Medicamentos para Parkinson e epilepsia, sem alternativa, entre os que mais faltam nas farmácias
Só em Julho, havia 9,5 milhões de embalagens de medicamentos em falta em todo o país. “Crise das farmácias” pode explicar problema.
Apesar de o fenómeno ser mais intenso no interior do país, a indisponibilidade de medicamentos é transversal. Só em Julho deste ano, a Associação Nacional de Farmácias (ANF) contabilizou 9,5 milhões de embalagens em falta em todo o país. E haverá mais de dez medicamentos em falta sem terapêutica alternativa, avança o Correio da Manhã na edição desta terça-feira. Os doentes com Parkinson, epilepsia, diabetes e doenças cardiovasculares estão entre os mais afectados.
O problema não é de agora, mas está a agravar-se. Os dados de 2018 do observatório da ANF — criado há seis anos para monitorizar este problema — já mostravam que a falta de medicamentos reportada pelas farmácias tinham atingido valores recorde. Foram 64,1 milhões de embalagens de medicamentos que não puderam ser dispensadas no momento em que as pessoas as tentaram adquirir — o número mais elevado desde 2014, altura que o fenómeno começou a ser monitorizado.
No primeiro semestre de 2019 já estavam indisponíveis 46,9 milhões de medicamentos — o valor mais elevado desde 2014 e muito superior aos números de 2018 (27,5 milhões de embalagens).
"Crise das farmácias” pode explicar ruptura
Dos mais de nove milhões de embalagens indisponíveis, registaram-se 3.220.783 indisponibilidades de genéricos.
O Lorenin e o Xanax, dois ansiolíticos, estão no top 5 de medicamentos com mais embalagens em falta. No primeiro caso, a situação é mais grave em Coimbra, Guarda e Viseu, onde as falhas reportadas são superiores a 85%. No caso do Xanax, a indisponibilidade é maior em Faro (mais de 90%).
O top 5 fica completo com o Lasix, um diurético, o Yodafar, um suplemento de iodeto de potássio, e a Tansulosina, para sintomas urinários de hiperlapsia da próstata. O Sinemet, um medicamento usado para tratar os sintomas da Doença de Parkinson, e o Tramadol, um analgésico frequentemente receitado a doentes oncológicos, também estão entre os que mais faltam.
Ao nível distrital as principais carências vão oscilando. Pode consultar os medicamentos que mais faltam em cada distrito na tabela abaixo.
Porque é que isto acontece? Há várias razões, diz Tiago Galvão, director da ANF, em respostas escritas enviadas ao PÚBLICO por e-mail. “Entre elas, os baixos preços dos medicamentos, que tornam o mercado português pouco atractivo, problemas pontuais de produção, falta de liquidez e crise das farmácias (692 enfrentam, neste momento, processos de insolvência e penhora, o que corresponde a 24% da rede)”, explica.
O responsável acrescenta ainda que “é importante desenvolver ferramentas expeditas de comunicação entre os médicos prescritores e as farmácias, para evitar a interrupção de tratamentos e a sobrecarga dos serviços de saúde com consultas desnecessárias”.
Em comunicado enviado às redacções, a Apifarma - Associação Portuguesa da Indústria Farmacêutica faz saber que a indústria "assegura o abastecimento do país com os medicamentos necessários para a saúde dos portugueses”. Além disso, “as situações excepcionais de ruptura, por problemas a nível da cadeia de fabrico, em que se verifique uma incapacidade temporária de suprir as necessidades do mercado nacional, são atempadamente comunicadas à Autoridade Nacional do Medicamento e implementadas as respectivas medidas correctivas”.
A Apifarma reitera ainda que “não se justificam outras falhas temporárias de abastecimento e a impossibilidade de satisfazer momentaneamente uma dada prescrição médica”. “Com a entrada em vigor da mais recente alteração ao Estatuto do Medicamento — que clarifica as esferas de intervenção de cada um dos intervenientes na cadeia de abastecimento de medicamentos (fabricantes, distribuidores e farmácias) — a Apifarma irá manter, através do abastecimento de medicamentos no mercado nacional, o seu compromisso na garantia do serviço público essencial de acesso ao medicamento”, escreve a associação.