Comprar uma casa de dez milhões na Quinta do Lago passou a ser coisa banal

O preço dos lotes, nas zonas de turismo de luxo, atingem valores estratosféricos: mil euros/metro quadrado. Na Quinta do Lago, o terreno para construir uma moradia — daquelas que fazem capa de revistas — pode chegar aos três ou quatro milhões de euros.

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Adriano Miranda
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Demolir uma casa no valor de milhões, na Quinta do Lago, passou a ser vulgar entre gente rica. Quando a linha arquitectónica passa de moda, ou o espaço habitacional deixou de ser adequado às necessidades da vida moderna, a opção passa por mandar deitar abaixo e construir de novo. A justificação para a aparente excentricidade está no preço do lote – que chega a ser tão elevado, ou mais, do que o valor da construção. Neste resort de luxo paga-se o preço da fama e da especulação imobiliária.

A maioria dos proprietários deste empreendimento só lá passa férias e alguns talvez nunca tenham entrado nas casas que adquiriram. É o que se passa com o imóvel que se atribui a Madonna. A moradia associada ao nome da pop-star ocupa sete lotes, dois dos quais foram destinados à casa para o caseiro e instalações para guardar os equipamentos de jardinagem. “Dizem que é de Madonna, mas não sabemos”, diz o director técnico da Quinta do Lago, Paulo Bota, justificando: “A maioria das propriedades encontram-se registadas em nome de empresas offshore, desconhecendo-se quem os seus verdadeiros donos. No Verão, ter um Roll Royce estacionado à porta de uma dessas mansões é apenas mais um cartão-de-visita para quem gosta de dar nas vistas. Porém, sublinha Paulo Bota, “por norma, os nossos clientes são discretos e passam por anónimos cidadãos”

A construção clandestina, que se verifica um pouco por toda a região, está aqui sob forte escrutínio. O receio da desvalorização do património adquirido provocada pelo aparecimento de um qualquer mamarracho nas vizinhanças desencadeia reacções imediatas. Mas, por vezes, os casos surgem onde menos se espera. Em 2015, mesmo em frente ao lago central do resort, a câmara de Loulé detectou uma construção que “não estava a cumprir as normas legais e os regulamentos”, de acordo com a nota emitida pela autarquia. Além de não respeitar os limites urbanos definidos para o lote nº 30, o pé direito do edifício, em vez dos 6,5 metros de altura, licenciados, foi feito com mais um metro. Perante a desconformidade, a obra foi embargada pelo município. O promotor, face a isto, colocou a propriedade à venda. Quem a adquiriu foi o vizinho de trás (lote 26), receando perder as vistas de mar que desfrutava a partir do terraço da sua piscina. A opção não foi corrigir o erro - mandou deitar tudo abaixo. “É uma questão de preço”, observa Paulo Bota. O valor médio do terreno é mil euros/metro quadrados, sendo que o menor lote tem 1500 metros quadrados e a média situa-se entre os 2000/2500m2.

A novidade deste Verão, anuncia a Quinta do Lago, vai ser a inauguração um conjunto de 26 apartamentos, de rés-do-chão e 1º andar, a que chamou “a Reserva” da Quinta. Em cada habitação foi instalado um elevador e a zona de lazer está equipada com um jacuzzi com 20 metros quadrados. O apartamento mais barato, e já estão todos vendidos, custou 1,8 milhões e mais caro 2,7 milhões, adquiridos ainda na fase de projecto. Quando chegou à fase das revendas, saltaram paras os 3,2 milhões. Paulo Bota confidencia: “No dia em que apresentámos o projecto, um cliente comprou dois”.

Outro caso de negócios milionários é o da antiga casa de André Gonçalves Pereira - uma das mais antigas -, que entretanto foi demolida. Além dos dois lotes que já possuía, o novo proprietário adquiriu mais dois para ampliar o jardim. Pela tabela de preços praticada na zona, só o espaço que ocupa a habitação valerá oito a dez milhões de euros.

Note-se que as zonas ajardinadas deste tipo de vivendas consomem, em média, um milhão de litros de água por mês. Os espaços relvados prolongam-se até às bermas das vias públicas, como se fossem tapetes de alcatifa. Porém, numa altura em que os recursos hídricos estão a dar sinal de fadiga, por causa da seca, os ambientalistas questionam até que ponto este tipo de turismo é sustentável. De acordo com um estudo desenvolvido pelo Instituto Superior Técnico, sobre os padrões de consumo, a pedido da Infraquinta (empresa que gere as infra-estruturas do empreendimento), chegou-se à conclusão que as regas consomem cerca de 90% da água distribuída, mesmo no período de Inverno. O pico dos gastos ocorre entre as 4h00 e as 5h00 da manhã, quando entram em acção os aspersores nos jardins.

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