Museu Salazar provoca “guerra” de petições
Há pelo menos quatro petições a propósito da criação do Museu Salazar em Santa Comba Dão. Mas Salazar motiva muitos abaixo-assinados. Há até quem queira cloná-lo.
A mais bem sucedida tinha cerca de 16300 assinaturas a meio da tarde desta sexta-feira e a havia uma com apenas 14, mas as várias petições a propósito do Museu Salazar (três a favor e uma contra) já conseguiram mais de 25500 signatários. Há ainda um abaixo-assinado dirigido ao primeiro-ministro a pedir a intervenção do Governo com 204 subscritores, todos ex-presos políticos que manifestam o seu “mais veemente repúdio” pela iniciativa.
Museu de Salazar, não!
A 16 de Agosto, quatro dias depois de os ex-presos políticos escreverem uma carta aberta a António Costa, personalidades como António Avelãs Nunes, José Barata Moura, Margarida Tengarrinha ou Pedro Adão e Silva criaram a petição “Museu de Salazar, não!”. O número de signatários tem vindo a aumentar a cada hora que passa, mas em menos de uma semana ultrapassado os 16300. “Os abaixo-assinados, conhecedores do que foi a ditadura do Estado Novo, manifestam, em nome próprio e no da memória de milhares de vítimas do regime – de que Salazar foi principal mentor e responsável –, o mais veemente repúdio pela criação do Museu Salazar, recentemente anunciado pelo presidente da Câmara de Santa Comba Dão”, lê-se no texto da petição. Os peticionários explicam ainda que apoiam a carta dirigida, a 12 de Agosto, ao primeiro-ministro “apelando ao Governo para que intervenha no sentido de impedir a concretização de um tal projecto que, longe de visar esclarecer a população e sobretudo as jovens gerações, se prefigura como um instrumento ao serviço do branqueamento do regime fascista (1926 - 1974) e um centro de romagem para os saudosistas do regime derrubado com o 25 de Abril”.
Museu Salazar, sim!
Por ordem de grandeza, em termos de signatários, surge a petição “Museu Salazar, sim!”, dirigida à Assembleia da República. Às 16 horas desta sexta-feira tinha quase 9100 assinaturas a exigir que não se deixe que uma “minoria ruidosa” apague a “memória histórica de um povo”. “Apoiando ou não apoiando a obra de Salazar e o que se passou durante o Estado Novo, todos temos o direito de conhecer os factos de forma isenta. Não aceitamos que aqueles que evocam constantemente o valor da liberdade se revelem inimigos dessa mesma liberdade quando ela não vai de encontro aos seus interesses”, lê-se na petição. Os signatários entendem que “património do Dr. Salazar é fundamental para o conhecimento da história do Séc. XX em Portugal” e é por essa razão que defendem a criação de um museu.
Centro Interpretativo do Estado Novo ('Museu Salazar'), SIM!
Datada de 19 de Agosto e assinada por menos de 150 pessoas, outra petição pede a criação de um Centro Interpretativo do Estado Novo ('Museu Salazar') e que é explicada num longo texto. Os destinatários são o primeiro-ministro e o Presidente da República. “Os abaixo-assinados, conhecedores do que foi a ditadura do Estado Novo, manifestam, em nome próprio, o seu repúdio das tentativas de impedimento da criação do Centro Interpretativo do Estado Novo em Santa Comba Dão e pedem ao senhor primeiro-ministro que não lhes dê seguimento”, começa por ler-se na petição. A seguir, é explicado que ainda ninguém conhece “o cariz exacto do museu (o qual ainda nem foi construído)” e que, por isso, “as várias petições, abaixo-assinados e pedidos” existentes terão como base a “falsa noção de que este museu procuraria criar um local de homenagem a Salazar”. Com esse argumentário, e insistindo que “Salazar não é uma figura consensualmente detestada na sociedade portuguesa” os peticionários solicitam a António Costa que “respeite a liberdade de expressão dos eleitores de Santa Comba Dão” e “observe a separação de poderes característica de um estado democrático, não envolvendo assim o Governo na disputa partidária que procura evitar que este Centro Interpretativo seja construído”. E concluem: “Nada seria mais hipócrita do que procurar proteger as vítimas do Estado Novo com recurso à mesma censura que as oprimiu.”
Museu Salazar, SIM!
Apenas 14 pessoas haviam assinado, à hora em que este artigo estava a ser escrito, mais esta petição a favor da existência de um Museu Salazar. O texto é escrito na primeira pessoa e apela à sensibilidade dos portugueses para que não deixem cair no esquecimento “tudo o que foi construído para trás”, durante o Estado Novo. “A ideologia existe e não é apagando a história que se combate o que quer que seja”, avisa o autor. O texto tem como destinatários o PCP, o Bloco de esquerda, a RTP, a TVI, a SIC, o primeiro-ministro, o Presidente da República, o PNR, e o Nós, Cidadãos!, por esta ordem. Nele se lê: “Por todos os motivos apresentados em declarações de militantes do PCP e ex-presos políticos venho aqui contestar e apelar a todos para que não permitam que este pedaço de História seja branqueado e apagado da memória de todos os portugueses. Todos os comentários e argumentos utilizados em prol do seu fecho vêm sem dúvida de pessoas cuja história não lhes diz nada e que, pelo facto de terem sido afectas a movimentos políticos contrários, não querem dar acesso a que outros a possam ver e ‘presenciar’”.
Outras petições: até para clonar Salazar
No site Petição Pública, onde estão alojados os textos antes referidos, há muitos outros abaixo-assinados relativos a Salazar. O motivo que mais frequentemente origina petições é a mudança do nome da Ponte 25 de Abril. Quase 4800 pessoas subscreveram um dos pedidos para devolver o nome à Ponte Salazar, lembrando que “a ponte não ficou com o nome, por vontade do próprio, antes foi uma homenagem ao próprio, decidida pelas pessoas que governavam o país, nos idos da década de 60”. Outras doze petições, com o mesmo objectivo, tiveram apenas 2700 signatários ao todo.
Há ainda quem peça a transladação de António de Oliveira Salazar para o Panteão Nacional; quem sugira a formação de uma nova formação política designada "Partido Uma Espécie de Salazar” (PUES); ou quem queira um referendo sobre uma eventual mudança de regime. A mais curiosa, no entanto, chama-se: “Queremos clonar António de Oliveira Salazar, o Obreiro da Pátria”. Dirigida à população em geral, a petição descreve um “homem de génio” que foi convidado pelos chefes militares para “resolver a grave situação política e económica que o país atravessava” e que “por doença, motivada ou acelerada por uma queda, teve de abandonar o poder”. Foi assinada por apenas 15 pessoas.