Oposição democrática e militares assinam acordo final para dividir poder no Sudão

O acordo assinado este sábado pela oposição democrática e os militares estipula que o poder será dividido nos próximos três anos, quando deverão ser realizadas eleições. Nos primeiros 21 meses um militar liderará o país e nos 18 que se seguirem será um civil.

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Nas ruas sudaneses, teme-se que os militares se possam agarrar ao poder, afastando os civis Reuters/MOHAMED NURELDIN ABDALLAH

A principal coligação da oposição e os militares do Conselho Militar de Transição assinaram este sábado um acordo para dividirem o poder nos próximos três anos, quando deverão ser realizadas eleições. Foi o resultado de meses de negociações e recuos, e até de uma brutal repressão dos manifestantes às mãos dos militares.

O acordo foi assinado entre Mohamed Hamdan Dagalo, vice-presidente desse mesmo conselho e comandante da Força de Apoio Rápido (FAR), milícia acusada de massacres no Darfur e espinha dorsal do antigo regime de Omar al-Bashir, e Ahmed al-Rabie, da Aliança para a Liberdade e Mudança, em Cartum. Na cerimónia estiveram presentes o primeiro-ministro etíope, Abiy Ahmed, e o Presidente do Sudão do Sul, Salva Kiir.

O acordo estipula que um militar, escolhido por ambos os lados, liderará o conselho, formado por cinco civis e seis militares, nos primeiros 21 meses, pelo que será depois substituído por um civil nos 18 meses que se seguirem. O documento também prevê um gabinete nomeado pela coligação, a constituição de um órgão legislativo e uma investigação independente ao massacre de dezenas de pessoas num ataque ao acampamento pró-democracia na capital sudanesa, nos primeiros dias de Junho.

O ditador Omar al-Bashir foi deposto por um golpe de Estado no início de Abril, liderado pelo ministro da Defesa e vice-presidente, Awad Ibn Ouf, depois de meses de protestos democráticos nas ruas da capital sudanesa. Foi detido e acusado de corrupção e posse ilegal de divisas e, nos corredores do poder, os militares formaram o Conselho Militar de Transição e confrontaram-se com a resistência dos manifestantes, que exigiam um Governo civil.

Os militares queriam um período de transição de longos meses sem civis, o que os manifestantes recusaram. Sem cederem, os chefes das forças armadas optaram pela repressão e atacaram o acampamento em Cartum, usando as FAR. E, nos dias que se seguiram, perseguiram dissidentes nos bairros da capital e arredores, com 40 corpos a serem encontrados no rio Nilo com blocos de cimento amarrados aos pés. Jornais foram encerrados e as redes sociais bloqueadas. O Sudão estava cada vez mais próximo de uma guerra civil. 

Os manifestantes não desistiram e pressionaram os militares, convocando protestos e greves gerais. Sem alternativa se não uma guerra civil, os dois lados voltaram à mesa das negociações, mediadas pela União Africana, e aceitaram partilhar o poder com a assinatura de um acordo preliminar em Julho e, no início deste mês, ao assinarem uma declaração constitucional que define os termos da transferência de poder. Porém, a assinatura do acordo final foi ora recebida com euforia ora com optimismo cauteloso. E um dos membros que se manterão no novo conselho será Mohamed Hamdan Dagalo, de quem se suspeita de ter ordenado o massacre.

Na cerimónia, os membros da coligação estavam “excitados” e a “cantar mesmo antes de o acordo ser assinado”, enquanto, nas ruas, a postura era mais cautelosa, explica a correspondente da Al-Jazira em Cartum, Hiba Morgan. “As pessoas dizem que estão cautelosamente optimistas. Estão preocupadas que o conselho militar possa atrasar a aplicação de algumas cláusulas ou encontrar forma de afastar os civis, agarrando-se ao poder”, disse a jornalista. 

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