Salvini deixa desembarcar 27 menores do Open Arms, “com desagrado”

Imigrantes salvos no mar por organizações humanitárias tornaram-se peões na crise política italiana. O ministro do Interior de extrema-direita agudiza a sua intransigência, mesmo com países da UE dispostos a receber as pessoas do navio que não deixa atracar em Lampedusa.

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Salvini e Conte tornaram-se inimigos, mas da troca de cartas resultou o desembarque de menores LUCA ZENNARO/EPA
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Até agora só desembarcaram doentes EPA

Após enorme pressão, e de uma violenta carta aberta do primeiro-ministro italiano, Giuseppe Conte, no Facebook, em que acusa o seu ministro do Interior de “desleal colaboração”, Matteo Salvini permitiu neste sábado que desembarquem os 27 menores desacompanhados que estão a bordo do navio Open Arms, impedido de atracar na ilha de Lampedusa pela Guarda Costeira italiana.

Há 16 dias que o navio está no mar com 134 migrantes resgatados no Mediterrâneo a bordo. Este sábado, o psicólogo Alessandro di Benedetto, que está a bordo do navio da organização não governamental espanhola Open arms, lançou um alerta: “A situação é insustentável, corremos o risco de viver uma tragédia”, disse ao El País.

Após tantos dias no mar, a ver terra mas proibidos de lá chegar, vendo que apenas pessoas que ficaram muito doentes foram autorizadas a desembarcar, os imigrantes estão no limite das suas forças, da sua resistência psicológica. Nas últimas horas, contou Benedetto, viu “comportamentos agressivos” entre alguns passageiros, causados pelo desespero. “Houve uma tentativa de suicídio e um pequeno grupo tentou atirar-se ao mar.”

A evacuação de pequenos grupos faz aumentar a raiva e a frustração dos que permanecem no barco, avisa. “Por um lado, dá esperança, mas por outro criam frustrações ao resto do grupo”, explicou o psicólogo ao El País.

Ainda assim, essa é a única via entreaberta pelo ministro do Interior italiano, Matteo Salvini, e mesmo assim a contra-gosto, no meio de uma crise política que deverá levar à queda do Governo, esta semana, após o debate uma moção de desconfiança contra Conte, lançada por Salvini.

“A escolha [de autorizar o desembarque dos menores] é exclusivamente do primeiro-ministro e pressupõe um precedente perigoso”, afirmou o ministro do Interior, após receber uma segunda carta do primeiro-ministro, desta feita privada, sobre a questão do Open Arms, relata o jornal Corriere della Sera. Salvini frisou que espera “novidades na segunda-feira”, relativamente ao recurso que apresentou da decisão de um tribunal de Roma para permitir a entrada do navio em águas italianas. E manteve o braço-de-ferro: sublinhou que não via com bons olhos o que considerava ser uma decisão de Giuseppe Conte. “Autorizo o desembarque dos menores com desagrado”, afirmou Matteo Salvini.

O ministro do Interior italiano, de extrema-direita, mantém esta posição apesar de, na quinta-feira, seis países europeus, entre os quais Portugal, se terem oferecido para receber os 134 migrantes a bordo do navio humanitário. A Comissão Europeia decidiu adiar o processo de distribuição dos migrantes enquanto Itália não deixar atracar o navio Open Arms.

Na sexta-feira, a Procuradoria de Agrigento, Sicília, abriu uma investigação por delito de sequestro contra desconhecidos para determinar por que razão os migrantes são impedidos de desembarcar, depois de a Guarda Costeira italiana, num documento enviado ao Ministério do Interior, ter pedido “urgentemente” uma solução para o caso e assegurado que “não vê nenhum tipo de impedimento” ao desembarque. Já neste sábado, a Procuradoria de Agrigento ordenou uma inspecção médica a bordo, para constatar as condições de higiene e saúde das pessoas a bordo.

Perto dali, entre Malta e o sul de Itália, está outro navio, desta feita dos Médicos Sem Fronteiras, o Ocean Viking, com 365 migrantes a bordo – também sem autorização de desembarque em porto europeu.

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