que estão orçamentadas, que têm de ser feitas e, portanto, fora do âmbito da Assembleia da República”, acrescentou.
Já acerca da direita, Catarina Martins teceu poucos comentários. “Esta legislatura foi muito marcada pelo PS e pelos partidos à esquerda”, avaliou a líder bloquista, que apontou a ausência de “um programa político à direita”. “A direita apostou tudo no ‘diabo'”.