A independência da Escócia é “completamente inevitável”, diz Nicola Sturgeon
A primeira-ministra escocesa diz que há cada vez mais gente a aderir à “causa”. Líder conservadora escocesa deve demitir-se. Parlamento do País de Gales reúne de emergência para a semana.
A primeira-ministra escocesa, Nicola Sturgeon, disse esta quarta-feira que o primeiro-ministro britânico tornou a independência da Escócia “completamente inevitável”, ao suspender o Parlamento de Londres, uma decisão que considerou ser um pontapé na democracia.
“Este pode muito bem ser o dia em que a democracia morreu no Reino Unido e, quando olharmos para trás, pode muito bem ser o dia em que a independência da Escócia se tornou completamente inevitável”, disse Sturgeon ao jornal Heart Scotland News.
“Penso que o apoio à independência está a crescer a cada dia que passa. Respeito as pessoas que votaram ‘Não’ [no referendo à independência de 2014] , apesar de não concordar com elas, respeito as suas legítimas razões, mas sei que muitas estão agora a olhar para a situação no Reino Unido e a pensar ‘Não queremos fazer parte deste tipo de sistema'”, disse a primeira-ministra escocesa. “Penso que há cada vez mais convertidos a esta causa.”
Para Nicola Sturgeon, a justificação de que a suspensão do Parlamento é um procedimento normal é “absurda” e uma forma insultuosa de Boris Johnson impedir novos debates dobre o “Brexit” no Parlamento e um possível bloqueio por parte dos deputados a uma saída sem acordo.
O primeiro-ministro britânico, que esta quarta-feira enviou uma equipa de negociadores a Bruxelas, na tentativa de reabrir as negociações do acordo de saída que foi chumbado três vezes pelos deputados em Londres, disse ao tomar posse, em Julho, que vai concretizar o “Brexit” a 31 de Outubro, com ou sem acordo com a União Europeia. A data já foi alterada uma vez - a saída deveria ter acontecido no final de Março – devido à incapacidade de os deputados chegarem a um acordo sobre a forma de o fazer. Em causa está sobretudo o backstop, a cláusula no acordo que garante que no pós-"Brexit” não haverá fronteiras físicas entre as duas partes da Irlanda. Para os que são contra, esta cláusula mantém o Reino Unido preso às regras europeias.
Em 2014, a Escócia realizou um referendo à independência, tendo o “Não” vencido com 55% dos votos. Um referendo deste género tem que ser aprovado pelo Parlamento em Londres.
Num comunicado oficial, citado pelo jornal escocês The Herald, o Governo de Edimburgo afirma: “Este é um dia negro para a democracia. Tentar fechar o Parlamento para forçar a saída sem acordo é um ultraje e um ataque aos princípios básicos da democracia. Ao fazê-lo no quadro do que ainda é uma democracia parlamentar, Boris Johnson age mais como um ditador do que como um primeiro-ministro”.
O comunicado fala em “abuso de poder” por parte de Johnson e exorta-o a “ter a coragem de convocar eleições”. O texto diz ainda que esta posição do Governo reflecte o pensamento do Partido Nacional Escocês (no Governo), e de outros partidos no parlamento local, nomeadamente do Partido Conservador.
Na tarde desta quarta-feira, a líder conservadora escocesa, Ruth Davidson, que é contra uma saída sem acordo, anunciou que vai demitir-se. Segundo o jornal The Guardian, Davidson deve fazer o anúncio oficial ainda esta quarta-feira e justificar a decisão com divergências de fundo com Boris Johnson quanto ao “Brexit” e por razões pessoais (que se prendem com a sua condição de mãe).
“Seja o que for que aconteça, ficou claro que a Escócia não está bem servida com um sistema confuso e desintegrado em Westminster, e que o caminho do nosso futuro é sermos um país independente”, diz o comunicado do Governo.
No País de Gales, e na sequência da decisão de Boris Johnson, as férias parlamentares que deveriam terminar no dia 17 de Setembro foram suspensas e foi marcada uma sessão para discutir a crise política a 5 de Setembro.